Entrada da "Cidade da Música", com com a sua rampa e os seus pilotis. Um "marco de paisagem", segundo seu criador, o arquiteto Christian de Potzamparc. (Foto Divulgação) |
CRITICA TEATRAL
IDA VICENZIA FLORES
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)
(Especial)
Próximo ao
Carrefour e ao Barra Shopping, passando pelo mergulhão da Av. Ayrton Senna,
entre (ainda) canteiros de obra – eis que chegamos à "Cidade das Artes" (Avenida das Américas, 5300), projeto
de Christian de Potzamparc, Prêmio Pritzker de Arquitetura, Berlim, 1994
(considerado o “Nobel” da arquitetura). Christian trabalha com dois
tipos de fundamentos básicos, em teoria por ele criada: o “marco de paisagem” e
a “clareira”. Podemos constatar que no prédio (concluído) da Cidade das Artes
há uma característica de “marco de paisagem” – pela grandiosidade da construção, localizada em uma bifurcação de estradas. Porém,
em se tratando da Barra da Tijuca, pode ser também uma “clareira”, ou seja, um
espaço ocupado - com seus limites definidos – em um matagal de edifícios! É sobre esse espaço que vamos falar. Calma! Falaremos, a seguir, de "Rock in Rio - o musical".
Ao entrar no terreno de Potzamparc somos
subjugados pelas rampas de acesso ao "monumento". Há duas rampas que o circundam e, pelo que nos foi possível constatar, elas se ligam a um plateau, construído em dois pavimentos. A vista total que temos da obra,
ainda na estrada, é a de um “marco de paisagem”, pois sua estrutura de concreto se
destaca na paisagem. Ela, a estrutura, é sustentada por um vão, no qual se
equilibram pilotis, dando leveza ao
conjunto. Há também algo semelhante a asas, no "movimento" do plateau, acima da construção. É um movimento sutil, e podemos
observá-lo olhando a Cidade das Artes ao longe.
Porém, ao entrar na “Cidade” é que nos
deparamos com, talvez, a marca registrada do arquiteto: o espaço de luz e
sombra. No teto, a um canto do primeiro pavimento, vemos clarabóias minúsculas
filtrando a luz (a visita foi feita durante o dia, desconheço o efeito noturno),
causando grande efeito. As formas arredondadas das paredes, com alguns
contornos, humanizam o concreto. Podemos
dizer que a sensação de vôo cobre também o interior do prédio, causando vertigem com suas transparências fixadas no solo. Para quem começou
sua carreira inspirado na “ Torre de Babel”(!) (primeiro trabalho de
Potzamparc), a “Cidade das Artes” é uma representante fiel de sua obra.
Ensaio do elenco de "Rock in Rio - o musical". (Foto de Cristiane Cardoso) |
No currículo da equipe principal temos uma
“mélange” de estilos e experiências. O diretor João Fonseca (premiado) paulista
vindo de Antunes Filho e passando por Abujamra, já nos deu várias oportunidades
para constatar seu amor ao teatro e sua maneira muito especial de atuar e
dirigir atores. Neste “Rock in Rio – o musical”, dramaturgia de Rodrigo Nogueira, um texto que nos parece bastante
visceral, impressão essa coroada pela interpretação de Lucinha Lins, como a
mãe em conflito de amor com o seu adolescente Alef. Guilherme Leme, o também
conhecido ator e diretor é, neste Rock in Rio, um produtor de musicais, pai de
Sofia (voz magnífica a de Yasmin Gomlevsky), que detesta música. Há também um
conflito entre eles.
É impressionante como os jovens
correspondem com maturidade ao que lhes é solicitado. No elenco, encabeçado por
Yasmin e Hugo Bonemer, temos com destaque Caike Luna como Geraldo (vem do
Paraná e tem longa experiência carioca); Daniele Falcone (Denise), praticamente
em início de carreira, mas já apresentando maturidade, posto que sua
experiência anterior é como garçonette-cantora do restaurante “Eclético”, o
mesmo que apresenta, nas noites de 5ª e sábados, às 22h, o “show dos garçons
cantores”. Quem sabe de lá não saem outros atores/cantores?
No elenco temos não só adolescentes:
Juliane Bodini (24 anos) é Bianca; Sheila Matos está no papel de Alice, e
Marcelo Nogueira, o grande intérprete de Chopin, em “Chopin e Sand”, é o
ensemble de Guilherme Leme. Também canta e atua. Todos os componentes do elenco
têm personagens e falas, assim o quis o autor Rodrigo. Não se está trabalhando
com coro, mas com personagens. Impossível citar a todos, mas essa é uma maneira
bem norte-americana (democrática) de fazer musicais. É uma boa ideia, e dá para
apreciar o talento dos atores. Sinto muito não poder citar a todos.
O espetáculo é dividido em duas partes, e
a apresentação dos cenários se desenvolverá, certamente, com os recursos
apresentados pelo multiespaço da “grande sala”. Na primeira parte haverá a
representação da universidade, da casa dos jovens e de uma loja de discos, com ações
e música. Haverá, certamente, a grande troca de cenários quando, no segundo
ato, a cena transformar-se-á em uma edição do “Rock in Rio”, (somente os gramados
e os camarins). Nello Marrese e Natália Lana são os responsáveis pelos
cenários. Figurinos multicoloridos de Thanara Schönardie. Paulo César Medeiros
faz a luz (imagino a apoteose desse espetáculo!) e Alex Neoral assina as
coreografias. Pela amostra que tivemos no último dia 18, “o canto dessa cidade
é meu” é pouco para relatar o que vem por aí. Haverá uma opening night, um “soft opening” para testar (a abertura oficial da casa será em março) no próximo dia 3 de
janeiro, avisa o presidente da Fundação Cidade das Artes, Emilio Kalil. Essa é uma
iniciativa da “Aventura Entretenimento”, a partir de um sonho do criador do
“Rock in Rio”, Roberto Medina, que desejou ver o seu festival em um teatro
musicado. Os “aventureiros” (no bom sentido) dessa empreitada, os empresários
Luiz Calainho, Anieta Jordan e Fernando Campos tornaram o sonho possível. Pelo
acerto da empreitada, o sonho não irá transformar-se – nunca! – em um pesadelo.
Tenham todos um bom espetáculo!