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sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

"AVENIDA REVEILLON"

Marcelo Vianna, Lucília de Assis, Nedira Campos e Ettore Zuim, brindando o "Avenida Reveillon"
(Fotos Divulgação) 


CRITICA TEATRAL
IDA VICENZIA FLORES
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro)
(Especial)

Casarão Ameno Resedá, já ouviram falar? É bem ali, na voltinha da rua Bento Lisboa, quem vai em direção ao Largo do Machado, no número 4. Lá havia um casarão abandonado que chamava a atenção de quem passava pelo seu precário estado, em tão  bela construção. Pois esse casarão foi reformado e voltou aos seus dias de esplendor, tempo em que brilhava, na vizinhança do Presidente da República, perto do Palácio do Catete.
     Hoje o casarão se chama Ameno Resedá, e foi inaugurado em março de 2012. O nome vem como uma homenagem ao rancho de carnaval que levava seu nome. É lá, neste Ameno, que podemos assistir a um musical “de bolso”, o “Avenida Reveillon – um musical em Copacabana”, todos os domingos de dezembro, com início às 19h. É quando o Ameno Resedá festeja seu Reveillon. Texto e direção do “Avenida” são da pesquisadora Fátima Valença e coreografia de Sueli Guerra.
     Trata-se, na verdade, de  um show de músicas brasileiras, idealizado por Fátima Valença, Manuela Trindade e Rodrigo Lessa. Segundo fui informada, as letras das músicas surgiram no decorrer da criação do espetáculo, escritas por Manuela e musicadas por Rodrigo. Fátima as uniu em um texto teatral. Deu certo. Ao mesmo tempo em que se conta a história de dois casais (que podem também ser mãe e filha, pai e filha, etc.), vão sendo contados os acontecimentos que podem mudar a trajetória de suas vidas. E as músicas vão emendando as ações.
     Nesta “vida interpretada no palco”, Marcelo Vianna é Agnaldo, o eterno noivo: porém pego de surpresa em outros “papéis sociais”. Tudo é uma grande brincadeira, semelhante a um folhetim, e quem leva a melhor, sempre, é a plateia, que se diverte. Lucília de Assis é a noiva, mas também pode ser a Princesinha mimada; Ettore Zuim, em vários papéis, canta e dança, mudando de personalidade: ora é Eliseu, depois Beto, ou o Padre que acaba casando o relutante par, e Julinho, o amigo. Nedira Campos é a mãe da noiva, Dona Nair, e também a saltitante carioca descolada, Suely, que transforma o final em um verdadeiro folhetim!
     Passamos momentos agradáveis assistindo a estes quatro atores que possuem o espírito da comédia. É bom, e é gostoso estar ali, no “Ameno Resedá”. Neste novo local pode-se conversar com os amigos, “antes do show” e, uma vez iniciado o espetáculo, a plateia, interessada, segue o caminho que vão tomando os acontecimentos no palco.
     Palco e plateia (com lugar para 250 pessoas) é também um ótimo local para “shows” solo de cantores, como Elza Soares, que já se apresentou por lá. Este musical,  “Avenida Reveillon”, canta  Copacabana, narrando os acontecimentos do bairro. Há um vídeo, elaborado por Vitor Damasceno e Gustavo Junqueira, dando o clima da encenação. A ação se passa no palco. Entretanto, algumas vezes os atores cantam ou dialogam incluindo as mesas da plateia em sua ação. O local parece ser idealizado para shows, porém demonstra que  tem estrutura suficiente para proporcionar um espetáculo teatral.
     Neste “Avenida” são ao todo 12  músicas, compostas por Manuela, cantadas e encenadas pelos atores, obedecendo à estrutura dada pela diretora. As cenas se alternam, sem maiores preocupações estilísticas, e há momentos de pura descontração. O espetáculo tem início com a valsa “Copacabana”, cantada por Ettore Zuim e acompanhada pelo elenco, para, a seguir, ouvirmos “Rame Rame”, na interpretação de Lucília de Assis e Marcelo Vianna, peça descompromissada, que conta o encontro e desencontro de casais. A seguir Lucília de Assis interpreta  “Princesinha Underline 86”, uma música brejeira. Nedira Campos mostra seu lado cantora interpretando com acerto duas canções: “Ponto de Cruz” e “Meio a Meio”, esta última em dueto com Marcelo Vianna, que interpreta um solo em “Domingueira” e “Cabeça de Porco”. Junto com Lucília de Assis, Vianna canta  “Xodó”.
     Enfim, são momentos de pura delícia, em que ora um, ora outro dos atores sobressai. Trata-se de um jogo bem equilibrado que passa uma emoção ingênua a quem o assiste. Muito bom. Há músicos interpretando, ao vivo: no Piano temos Antonio Guerra; Violão e Bandolim, Rodrigo Lessa; Sax, José Carlos Bigorna/ Alexandre Caldi; Bateria, Cassius Petherson; Contrabaixo, Luís Louchard. Como podemos comprovar, ao assistir um espetáculo no Ameno Resedá  somos convidados a momentos de pura descontração. É o Rio dos verdadeiros cariocas, que recebe um público heterogêneo. Neste local tão carioca há espaço para várias manifestações culturais brasileiras, em seu artesanato, pintura, etc. É um espaço privilegiado e, conforme vamos subindo as escadas até o salão, vamos nos surpreendendo com o prédio, registro de um tempo passado precioso. O visitante sente-se bem acolhido. Trata-se de um local onde o público pode assistir a um musical (de “bolso”, ou de “câmara”), de alta qualidade. É como diz Carlos Lessa, em seu livro “O Rio de Todos os Brasís”, podemos sentir a “união da sofisticação com a informalidade”. Neste “Avenida Reveillon” podemos reencontrar o “carioca da gema”, cada vez mais ausente em nossos espetáculos.            

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