Marcelo Vianna, Lucília de Assis, Nedira Campos e Ettore Zuim, brindando o "Avenida Reveillon" (Fotos Divulgação) |
CRITICA TEATRAL
IDA VICENZIA FLORES
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro)
(Especial)
Casarão Ameno
Resedá, já ouviram falar? É bem ali, na voltinha da rua Bento Lisboa, quem vai em
direção ao Largo do Machado, no número 4. Lá havia um casarão abandonado que
chamava a atenção de quem passava pelo seu precário estado, em tão bela construção. Pois esse casarão foi reformado
e voltou aos seus dias de esplendor, tempo em que brilhava, na vizinhança do
Presidente da República, perto do Palácio do Catete.
Hoje o casarão se chama Ameno Resedá, e
foi inaugurado em março de 2012. O nome vem como uma homenagem ao rancho de
carnaval que levava seu nome. É lá, neste Ameno, que podemos assistir a um
musical “de bolso”, o “Avenida Reveillon – um musical em Copacabana”, todos os
domingos de dezembro, com início às 19h. É quando o Ameno Resedá festeja seu
Reveillon. Texto e direção do “Avenida” são da pesquisadora Fátima Valença e coreografia
de Sueli Guerra.
Trata-se, na verdade, de um show de músicas brasileiras, idealizado por
Fátima Valença, Manuela Trindade e Rodrigo Lessa. Segundo fui informada, as
letras das músicas surgiram no decorrer da criação do espetáculo, escritas por Manuela e musicadas por Rodrigo. Fátima as uniu em um texto teatral. Deu certo. Ao mesmo tempo em
que se conta a história de dois casais (que podem também ser mãe e filha, pai e
filha, etc.), vão sendo contados os acontecimentos que podem mudar a trajetória
de suas vidas. E as músicas vão emendando as ações.
Nesta “vida interpretada no palco”, Marcelo
Vianna é Agnaldo, o eterno noivo: porém pego de surpresa em outros “papéis
sociais”. Tudo é uma grande brincadeira, semelhante a um folhetim, e quem leva
a melhor, sempre, é a plateia, que se diverte. Lucília de Assis é a noiva, mas
também pode ser a Princesinha mimada; Ettore Zuim, em vários papéis, canta e
dança, mudando de personalidade: ora é Eliseu, depois Beto, ou o Padre que
acaba casando o relutante par, e Julinho, o amigo. Nedira Campos é a mãe da
noiva, Dona Nair, e também a saltitante carioca descolada, Suely, que transforma
o final em um verdadeiro folhetim!
Passamos
momentos agradáveis assistindo a estes quatro atores que possuem o espírito da
comédia. É bom, e é gostoso estar ali, no “Ameno Resedá”. Neste novo local pode-se
conversar com os amigos, “antes do show” e, uma vez iniciado o espetáculo, a
plateia, interessada, segue o caminho que vão tomando os acontecimentos no
palco.
Palco e plateia (com lugar para 250
pessoas) é também um ótimo local para “shows” solo de cantores, como Elza
Soares, que já se apresentou por lá. Este musical, “Avenida Reveillon”, canta Copacabana, narrando os acontecimentos do
bairro. Há um vídeo, elaborado por Vitor Damasceno e Gustavo Junqueira, dando o
clima da encenação. A ação se passa no palco. Entretanto, algumas vezes os
atores cantam ou dialogam incluindo as mesas da plateia em sua ação. O local
parece ser idealizado para shows, porém demonstra que tem estrutura suficiente para proporcionar um
espetáculo teatral.
Neste “Avenida” são ao todo 12 músicas, compostas por Manuela, cantadas e encenadas pelos atores, obedecendo à estrutura dada pela diretora. As
cenas se alternam, sem maiores preocupações estilísticas, e há momentos de pura
descontração. O espetáculo tem início com a valsa “Copacabana”, cantada por Ettore Zuim e acompanhada pelo elenco, para, a seguir, ouvirmos “Rame Rame”, na interpretação de Lucília de Assis
e Marcelo Vianna, peça descompromissada, que conta o encontro e desencontro de
casais. A seguir Lucília de Assis interpreta “Princesinha Underline 86”, uma música brejeira. Nedira Campos mostra seu lado cantora interpretando com acerto duas
canções: “Ponto de Cruz” e “Meio a Meio”, esta última em dueto com Marcelo
Vianna, que interpreta um solo em “Domingueira” e “Cabeça de Porco”. Junto com Lucília
de Assis, Vianna canta “Xodó”.
Enfim, são momentos de pura delícia, em
que ora um, ora outro dos atores sobressai. Trata-se de um jogo bem equilibrado
que passa uma emoção ingênua a quem o assiste. Muito bom. Há músicos interpretando,
ao vivo: no Piano temos
Antonio Guerra; Violão e Bandolim,
Rodrigo Lessa; Sax, José Carlos
Bigorna/ Alexandre Caldi; Bateria,
Cassius Petherson; Contrabaixo, Luís
Louchard. Como podemos comprovar, ao assistir um espetáculo no Ameno Resedá somos convidados a momentos de pura
descontração. É o Rio dos verdadeiros cariocas, que recebe um público
heterogêneo. Neste local tão carioca há espaço para várias manifestações culturais brasileiras, em seu artesanato, pintura, etc. É um espaço privilegiado e, conforme vamos subindo as escadas até o salão, vamos nos surpreendendo com o prédio, registro de um tempo passado precioso. O visitante
sente-se bem acolhido. Trata-se de um local onde o público pode assistir a um musical
(de “bolso”, ou de “câmara”), de alta qualidade. É como diz Carlos Lessa, em
seu livro “O Rio de Todos os Brasís”, podemos sentir a “união da sofisticação
com a informalidade”. Neste “Avenida Reveillon” podemos reencontrar o “carioca
da gema”, cada vez mais ausente em nossos espetáculos.
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