Oristânio, Bruno e Faerstein em "Gertrude Stein, Alice Toklas e Pablo Picasso", de Alcides Nogueira. Foto: Daniel Delmiro. |
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
Finalmente
foi dado ver, aos retardatários, Gertrude Stein e Alice Toklas em seu amor "que
se abre como uma orquídea". Dessa vez, temos Barbara Bruno em vez de
Antonio Abujamra, e Pablo Picasso em vez de Helene. Mas a história corre, como
um bom teatro paulista. Palavrões, ironia, citações e armadilhas. Nada falta
nesta confusão pantagruélica!
Há
momentos que Guiseppe Oristâneo traz Picasso para o palco; que Gertrude Stein,
insaciável (e irônica), ressurge em Barbara Bruno. O brilho da inteligência não
cansa, e ficamos imaginando quão loucos deviam ser aqueles encontros da dita
geração maldita que se reunia na Rue des Fleurus.
Não
sei se propriamente loucos, mas muito cheio de bebidas e vontades. Ai de mim,
que no final da vida tenho que enfrentar esta saraivada de citações bombásticas.
Não as cito: quem viver verá. O que me salva é a abertura com a música
andaluz-andreiana que me faz ferver o sangue! Estamos preparados para o que der
e vier. E viva España! Ah! Temos uma Alice Toklas perfeita, "a própria
sombra", em Sabrina Faerstein.
A
direção desta vez é de Barbara Bruno e Paulo Goulart Filho. E a impressionante figura de Maria Bonomi (vê-la
trouxe a alma do espetáculo) subindo ao palco, trabalhando com eles, fazendo cenário
e figurinos. Ela poderia facilmente ser uma das freqüentadoras da Rue des Fleurus.
Apaixonante figura.
Mas
vamos ao espetáculo: Como faz Alcides Nogueira para submergir seu texto com
alguma facilidade naquele mundo, embora aquele mundo nascente queira fugir-lhe
das mãos, em idas e vindas que só o teatro pode dar. Não é fácil captar o nascimento de uma geração
de artistas que vai dar a luz a algo novo. Mas Nogueira nos inquieta. Às vezes
as dores do nascimento são regidas por Picasso. Ele é o "macho", apresentando
a sua fragilidade: e aí surge o que todos nós sabemos daqueles tempos: cubismo,
escrita espontânea, e os caligramas.... e muito mais.
Gertrude
Stein não se dilacera: ela ama. Não me refiro a seu amor por Alice Toklas,
refiro-me a seu amor à vida. Para um público inteligente, é a melhor das
medidas. E Apollinaire: "Des amis em toute saison/ Sans lequels je ne peux
pas vivre". Só faltou a sua presença...mas ele foi muito citado.
Ficha
técnica: dois gênios (perdão) comandam a ficha técnica: Maria Bonomi em
figurinos e cenário e André Abujamra na música original deste Gertrude Stein.
Luz: Daniela Sanchez; Foto: Daniel Delmiro; Produção Executiva: Wagner Uchoa; Locução: Antonio Abujamra? O texto, muito inteligente,
aproveita para envolver, em rapidíssimos lances, nosso tempo e o nosso país. Vamos
lá, gente, reviver este passado/presente que nos trouxe o presente (nas artes).
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