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quarta-feira, 5 de novembro de 2014

GERTRUDE STEIN, ALICE TOKLAS E PABLO PICASSO

Oristânio, Bruno e Faerstein em "Gertrude Stein, Alice Toklas e Pablo Picasso", de Alcides Nogueira.
Foto: Daniel Delmiro.
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
Finalmente foi dado ver, aos retardatários, Gertrude Stein e Alice Toklas em seu amor "que se abre como uma orquídea". Dessa vez, temos Barbara Bruno em vez de Antonio Abujamra, e Pablo Picasso em vez de Helene. Mas a história corre, como um bom teatro paulista. Palavrões, ironia, citações e armadilhas. Nada falta nesta confusão pantagruélica!
Há momentos que Guiseppe Oristâneo traz Picasso para o palco; que Gertrude Stein, insaciável (e irônica), ressurge em Barbara Bruno. O brilho da inteligência não cansa, e ficamos imaginando quão loucos deviam ser aqueles encontros da dita geração maldita que se reunia na Rue des Fleurus.
Não sei se propriamente loucos, mas muito cheio de bebidas e vontades. Ai de mim, que no final da vida tenho que enfrentar esta saraivada de citações bombásticas. Não as cito: quem viver verá. O que me salva é a abertura com a música andaluz-andreiana que me faz ferver o sangue! Estamos preparados para o que der e vier. E viva España! Ah! Temos uma Alice Toklas perfeita, "a própria sombra", em Sabrina Faerstein.
A direção desta vez é de Barbara Bruno e Paulo Goulart Filho.  E a impressionante figura de Maria Bonomi (vê-la trouxe a alma do espetáculo) subindo ao palco, trabalhando com eles, fazendo cenário e figurinos. Ela poderia facilmente ser uma das freqüentadoras da Rue des Fleurus. Apaixonante figura.
Mas vamos ao espetáculo: Como faz Alcides Nogueira para submergir seu texto com alguma facilidade naquele mundo, embora aquele mundo nascente queira fugir-lhe das mãos, em idas e vindas que só o teatro pode dar.  Não é fácil captar o nascimento de uma geração de artistas que vai dar a luz a algo novo. Mas Nogueira nos inquieta. Às vezes as dores do nascimento são regidas por Picasso. Ele é o "macho", apresentando a sua fragilidade: e aí surge o que todos nós sabemos daqueles tempos: cubismo, escrita espontânea, e os caligramas.... e muito mais.
Gertrude Stein não se dilacera: ela ama. Não me refiro a seu amor por Alice Toklas, refiro-me a seu amor à vida. Para um público inteligente, é a melhor das medidas. E Apollinaire: "Des amis em toute saison/ Sans lequels je ne peux pas vivre". Só faltou a sua presença...mas ele foi muito citado.      

Ficha técnica: dois gênios (perdão) comandam a ficha técnica: Maria Bonomi em figurinos e cenário e André Abujamra na música original deste Gertrude Stein. Luz: Daniela Sanchez; Foto: Daniel Delmiro; Produção Executiva: Wagner Uchoa; Locução: Antonio Abujamra? O texto, muito inteligente, aproveita para envolver, em rapidíssimos lances, nosso tempo e o nosso país. Vamos lá, gente, reviver este passado/presente que nos trouxe o presente (nas artes).    

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