Elenco de "A Reunificação das duas Coreias", de Joël Pommerat, direção de João Fonseca. (Foto: Victor Hugo Cecatto) |
domingo, 31 de julho de 2016
"A REUNIFICAÇÃO DAS DUAS COREIAS"
sexta-feira, 22 de julho de 2016
"TERRA PAPAGALLI"
"Terra Papagalli", direção Marcelo Valle. Na foto André Rosa (Cosme Fernandes) e Sarah Lessa (Terebê, a filha do cacique) (Foto Luca Ayres) |
Cena de "Terra Papagalli". Na foto, André Rosa e Felipe Frazão. (Fotos Luca Ayres) |
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos
de Teatro - AICT)
(Especial)
TERRA PAPAGALLI, de José Roberto Torero e Marcus Aurelius Pimenta, atualmente em cartaz no teatro Sesc Copa, é uma fantasia ficcional criada em torno dos degredados portugueses, os condenados que vieram aportar nas praias brasileiras junto com Cabral e suas caravelas. Sobre essas personagens verídicas de vida tão nebulosa que por aqui foram deixadas nos idos de 1500, pouco ou quase nada se sabe. Marcelo Valle é o diretor desse episódio da vida nacional, inspirado no livro de Torero e Pimenta. Trata-se de uma comédia que ficará na historia.
Meu Deus, é nós, o que poderíamos dizer dessa Terra dos Papagaios que é esse nosso Brasil? No mínimo, o espetáculo que é levado em cena no Sesc Copa é um marco tão importante como o foi, em seu tempo, a estréia de "O Rei da Vela"! Não exagero. Falta-lhe apenas o burilar dos anos. Porém é um marco. Inova, em todos os sentidos, a cena teatral, e se "atira", voluptuosamente, na imaginação do que "deve ter sido", a chegada desse bando de degredados portugueses na Terra de Santa Cruz! São 11 atores, enlouquecidos - e no auge de sua juventude - a nos transmitir a loucura que foi o desembarque dos degredados chegados a essa terra, os degredados "de Cabral". O horror, o pânico da chegada pega o público desprevenido, e leva ao inesperado! Somando-se a tudo isso, a precisão da entrada dos índios: e fica assegurada a força do espetáculo.
Meu Deus, é nós, o que poderíamos dizer dessa Terra dos Papagaios que é esse nosso Brasil? No mínimo, o espetáculo que é levado em cena no Sesc Copa é um marco tão importante como o foi, em seu tempo, a estréia de "O Rei da Vela"! Não exagero. Falta-lhe apenas o burilar dos anos. Porém é um marco. Inova, em todos os sentidos, a cena teatral, e se "atira", voluptuosamente, na imaginação do que "deve ter sido", a chegada desse bando de degredados portugueses na Terra de Santa Cruz! São 11 atores, enlouquecidos - e no auge de sua juventude - a nos transmitir a loucura que foi o desembarque dos degredados chegados a essa terra, os degredados "de Cabral". O horror, o pânico da chegada pega o público desprevenido, e leva ao inesperado! Somando-se a tudo isso, a precisão da entrada dos índios: e fica assegurada a força do espetáculo.
A cena,
em "Terra Papagalli", revela o desvario do encontro "das novas gentes"
os índios, com os homens "civilizados", e desnuda o que esses "últimos"
são capazes, para tornar seu o que não
lhes pertence! Até aí, sabemos os detalhes. Mas a precisão dessa chegada desesperada
cria leis, inventa estatutos, elabora autos, com uma desfaçatez da qual
conhecemos os frutos.
O
interessante, ao assistirmos a essa visão "da coisa", interpretada
por José Roberto Torero e Marcos Pimenta, é que nunca imaginamos que essa
historia poderia ser contada - e da maneira que foi - em um espetáculo teatral.
Já assistimos a narrativas dessa famosa "Viagem", porém contada de maneira
estética e "histórica", dando a impressão de que esse horror foi
realmente um episodio da maior distinção. Nunca, porém, essa historia nos foi
contada com tal ferocidade - (e esse deve ser o relato verdadeiro) - ao menos a
historia da chegada dos degredados.
Pois
Marcelo Valle acreditou nisso, e foi muito bem recompensado pela sua iniciativa
(e da equipe, pois, como sabemos, teatro é união de várias iniciativas), mas a
direção de Valle mostra a mão de alguém que sabe aonde quer chegar - estimulado,
com certeza, pelos outros dois "insanos" (em imaginação), que são
Torero e Pimenta.
Tal
iniciativa resultou na perfeita direção de Marcelo; na preparação vocal e canto
(e da fala indígena), de Fabianna Mello e Souza e Davi Guilhermme (workshop vocal).
Juntou-se a todo esse acerto a iluminação de Mauricio Fuziyama e do mestre
Renato Machado, e ainda os figurinos, adereços e visagismo, tão particulares e
acertados, de Othon Spenner. Estes artistas (Spenner nos figurinos) são exemplos
de imaginação a serviço da cena. Tudo se complementa: os personagens enlouquecidos, metade pássaro,
metade seres da floresta e gente perdida entre "ceroulas estilizadas",
camisas e tangas... dão o tom do espetáculo. Tudo muito divertido.
No
cenário de Julia Deccache e Carla Ferraz tudo pode acontecer, até se vender o
solo da terra recém descoberta "a um Real!". Os "vendilhões da
pátria" daquele momento apregoam e oferecem aos espanhóis, e a quem quer
que apareça por lá, essa bagatela do nosso solo! Tudo muito atual. Aos "aborígenes"
a oferta foi outra, de apitos, berloques e até armas, pois a loucura
desencadeada a tudo permite. E a gente "muito viva" que se apresenta
na ocasião da descoberta, principalmente "o Bacharel da Cananéia", (personagem
real), que conta a historia através de sua ótica. O esperto Cosme Fernandes, o
"Bacharel", é o protagonista que tudo consegue, até casar com a filha
do cacique e conquistar terras. É ele o nosso Serra, "o desenfreado",
que oferece aos portugueses, espanhóis, franceses, "e quem mais vier",
as novas terras, por um tostão de mel coado.
Os atores,
em ordem alfabética (e sinto não poder falar separadamente de cada um deles), são:
André Rosa, André Vieira, Daniel Belmonte, Felipe Frazão, João Marcelo
Iglesias, Jojo Rodrigues, Rômulo Chindelar, Sarah Lessa, Thiago Chagas. Tomaz
Nogueira e Victor Albuquerque. Destaco apenas as ótimas interpretações de
Felipe Frazão, Sarah Lessa, André Rosa e Jojo Rodrigues, a filha de Cosme Fernandes;
Ibiracê. Sarah e seu personagem Terebê, filha do cacique, por estarem nas fotos
a que tive acesso... (assim é que se fazem as reputações, para o bem ou para o
mal - pura sorte). André Rosa, como um dos Cosme Fernandes e Felipe Frazão, em
particular, pelo destaque de sua interpretação. Ele é o Cosme mais novo e também interpreta outros personagens. O Cosme "do meio" é Victor Albuquerque (aos poucos, a produção vai "liberando" o nome dos atores e personagens... nem tudo está pedido! Acontece que eles estavam sem o programa da peça, na estreia).
Mas o elenco é, todo ele, vigorosamente talentoso.
Mas o elenco é, todo ele, vigorosamente talentoso.
. A
adaptação para teatro do texto ficou a cargo de André Vieira (um dos atores), Daniel
Belmonte e do diretor Marcelo Valle. A codireção é de Danilo Moraes: os dois
realizaram um trabalho primoroso. A direção de movimento é de Dani Cavanelllas.
Muito atual,
essa releitura dos primeiros 30 anos da terra descoberta. Pensando bem,
"Terra Papagalli" é uma releitura do atual "desgoverno"
brasileiro. Aconselhamos ao público
amante de teatro (e quem quiser começar a amá-lo) a não perder este espetáculo histórico
e ... EXCELENTE!
terça-feira, 19 de julho de 2016
"UM NOME PARA ROMEU E JULIETA"
"Um nome para Romeu e Julieta", direção Dani Lossant. Atores Diogo Liberano e Carolina Ferman, interpretando os apaixonados de Verona. (Foto Clara Carvalho) |
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro -
AICT)
(Especial)
UM NOME PARA ROMEU E JULIETA
De
repente aquela coisa toda de "desconstruir" Romeu e Julieta, os dois
apaixonados de Verona. E o texto de Shakespeare vai se decompondo, atingido por
um tom poético insuspeitado. Brinca-se com ele, e o resultado é a alegria do
amor. Os dois não morrem, no final... eles simplesmente embarcam na
"mortal loucura" que é o amor. Eis um bom título para a peça, já que
somos desafiados a pensar em "Um nome para Romeu e Julieta".
Puro
desafio: alguém já havia pensando nisso antes ... Foi Gregorio de Mattos,
possivelmente em outro contexto. "Eles": elenco, direção, adaptação e
demais participantes do trabalho, apresentam-nos a música que tanto fica
gravada em nossa sensibilidade. Ela é cantada por Letícia Novaes (gravação),
arranjo e produção musical de Fabio Lima. A trilha original que sinaliza os
movimentos dos atores e das sequências é de Luciano Corrêa.
Trata-se de
uma montagem de Shakespeare por um grupo de atores que sempre têm algo novo
para apresentar ao público. Dessa vez Diogo Liberano não está na direção, mas Dani
Lossant, a iniciadora de todos os vôos, na UFRJ e na Uni Rio; trabalhou essa adaptação
em 2006 com outros atores, e hoje também a dirige. Porém, há sempre "uma
batalha renovada". Por que "batalha"? Quem faz teatro sabe o
porquê dessa palavra.
Vamos a
ela: os elementos trabalhados são mínimos. Uma arena teatral, um retângulo
iluminado que é 'chão e céu', local aonde os acontecimentos e os pensamentos se
reúnem. Desafios. Durante o espetáculo as palavras vão sendo encontradas, e
escritas, pelos atores... em algo que imaginamos ser a
"desconstrução", em lama e pó, daqueles seres vivos. Ao finalizar o
espetáculo percebemos que "elas", as palavras, nos contam
historias... Olhem só que linda, uma das frases escritas no chão: "E de te
amar assim muito e amiúde, é que um dia em teu corpo de repente hei de morrer
de amar mais do que pude".
Frei
Lourenço e o casal de adolescentes apaixonados carregam aquilo que será a sua
perda: em uma das mãos o punhal, na outra, o veneno. É um jogo sutil e
impressionante. Os duelos e as mortes são simplificados, e também os que levam a
"mortes praticadas". Por Romeu, um exemplo - e são mortes caracterizadas,
como a do "jogo do gato", quando o rompimento da corda é o rompimento da vida. Não há
necessidade de palavras.
Alguns
trajes localizam as personagens, principalmente as mulheres. Os homens em
roupas cotidianas. Objetos de cena? Mínimos, como são mínimas as citações à
tragédia que virá. Entretanto, ao
mencionar "palavras", o que temos é um jogo poético, criado pela própria
equipe (Dani Lossant e Diogo Liberano - colaboração dramatúrgica), de uma
beleza singela e esclarecedora. A historia dos apaixonados de Verona é contada
em uma hora e trinta minutos, e o poeta inglês está contido nestes minutos.
Olhem só:
às vezes o texto nos traz lembranças do autor inglês; às vezes a poesia se
iguala a dele, porém Dani e Diogo se encarregam "dela" (a poesia).
Coisas de quem aprendeu a "jogar o jogo" e vencer a batalha!
Pois
temos Diogo Liberano e Carolina Ferman interpretando os enamorados; Morena
Cattoni entre a serva amiga e a mamã; e todos os Capuletos e Montecchios que a
historia tem direito, representados pelos bravos atores que seguram o ritmo
acelerado da encenação, temos Marcio Machado interpretando os pais de Romeu e
Julieta, e ainda Frei Lourenço. Machado o faz, sem perder o tom. Para ele tal
façanha é um brinquedo, ator de presença forte que é. Os amigos e os primos estão
presentes nos desempenhos de Andrêas Gatto e Daniel Chagas. Um elenco de bons
atores.
O texto é
adaptado de uma tradução de Onestaldo Pennafort. Na direção de movimento e
preparação vocal temos, respectivamente, Nathália Mello e Verônica Machado. Figurinos
de Luci Vilanova. Iluminação detalhada, fechando em cada assunto pertinente, de
Daniela Sanchez. VALE Á PENA ASSISTIR.
terça-feira, 12 de julho de 2016
"KRUM"
Foto "KRUM" (Nana Moraes)
"KRUM". Autoria Hanoch Levin, direção Marcio Abreu. (Foto de Nana Moraes) |
IDA VICENZIA
(da Associação
Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
KRUM, do dramaturgo israelita de origem
polonesa, Hanoch Levin (tradução de Giovana Soar, adaptação do diretor Marcio
Abreu e de Nadja Naira, tradução do hebraico de Suely Pfeferman Kagan), é uma
peça psi. Explico: ela vai se escrevendo através das idiossincrasias de seus
personagens e, aos poucos, no decorrer das cenas limitadas por blackouts, as
"neuras" dos jovens (e não tão jovens) começam a se tornar visíveis,
formando um texto possível. A ação se passa em de um lugarejo perto de Tel Aviv,
ou em seus arredores - wherever - o fato é que vive-se em um lugar claustrofóbico. Tal
façanha nunca foi fácil, como sabemos.
Podemos dizer que o mais interessante na "musculatura"
da peça é o relacionamento entre mãe e filho. O autor não abandona o arquétipo
"mãe judia", mas o faz com total independência dos mestres na questão
(não vamos falar em Woody Allen, por favor!), pois nos encontros e desencontros
dessa dupla, na peça, grita-se, sim, o tão famoso relacionamento umbilical de
dominação materna. Mas, olhem só: há uma interdependência quase escandalosa; há,
sublinhando o "quase indecente" da cena, uma antológica interpretação
de Grace Passô, que pode transformar em expressão (cênica) tudo o que o autor
quer transmitir. Danilo Grangheia, o filho, acompanha à altura o desempenho
desenfreado dessa atriz, que está perfeita tanto em seu papel de mãe quanto em
sua transformação em mulher fatal (aliás, outro dos grandes momentos do
espetáculo, dirigido a "corações de aço!"). Embora com as presenças
fortes de Passô, Sorrah (Renata), e
Vianna (Inêz), quem está encarregado de dar estrutura à peça é Danilo Grangheia,
(aliás, a "estrutura" dessa peça é algo interessante e fora do
comum).
Estamos lidando com seres medíocres e
desinteressantes. Muito bem. Mas tal espécie a temos em qualquer latitude. O
que o elenco, diretor e demais agentes dessa produção teatral, conseguem, é nos confirmar
o desespero em torno de algo tão insólito. Mais perfeito não poderia ser. Grangheia, em seu personagem Krum, por
exemplo, retrata o desespero sem se deixar sugar pelas aflições do personagem,
apesar de sua entrega total. Aliás, as frustrações existem porque nenhum dos
habitantes do lugar percebe "que a vida é uma causa perdida", como
diria o nosso querido mestre Antonio Abujamra. Mas Levin, como não é brasileiro (e esse
é um de seus grandes defeitos), não consegue transformar tudo o que vemos em
cena, em algo verdadeiramente insólito, para nós, que estamos vivendo o insólito
em nosso dia a dia. Mostram-se bumbuns, fala-se palavrões, desgosta-se com a
vida, mas não ficamos impactados, como acontece no espetáculo do Grupo Galpão, outra direção
de Abreu, porque os habitantes desse lugar, em KRUM, estão em um lugar fora do
mapa, perto de Tel Aviv, lugar esse que não nos fala ao coração, como nos fala o
Brasil atual!
Mas não é isso o que o diretor Marcio
Abreu está querendo nos dizer, quando escolheu este texto para montar com a sua
companhia brasileira de teatro. Ele estava pensando nas guerras, no obscurantismo,
nos nacionalismos crescentes ... porém,
o que assistimos na peça é o retrato da vida refletida na pobreza do cotidiano
de pessoas comuns. Elas parecem tão pequenas, em seus pequenos problemas, mas
são, pensando bem, estes problemas que movem o mundo! Neste segmento das
pessoas que "movem o mundo", em sua pequena/grande reprodução e
inutilidade, vamos ver refletida a personagem de Inêz Viana, patética em sua inadequação
para a vida. Ponto para Vianna. Não lhe fica atrás
Renata Sorrah, interpretando a mulher apaixonada em seu pequeno mundo do "amor
a qualquer preço". Sorrah e sua intensidade artística - dessa vez conduzida
com bom humor e certa visão critica - não caindo em dramaticidade desnecessária.
Ah! Quem não gostaria de ter Renata Sorrah em seu elenco?
Os atores são muito bons. Há Rodrigo
Ferrarini, como o apaixonado; Ranieri Gonzalez, o homem que resolveu viver; ou Edson
Rocha, Cris Larin e Rodrigo Andreolli, tornando possível um espetáculo
inovador, em se tratando desse povo tão sem chama própria, como é a pequena burguesia
de uma cidade do interior - ou "dos arredores de uma grande cidade",
como quer o autor Levin.
Não foi possível esconder o horror que nos
causa Israel e suas guerras. Talvez a intenção do autor seja esta mesma: causar
repulsa. Conseguiu. E o diretor conseguiu dar continuidade ao seu trabalho, "um
fator essencial" - segundo ele, manter viva uma companhia, apesar dessa condição política adversa que se estabeleceu em nosso Brasil. O
eco dos acontecimentos recentes (estamos em julho de 2016), ainda não se
refletiu em sua "companhia brasileira", e o diretor está certo, ao
procurar mantê-la viva. Coisas terríveis acontecem neste mundo, e a peça trata
justamente do tipo de pessoa que só se preocupa com problemas de seu cotidiano, enquanto o mundo ferve, e o egoísmo
impera. Também nesta pequena sociedade, retratada em KRUM, o egoísmo impera.
Diz
o autor Levin, que se trata de uma "comedia". O que mais se aproxima
deste gênero, em se tratando de KRUM, é o relacionamento do filho amante, o
homem desinteressado em outras mulheres, até o momento em que vê surgir a cópia
da mãe, em uma mulher livre e "fatal", que transforma o arquétipo - "a
mãe judia" - em um problema freudiano. E há um segundo momento em que
podemos considerar o texto uma "comédia": a maneira pela qual
os homens vêem aquela que surgiu "de um mundo estranho", até o
momento em que "a mulher" (interpretada por Grace Passô ), se transforma em modelo de
transgressão.
Passô, Grangehia, Sorrah e Vianna nos
brindam com momentos convincentes no espetáculo. De difícil andamento, para uns;
de possível inovação, para outros, assim KRUM surge, no mundo teatral
brasileiro. Não deixa de ser algo incomum, mesmo neste rico mundo que se apresenta, atualmente, no teatro carioca. Temos na ficha técnica a direção de movimento da
grande Marcia Rubin, que transforma Grace Passô em quase uma bacante, na cena erótica
com
o "italiano" (será Rodrigo Ferrarini?), em excelente jogo cênico. O movimento
dos atores, em sua totalidade, é preciso, incorporando e acentuando a
personalidade de cada um. Ponto para Rubin. E as várias modalidades que se
entrelaçam, nesta transformação da concepção de cenário (KRUM entra nesta "concepção
pós-dramática"?), se podemos assim chamar, o pós-dramático tomou conta da
cena atual, quando um certo "simbolismo" (ou o mistério que nos ronda) torna-se uma complementação da imaginação - ou do "caos" - levado em cena. O cenário é de Fernando Marés. Iluminação precisa de Nadja
Naira; efeitos sonoros e trilha de Felipe Storino. Figurinos (ótimos) de
Ticiana Passos. Interlocução artística, Patrick Pessoa. Assessoria de Imprensa,
Factoria Comunicação. VALE Á PENA
ASSISTIR KRUM!
quinta-feira, 7 de julho de 2016
"NÓS"
Elenco "Nós" e seus instrumentos musicais. (Foto Cristina Granato) |
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de
Teatro - AICT)
(Especial)
"NÓS"
O diretor Marcio Abreu, da companhia
brasileira de teatro, com sede em Curitiba, está atualmente em cartaz, no Rio
de Janeiro com dois espetáculos:
"Krum", de sua própria companhia, e
"Nós", espetáculo que ele dirige para o Grupo Galpão, de Belo
Horizonte. Fomos assistir "Nós", e saímos impactados. Podemos
constatar uma cumplicidade total entre os atores e o público, coisa de vida
vivida! Como é bom ver um assunto que nos interessa tanto (a vida) se
desenvolver diante de nossos olhos, sem pretensão de dar ensinamentos ou
desenvolver pregação; somente comentando,
e o público constatando.
É
bom ver um trabalho inteligente e sem "star sistem"
(desculpem). No elenco, todos e cada um dos atores é essencial, neste jogo de comentar
a vida, e aceitá-la como ela se apresenta, ou não. O fato é que o desafio nos
pega, e, de repente somos confrontados com o nosso presente. Tudo enquanto os
participantes ("Nós") preparam uma sopa, que, aliás, é muito gostosa
(quem a provou pode confirmar). Mas fomos confirmar o atual trabalho do Galpão,
dirigido por Marcio Abreu.
Este diretor, carioca porém eclético, diz
gostar de abismos. De fato, estamos o tempo todo à beira do abismo, neste
espetáculo, confrontados com diferenças que nos levam a extremos, dentro de
nosso presente. Assim, testemunhamos violência, preconceito, amor, amizade,
tudo misturado, como é natural em nossa vida. A destacar vários momentos: há
uma verdadeira homenagem a Teuda Bara, atriz que mantém vivo o nome do Grupo,
tornando-o inesquecível, desde sua interpretação de Ama, em "Romeu e
Julieta". Um destaque, pois. A simplicidade com que ela torna possível enfrentar tantas coisas da vida -
como amor e desamor, rejeição e acolhida, compreensão e incompreensão. Porém há
destaques o tempo todo, tornando o espetáculo uma experiência renovadora, em
termos teatrais.
Assim, em cena Eduardo Moreira, que também
colabora com Marcio Abreu na organização
do texto. Ou Julio Maciel, ou Chico Pelúcio. São sete atores comentando os
últimos acontecimentos que abalam a todos nós, brasileiros. Além dos já
citados, estão em cena Inês Peixoto, Antonio Edson, Beto Franco, Simone
Ordones, Paulo André, Lydia Del Picchia, Arildo de Barros, Fernanda Vianna. A
análise do texto é perfeita, inclusive em termos da "roleta histórica",
que sempre faz o jogo retornar. Este retorno é realizado com transparência pelo
elenco.
A cenografia é um espetáculo à parte.
Marcelo Alvarenga, da Play Arquitetura, conseguiu algo fascinante, com seus
vários planos e espelhos que tornam a superfície do palco algo incerto, representando
assim a incerteza desestabilizadora de nossa vida. Os figurinos de Paulo André
jogam com o cotidiano. E a iluminação complementa as incertezas do cenário: um
jogo duplo. Os efeitos sonoros de Felipe Storino são complementares e essenciais.
O espetáculo de Marcio Abreu é tão
envolvente que os cinco sentidos não são suficientes para capturar tudo o que
está acontecendo. Voltamos ao inicio destes comentários, quando dizemos que o
espetáculo nos deixou impactados. Sim, participamos de tal maneira, que só
podemos, ao comentá-lo, mostrar o envolvimento que (quase) nos fez perder a
capacidade critica: se é verdade que o teatro pode "mudar o mundo",
como é o sonho de todo artista, podemos dizer que assistir "Nós" é
uma experiência transformadora. Quem o assistiu nunca mais será igual. Experiências como esta são positivas e podem mudar a cabeça das pessoas. BRAVO!
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