"Um nome para Romeu e Julieta", direção Dani Lossant. Atores Diogo Liberano e Carolina Ferman, interpretando os apaixonados de Verona. (Foto Clara Carvalho) |
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro -
AICT)
(Especial)
UM NOME PARA ROMEU E JULIETA
De
repente aquela coisa toda de "desconstruir" Romeu e Julieta, os dois
apaixonados de Verona. E o texto de Shakespeare vai se decompondo, atingido por
um tom poético insuspeitado. Brinca-se com ele, e o resultado é a alegria do
amor. Os dois não morrem, no final... eles simplesmente embarcam na
"mortal loucura" que é o amor. Eis um bom título para a peça, já que
somos desafiados a pensar em "Um nome para Romeu e Julieta".
Puro
desafio: alguém já havia pensando nisso antes ... Foi Gregorio de Mattos,
possivelmente em outro contexto. "Eles": elenco, direção, adaptação e
demais participantes do trabalho, apresentam-nos a música que tanto fica
gravada em nossa sensibilidade. Ela é cantada por Letícia Novaes (gravação),
arranjo e produção musical de Fabio Lima. A trilha original que sinaliza os
movimentos dos atores e das sequências é de Luciano Corrêa.
Trata-se de
uma montagem de Shakespeare por um grupo de atores que sempre têm algo novo
para apresentar ao público. Dessa vez Diogo Liberano não está na direção, mas Dani
Lossant, a iniciadora de todos os vôos, na UFRJ e na Uni Rio; trabalhou essa adaptação
em 2006 com outros atores, e hoje também a dirige. Porém, há sempre "uma
batalha renovada". Por que "batalha"? Quem faz teatro sabe o
porquê dessa palavra.
Vamos a
ela: os elementos trabalhados são mínimos. Uma arena teatral, um retângulo
iluminado que é 'chão e céu', local aonde os acontecimentos e os pensamentos se
reúnem. Desafios. Durante o espetáculo as palavras vão sendo encontradas, e
escritas, pelos atores... em algo que imaginamos ser a
"desconstrução", em lama e pó, daqueles seres vivos. Ao finalizar o
espetáculo percebemos que "elas", as palavras, nos contam
historias... Olhem só que linda, uma das frases escritas no chão: "E de te
amar assim muito e amiúde, é que um dia em teu corpo de repente hei de morrer
de amar mais do que pude".
Frei
Lourenço e o casal de adolescentes apaixonados carregam aquilo que será a sua
perda: em uma das mãos o punhal, na outra, o veneno. É um jogo sutil e
impressionante. Os duelos e as mortes são simplificados, e também os que levam a
"mortes praticadas". Por Romeu, um exemplo - e são mortes caracterizadas,
como a do "jogo do gato", quando o rompimento da corda é o rompimento da vida. Não há
necessidade de palavras.
Alguns
trajes localizam as personagens, principalmente as mulheres. Os homens em
roupas cotidianas. Objetos de cena? Mínimos, como são mínimas as citações à
tragédia que virá. Entretanto, ao
mencionar "palavras", o que temos é um jogo poético, criado pela própria
equipe (Dani Lossant e Diogo Liberano - colaboração dramatúrgica), de uma
beleza singela e esclarecedora. A historia dos apaixonados de Verona é contada
em uma hora e trinta minutos, e o poeta inglês está contido nestes minutos.
Olhem só:
às vezes o texto nos traz lembranças do autor inglês; às vezes a poesia se
iguala a dele, porém Dani e Diogo se encarregam "dela" (a poesia).
Coisas de quem aprendeu a "jogar o jogo" e vencer a batalha!
Pois
temos Diogo Liberano e Carolina Ferman interpretando os enamorados; Morena
Cattoni entre a serva amiga e a mamã; e todos os Capuletos e Montecchios que a
historia tem direito, representados pelos bravos atores que seguram o ritmo
acelerado da encenação, temos Marcio Machado interpretando os pais de Romeu e
Julieta, e ainda Frei Lourenço. Machado o faz, sem perder o tom. Para ele tal
façanha é um brinquedo, ator de presença forte que é. Os amigos e os primos estão
presentes nos desempenhos de Andrêas Gatto e Daniel Chagas. Um elenco de bons
atores.
O texto é
adaptado de uma tradução de Onestaldo Pennafort. Na direção de movimento e
preparação vocal temos, respectivamente, Nathália Mello e Verônica Machado. Figurinos
de Luci Vilanova. Iluminação detalhada, fechando em cada assunto pertinente, de
Daniela Sanchez. VALE Á PENA ASSISTIR.
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