"Vaidades e Tolices" - uma compilação dos contos de Tchecov "O Urso" e "Pedido de Casamento". Direção Sidnei Cruz. (Foto Guga Melgar) |
IDA VICENZIA
(da Associação
Internacional de Críticos de teatro - AICT)
(Especial)
"VAIDADES
E TOLICES"
Comemorando os seus 25 anos de encenações,
a 'Cia. Limite 151' festejou, no primeiro semestre de 2016, levando a cena Anton
Tchecov e suas peças curtas: "O Urso" e "Pedido de Casamento".
O apelo ingênuo e bem humorado destas duas peças alegra os corações. Com
inspirada direção de Sidnei Cruz, os atores Edmundo Lippi, Flavia Fafiães,
Isabella Dionísio, Marcello Escorel e Rafael Canedo levaram ao público os
deliciosos momentos de delicadeza, malícia e inteligência do texto do
dramaturgo russo.
Muito boa a encenação de Sidnei Cruz, ao
fazer o entrecruzar das historias de dois casais, em seus instantes de "enamoramento".
É bom poder rir com os encontros e desencontros dos casais formados por Natalia
Stepanovna (Dionísio) e Ivan Lomov (Canedo), em "Pedido de Casamento"
- mais ingênua e recorrente -, e assistir a grande brincadeira que é "O
Urso", sucesso certo para quem a interpreta - sendo maior ainda com Marcello Escorel jogando com o mulherengo,
brutal e apaixonado Grigóri Smirnov, seguido, na sequência, por uma não menos
inspirada viúva, Eliena Popova, interpretada com detalhe, malicia e precisão
por Fafiães.
A "Limite" especializou-se em
nos brindar com um teatro de repertorio dos clássicos, e é graças a ela que
podemos assistir a um simpático Molière, ou as aventuras e desventuras dos
personagens de Ariano Suassuna. Seja bem-vinda, 'Limite 151'!
Seu produtor e ator, Edmundo Lippi, um incansável
amante do teatro, atua fazendo a 'costura' dos dois espetáculos, ora interpretando
o pai da jovem Natalia, ora o mordomo de Eliena Popova, sempre de maneira
eficaz e correta.
No complicado mecanismo de precisão,
criado por Sidnei Cruz, os atores contracenam com os objetos de cena, "desconstruindo-os",
e se entrecruzam, em cenas rápidas, fazendo o contraponto com as historias que
estão sendo contadas. É tudo muito rápido, e, segundo o diretor, procura
acompanhar a "folia verbal" do autor. E acompanha. Mas não deixa de
ser surpreendente, para quem está acostumado com um Tchecov introspectivo, e
seus personagens da "burguesia decadente" russa.
Neste sentido, Cruz extrapola. Essa nova versão de Tchecov, o "novo autor russo", nos trás um efervescente espetáculo, quando, por
exemplo, o "Urso" Grigóri, ao perceber estar apaixonado pela viúva (Fafiães), nos oferece uma comicidade irresistível, interpretada com brilho por
Marcello Escorel.
As historias dos casais, na concepção de
Cruz, se entrecruzam, em um ritmo veloz.
Esse ritmo, e as palavras do pai de Natalia (Edmundo Lippi), cheias de subterfúgios,
remetem ao 'falar' tchecoviano dado às suas peças curtas, ao deixar em aberto o
"isso e aquilo"... "e coisa e tal...", sem especificar o sentido.
É muito bom ver um espetáculo em que ainda
se conta uma historia (dinamizada pelos mais variados acontecimentos), e da
qual se pode rir, com delicadeza, da sutileza do grande autor russo. Tchecov
parece estar presente (e está!), piscando o olho para a platéia, diante das
artimanhas de seus personagens. É um prazer participar desse Tchecov, envolvido
com o olhar criativo de Sidnei Cruz.
Na ficha técnica temos, além dos já
citados, cenário e figurinos (muito bons, ágeis, cheios de artimanhas, como o figurino
da viúva...) - de Colmar Diniz. Música e Direção Musical: Wagner Campos.
Iluminação de Rogerio Wiltgen; Produção Executiva: Valéria Meirelles; Direção
de Produção Edmundo Lippi; Adereços, Elísio José e Fotos de Guga Melgar. ESPERAMOS MAIS 'LIMITE
151', NO PRÓXIMO SEMESTRE, COMEMORANDO O ANO DE SEU ANIVERSARIO!
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