A atriz Luah Guimarãez interpretando a irmã de Garga, Marie Garga em "Na Selva das Cidades EM OBRAS" - OCUPAÇÃO # 16 ARTIFÍCIO", em cartaz na Caixa Cultural, Rio de Janeiro. (Foto Renato Margolin). |
(da Associação Internacional de Críticos
de Teatro - AICT)
(Especial)
"NA SELVA DAS CIDADES - EM
OBRAS"
Aqueles que querem "mudar o
mundo" resolveram nos mostrar o mundo com ele é, e conseguiram. Percebemos
neste A Selva das Cidades uma desesperada
busca de algo que realmente tenha 'algum' valor para a nossa já tão curta vida. Dessa
vez os atores buscam encontrar o valor da vida escondido nas poltronas da Caixa Cultural, no Rio - mas já os estiveram
procurando entre os abandonados das ruas, em São Paulo, entre os perdidos de
bar. E acabaram em um lugar que, para algumas pessoas é "considerado
convencional": as cadeiras de um teatro. Trata-se de um pequeno teatro, de uns 150
lugares, se tanto, no qual o grupo "Mundana Companhia" tenta
encontrar o sentido da vida. Eles tentam, se desiludem, bebem, amam, mas as três
talentosas criaturas que acreditam que algo possa ser feito, Aury Porto, Cibele
Forjaz e Luiza Lemmertz esperam que algo aconteça. A vida não dá sossego. E há também Luah Guimarãez que também, para nossa alegria, acredita no projeto. E não só ela. Por algo lutamos,
então. Como pensa Aury Porto.
E qual é a proposta de Aury? O tempo vai passando,
os atores viram anjos (ou demônios) e a proposta continua interrogando: existe
o verdadeiro teatro, existe um caminho?
Cibele Forjaz e a "Mundana Companhia", nossa
conhecida de outro momentos e outras direções - desde o surpreendente "O
Idiota", de Dostoievski, que marcou a diretora para a nova sensibilidade cênica. Outros
espetáculos vieram e hoje temos este "Na Selva das Cidades - Em
Obras" e Brecht trazendo, em seu passar, a "Ocupação #16 -
Artifício". Há toda uma explicação para esta formatação. E o personagem de
um rico negociante de madeira faz a proposta, atraído pela inteligência de um
jovem bibliotecário da Família Garga, e querendo reconhecer a capacidade do ser
humano em um "embate intelectual".
Podemos criar as nossas leituras, neste "Em Obras". Tentarei, mas
"Não Já". A peça é quase "uma questão de família", e os
Garga, camponeses do interior, estão muito presentes em cena.
Mas não é das famílias que devemos falar, devemos
nos referir aos humanos.
BB situa a peça em 1912 (um pouco antes da
Primeira Guerra Mundial). Trata-se de um Brecht inspirado no livro "A
Selva", de Upton Sinclair. Podemos imaginar. O terceiro texto do jovem Brecht já se compara aos
grandes de vida longa como Tchecov, Dostô, e o próprio Brecht . Depois vieram outras peças
da Mundana Cia. Ela começou a ser formada no início do séc. XXI, e houve até um tempo em que ela foi dirigida
pelo russo Adolf Saphiro, em "O Duelo". E lá atrás, nos anos 60, o
grande sucesso do Teatro Oficina foi-nos apresentado: "Na Selva das
Cidades".
Agora, em sua nova versão neste estranho
mês de agosto - irá somente até o dia 26 no Rio - o público perceberá algumas pequenas
modificações em cena.
Citamos o elenco:
Aury Porto, grande entusiasta do projeto e
seu criador, interpreta C. Shlink. Carol
Badra (Mãe Garga); Guilherme Calzavara (O Verme); João Bresser (John Garga), e
também as já citadas Luah (Marie Garga) e Luiza (Jane Larry). Há também Mariano
Mattos Martins (O Babuino), Sylvia Prado (Mãe Garga - substituição?), Vinicius Meloni
(Pat Manky), e Washington Luis (George Garga). Os atores são excelentes e Luah
nos passa a impressão de ter sido muito próxima de Regina Braga. Estranhas vivencias humanas. Deixarei a crítica para
outra ocasião).
Treinamento Corporal, Lu Favoreto;
Tradução, Christine Rörig; Direção/Treinamento Cênico, Cibele Forjaz;
Treinamento Vocal, Lucia Gayotto; Direção de Cena, Renato Bandi; Criação
Musical, Guilherme Calzavara; Músico Marcelo Castilha.
(A
cenografia e concepção do cenário é outro caso à parte: a funcionalidade com
que ela é operada coloca a "marca registrada de Forjaz" - e a sua determinação
cênica, na forte tensão que se estabelece entre atores e público - tensão
essa que Forjaz percebe e não deixa escapar em nenhum momento.
Eis nossa homenagem à rápida passagem da Mundana Companhia pelo Rio de Janeiro. Aproveito para me despedir
com este belo trecho de Brecht, que está no programa:
"Quanto tempo/Duram as obras?
Tanto quanto/ ainda não estão completas.
Em obras.
Pois enquanto exigem trabalho
Não entram em decadência" (BB).
(FALAREMOS UM POUCO MAIS SOBRE A PEÇA, EM OUTRA OCASIÃO. NÃO DEIXEM DE ASSISTI-LA!)..