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quarta-feira, 16 de agosto de 2017

"NA SELVA DAS CIDADES - EM OBRAS"

A atriz Luah Guimarãez interpretando a irmã de Garga, Marie Garga em "Na Selva das Cidades EM OBRAS" - OCUPAÇÃO # 16 ARTIFÍCIO", em cartaz na Caixa Cultural, Rio de Janeiro. (Foto Renato Margolin). 
 IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)

"NA SELVA DAS CIDADES - EM OBRAS"

      Aqueles que querem "mudar o mundo" resolveram nos mostrar o mundo com ele é, e conseguiram. Percebemos neste A Selva das Cidades uma desesperada busca de algo que realmente tenha 'algum' valor para a nossa já tão curta vida. Dessa vez os atores  buscam encontrar o valor da vida escondido nas poltronas da Caixa Cultural, no Rio - mas já os estiveram procurando entre os abandonados das ruas, em São Paulo, entre os perdidos de bar. E acabaram em um lugar que, para algumas pessoas é "considerado convencional": as cadeiras de um teatro. Trata-se de um pequeno teatro, de uns 150 lugares, se tanto, no qual o grupo "Mundana Companhia" tenta encontrar o sentido da vida. Eles tentam, se desiludem, bebem, amam, mas as três talentosas criaturas que acreditam que algo possa ser feito, Aury Porto, Cibele Forjaz e Luiza Lemmertz esperam que algo aconteça. A vida não dá sossego. E há  também Luah Guimarãez que também, para nossa alegria, acredita no projeto. E não só ela. Por algo lutamos, então. Como pensa Aury Porto.     

     E qual é a proposta de Aury? O tempo vai passando, os atores viram anjos (ou demônios) e a proposta continua interrogando: existe o verdadeiro teatro, existe um caminho?

    Cibele Forjaz e a "Mundana Companhia", nossa conhecida de outro momentos e outras direções - desde o surpreendente "O Idiota", de Dostoievski, que marcou  a diretora para  a nova sensibilidade cênica. Outros espetáculos vieram e hoje temos este "Na Selva das Cidades - Em Obras" e Brecht trazendo, em seu passar, a "Ocupação #16 - Artifício". Há toda uma explicação para esta formatação. E o personagem de um rico negociante de madeira faz a proposta, atraído pela inteligência de um jovem bibliotecário da Família Garga, e querendo reconhecer a capacidade do ser humano em um  "embate intelectual". Podemos criar as nossas leituras, neste "Em Obras". Tentarei, mas "Não Já". A peça é quase "uma questão de família", e os Garga, camponeses do interior, estão muito presentes em cena.

    Mas não é das famílias que devemos falar, devemos nos referir aos humanos.

    BB situa a peça em 1912 (um pouco antes da Primeira Guerra Mundial). Trata-se de um Brecht inspirado no livro "A Selva", de Upton Sinclair. Podemos imaginar. O  terceiro texto do jovem Brecht já se compara aos grandes de vida longa como Tchecov, Dostô, e o próprio Brecht . Depois vieram outras peças da Mundana Cia.  Ela começou a ser formada no início do séc. XXI, e houve até um tempo em que ela foi dirigida pelo russo Adolf Saphiro, em "O Duelo". E lá atrás, nos anos 60, o grande sucesso do Teatro Oficina foi-nos apresentado: "Na Selva das Cidades".

    Agora, em sua nova versão neste estranho mês de agosto - irá somente até o dia 26 no Rio - o público perceberá algumas pequenas modificações em cena.

      Citamos o elenco:  
     Aury Porto, grande entusiasta do projeto e seu criador, interpreta  C. Shlink. Carol Badra (Mãe Garga); Guilherme Calzavara (O Verme); João Bresser (John Garga), e também as já citadas Luah (Marie Garga) e Luiza (Jane Larry). Há também Mariano Mattos Martins (O Babuino), Sylvia Prado (Mãe Garga - substituição?), Vinicius Meloni (Pat Manky), e Washington Luis (George Garga). Os atores são excelentes e Luah nos passa a impressão de ter sido muito próxima de Regina Braga. Estranhas vivencias humanas. Deixarei a crítica para outra ocasião).

     Treinamento Corporal, Lu Favoreto; Tradução, Christine Rörig; Direção/Treinamento Cênico, Cibele Forjaz; Treinamento Vocal, Lucia Gayotto; Direção de Cena, Renato Bandi; Criação Musical, Guilherme Calzavara; Músico Marcelo Castilha.

     (A cenografia e concepção do cenário é outro caso à parte: a funcionalidade com que ela é operada coloca a "marca registrada de Forjaz" - e a sua determinação cênica, na forte tensão que se estabelece entre atores e público - tensão essa que Forjaz percebe e não deixa escapar em nenhum momento.

     Eis nossa homenagem à rápida passagem da Mundana Companhia pelo Rio de Janeiro. Aproveito para me despedir com este belo trecho de Brecht, que está no programa:

"Quanto tempo/Duram as obras?

Tanto quanto/ ainda não estão completas.

Em obras.

Pois enquanto exigem trabalho

Não entram em decadência" (BB).  

(FALAREMOS UM POUCO MAIS SOBRE A PEÇA, EM OUTRA OCASIÃO. NÃO DEIXEM DE ASSISTI-LA!)..


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