"PODEROSA VIDA NÃO ORGÂNICA QUE ESCAPA", texto Diogo Liberano, direção Thaís Barros. Em cena Locatelli, Liberano e ....) (Foto Divulgação) |
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro -
AICT)
(Especial)
"PODEROSA VIDA
N ÃO ORGÂNICA QUE ESCAPA"
Eis a chegada do artista que nos coloca
diante da arte, de sua abstração poética e seus mistérios. Eis o retorno de
Diogo Liberano, que nos falou com desenvoltura em monólogo tecido com Walter Benjamin
(como se dele irmão fosse), em "O Narrador". Agora Liberano retorna
com a poeta (Prêmio Nobel) polonesa Wislawa Szymborska e seu poema "Conversa
com a Pedra", o qual é reproduzido na íntegra, na abertura do espetáculo por um Gunnar Borges (diretor de movimento, ator de excelente voz, e bailarino cheio de energia), que
nos apresenta, nas escadarias majestosas do CCJF, o poema de Wislawa.
Diz o dramaturgo Diogo Liberano que além da poeta polonesa, também foi
inspirado nos quadrinhos de Will Eisner para compor o que nos foi apresentado
em palco. A ilusão da rua de Eisner, na grafic novel "O Edificio", onde
prédios serviam de pano de fundo para a ação, Liberano consegue de uma armação
de material luminoso como aço, e leve como pluma - projetado pela luz que se expande,
em um pano de fundo cinza, dando a impressão de um edifício em construção... ou
demolição.
E assim começa o espetáculo. O texto não
pode ser mais atual, entretecido do absurdo que se expande, até o final
desafiador. O que acontece em cena muita gente já conheceu, ou já passou por
isso - uma menina não querendo ficar no quarto que cheira a sangue e tem
palavras estranhas escritas nas paredes sujas; ou o rapaz do terceiro andar que
quer alugar um apartamento no térreo por causa da mudança de sua mãe, que não
pode subir escadas. Ou o bem resolvido morador do segundo andar, que procura
entender os seus vizinhos.
Quem já não passou por situação semelhante?
Talvez os poucos jovens bem nascidos, que a família resolve todos os seus
problemas, mas nunca o jovem aventureiro que quer conhecer os seus limites. E é
essa segunda impressão que nos causa o insólito dialogo trocado entre eles. E o
final que justifica todos os poemas: a pedra abre a porta que se nega a abrir na
apresentação do espetáculo. Eis o diálogo de "Conversa com a pedra":
"Bati à porta da pedra. - Sou eu, me deixa entrar. Quero penetrar no teu
interior olhar em volta, te aspirar como o ar". (E a pedra responde):
"Vai embora. Sou hermeticamente fechada. Mesmo partidas em pedaços seremos
hermeticamente fechadas. Mesmo reduzidas a pó não deixaremos ninguém entrar".
E, no decorrer da cena, veremos que a
conversa da pedra não é "essa poderosa vida não orgânica que escapa" - pois o "inorgânico" tomará parte -
misteriosamente, como compete à poesia - contrariando o impenetrável da pedra. Mas
os estranhos acontecimentos só se entregarão a quem assistir ao espetáculo!
Devemos saudar, nestes tempos de tão
frágeis textos e interpretações entorpecidas (com algumas honrosas exceções),
este desafiante dialogo entre três jovens (os atores André Locatelli - o colaborativo
morador do segundo andar - Diogo Liberano, "o que procura um pouso para
sua mãe" e finalmente Livs Ataíde, que não suporta as paredes cheirando a
sangue, de seu pequeno apartamento.
Pensamos já ter falado o suficiente sobre o
acontecimento que se instaura com teatralidade bem vinda no Centro Cultural da
Justiça Federal, onde ficará até início de setembro. Diz o diretor que não é
fácil levantar um espetáculo, nestes tempos de retração financeira, em que o
prefeito acaba de cortar 25 milhões de reais para a cultura como um todo. Em
vista disso, Diogo Liberano se dispõe, para poder pagar seus artistas, a dar um
curso de dramaturgia e outro de interpretação, no mesmo espaço em que a peça acontece,
ou seja, no CCJF.
ATENÇÃO CLASSE, PRESTIGIEM! VAI VALER A
PENA. .ESTAMOS NA PRESENÇA DE UM DOS DIRETORES MAIS CRIATIVOS DESTA NOVA
GERAÇÃO. AH! ANTES QUE ESQUEÇA, A UFRJ PARTICIPA, DANDO APOIO AO "TEATRO
INOMINAVEL" (COMO SE INTITULA). Na dramaturgia, Diogo Liberano; na Direção,
Thais Barros e na Direção Musical (o que seria do teatro sem um bom acompanhamento
musical?) Rodrigo Marçal. O Cenário, bastante criativo, foi tornado possível
pela equipe do INOMINÁVEL - ou parte dela - cinco atores: Locatelli, Ferrera,
Ataíde, Müller e Barros. A Direção de Arte é de Marcela Cantaluppi e os
"não-figurinos" - (uma sábia adaptação de nosso vestir cotidiano), são
de Barbara Faccioli e Juliana Valle. (REALIZAÇÃO "TEATRO INOMINAVEL"
E UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO). DESDE 2.008 ESTÃO UNIDOS.
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