IDA
VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos
de Teatro - AICT)
(Especial)
GRANDE SERTÃO: VEREDAS
Ah! Pois... quem diria que eu estaria
assim, virando e revirando aquele programa de 93 fotos dos ensaios, e mais
fotos da ação, e aquela força das imagens, dos acontecimentos pulsando nas
expressões dos atores: ora alegres, ora desesperados. E aquele nosso medo de
entrar no ritmo de Guimarães! Sim, "Grande Sertão: Veredas"...
Foi assim que fiquei olhando e re-olhando.
Escrevo, ou não escrevo? Tanto já se disse sobre Guimarães Rosa! Aí fiquei
contando as vezes que Hermógenes aparece nas fotos, quase 10 vezes... Preparando-me.
E Riobaldo? E Otacília? E Diadorim...? A atmosfera começou a me contagiar...
porque ninguém sai ileso daquele espetáculo de Bia Lessa e Egberto Gismonti...
e Fernando Mello da Costa... e tantos
outros! E na Produção Internacional Emilio Kalil! Viajará, então, Riobaldo e
seu grande sertão?
Ah! As fotos da ação! Será que Oskar
Metsavaht fotografou aquelas cenas? Não, parece que ele só fez as fotos da bela
Diadorim. Foi Alexandre Nunis quem fez as incríveis fotos da ação! E os
colaboradores? Marilia Rothier, a minha querida orientadora! E Silviano
Santiago! E tantos outros. Já começo a achar que vou escrever alguma coisa... E
registro Geovana Martins, Nina Braga e Pamela Leite, e tantas outras! na
confecção dos bonecos. É um longo assunto, essa montagem!
E Bartholo dizendo que o amor entre
Riobaldo e Diadorim era como vagalumes cortando o escuro da noite... ou algo
assim, poético e verdadeiro! Um olhar, um roçar de mãos, um alarme, uma faísca!
E a gente, mesmo sem querer, fica poético! Imagina-se como será atuar em
semelhante espetáculo. Diz a diretora: "deixe vir a emoção..." (ou
algo assim). E, todos os dias a emoção se constrói, talvez inesperadamente.
Sim, inesperadamente, chegando à compreensão de quem assiste.
É
assustador ler Guimarães Rosa, mesmo sem Bia Lessa nos encaminhando com o seu
olhar. Quando lemos Rosa, principalmente Grande Sertão, ficamos com aquele ritmo, aquela fala nos ouvidos, e embarcamos nela. E aí
compreendemos a sucessão de imagens (há forte impacto, no espetáculo, com a
sucessão de imagens, provocando, mesmo, o sentimento de estar vendo se
desenrolar uma instalação artística e um encontro com a morte...).
Como sabemos, Grande Sertão é a narrativa
do jagunço Riobaldo para um visitante do sertão. A fala contínua do narrador
vai mostrando como são os "viventes" das terras das Gerais a caminho
da Bahia. Vai narrando seus sonhos, suas lutas e suas mortes. O centro da
narrativa é a vingança dos jagunços pela morte de Joca Ramiro, um chefe querido
Os assassinos são Hermógenes e seu bando. Não vemos Leon Goes desde "Os
Gigantes da Montanha", de Luigi Pirandello. Ele é Hermógenes! Ou o que
imaginamos que seja Hermógenes, com sua fala inspirando a guerra! E nunca vimos
Caio Blat em ação. Ou melhor, temos a impressão de nunca tê-lo visto. Ou melhor
ainda, tivemos um encontro surpreendente! Menino, homem, sertanejo, ator. Tudo
se une neste ator de muitas falas, neste Riobaldo que domina a ação! E depois se
destacam as Luiz / sas! -
Arraes e Lemmertz. A Arraes, nas famosas fotos do ensaio vê tolhidos os seus nervos,
a sua resistência, e ela sufoca de tanta emoção! Na legenda da foto (ensaio 56),
declara alguém: "Nova fase. A penúltima antes da estréia. Já escolhemos o
que queremos, agora vamos lapidar, ter controle dos códigos". É Bia Lessa quem
fala, em suas geniais interferências de "joalheira" da encenação.
E saudamos a recém-chegada Luiza Lemmertz,
que mostrou garras afiadas para estabelecer a luta entre Reinaldo/Diadorim e
seu inimigo Hermógenes, assassino de seu pai, o grande (e bondoso) sertanejo
Joca Ramiro. Luiza se integra aos poucos, no sertão carioca! E tem Clara Lessa,
Daniel Passi, Elias de Castro, Lucas Oranmian, e tem, e tem... Não reproduzirei
frases de Rosa, quem quiser ouvi-la vá assistir a este inacreditável
espetáculo!
MAIS
ALGUÉM DA FICHA TÉCNICA? Impossível transmiti-lo. Basta saber que tem uma
Martins Costa (Ana Luiza), como colaboradora, e Amália Lima como assistente de
direção. Ana Souza cria os figurinos. Andreus Oliveria é o encarregado da
estrutura cênica, junto com Eliseu Lopes. Bia Lessa, além de ter sonhado (e
concretizado) seu sonho de montar e dirigir Grande Sertão, adaptou o texto e
fez o seu desenho de luz. O registro fotográfico é de Roberto Pontes junto com
Roberta Dittz. Eles fazem a edição do registro audiovisual - uau!- ! Há, ainda, uma lista infindável de agentes
técnicos, e também os que merecem agradecimentos especiais. Nós agradecemos à
Bia Lessa!