Suzana Nascimento (Jandira) e Vivian Sobrinho (Oneida), em "Alice mandou um Beijo", texto e direção de Rodrigo Portella) (Foto Divulgação) |
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos
de Teatro - AICT)
(Especial)
Depois de assistir Tom na Fazenda, no Rio de Janeiro, fiquei intrigada com o olhar
do diretor Rodrigo Portella, e resolvi assistir Alice mandou um Beijo, do qual ele é
autor e diretor. Em "Alice...", Portella resolveu lembrar momentos de
sua infância em Três Rios (RJ), e estabelecer o seu texto. Interessante notar
que ele, Rodrigo, não se transforma em personagem saudoso, ou magoado, relembrando
um tempo. Muito pelo contrario, o que podemos observar em seu texto é apenas a
observação de uma família do interior, com suas peculiaridades.
Como sabemos, há famílias e famílias. No
caso de Rodrigo, há o aporte de um de seus membros ser "anormal em
excesso", possuindo um defeito difícil de ser combatido, um autismo de
grau elevado... e ativo! - (excelente desempenho de Luan Vieira). Em vista da
"anormalidade" de Roberio (Luan), todos os outros membros da família
se sentem magníficos, tentando colaborar para o seu restabelecimento.
Ora, o fato de os membros da família se
sentirem normais deixa-os livres para interferirem na "normalização"
do menino. Este movimento em torno de Roberio vem a ser a "costura"
da peça, tornando-se (o movimento) obsessivo. Mas quem já não presenciou
obsessões até nas famílias mais sensatas? Conviver não é fácil, daí o óbvio.
Mas Roberio sabe nos surpreender, e a cena
final "se rebelando contra a chatice da família ao querer dar-lhe
"festa de aniversario", é muito boa. Embalado na tentativa de
compreender o menino está seu tio postiço Oswaldo - viúvo de Alice - (interpretado
pro Ricardo Gonçalves).
O elenco é excelente, sutil em sua
loucura, pois sem essa qualidade - a sutileza louca, diabólica! - a peça não se
sustenta. Não que ela não seja boa, que sua escrita não tenha qualidade - tem -
mas o assunto já foi explorado de diversas maneiras. Aliás, as historias são
sempre as mesmas, o que as diferem umas das outras é a sua maneira de
contá-las. Ponto para Rodrigo.
Sigamos: há Jandira (Suzana Nascimento),
nos matando com aquela sua disposição de ser vítima. Há a "hiena"
Oneida (interpretada por Vivian Sobrinho), que é destinada a se dar bem na vida
(será?). E, por último, mas não menos presença forte, Marcos Árcher,
interpretando o pai. Nenhum dos atores perde a medida do que está fazendo,
dizem que isso é mérito da direção, deve ser, porque Rodrigo Portella deixa a
sua marca. E há a cena da água, uma delícia, onde tudo se acalma. E há a cena do
giz, que a tudo desloca.
Devemos acrescentar que, como escrita
teatral, o texto de Portella serve ao que se propõe. E temos uma ficha técnica
excelente: Trilha Sonora de Leo Marvet. Iluminação Renato Machado. Figurinos
(atuais) de Daniele Geammal. Cenografia (uma sala de jantar
"tipique"), de Raymundo Pesine e Rodrigo Portella. Produção
Executiva: Maria Albergaria. Assessoria de Imprensa: Catharina Rocha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário