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segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

"ALICE MANDOU UM BEIJO"

Suzana Nascimento (Jandira) e Vivian Sobrinho (Oneida), em "Alice mandou um Beijo", texto e direção de Rodrigo Portella) (Foto Divulgação) 

IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
      Depois de assistir Tom na Fazenda, no Rio de Janeiro, fiquei intrigada com o olhar do diretor Rodrigo Portella, e resolvi assistir  Alice mandou um Beijo, do qual ele é autor e diretor. Em "Alice...", Portella resolveu lembrar momentos de sua infância em Três Rios (RJ), e estabelecer o seu texto. Interessante notar que ele, Rodrigo, não se transforma em personagem saudoso, ou magoado, relembrando um tempo. Muito pelo contrario, o que podemos observar em seu texto é apenas a observação de uma família do interior, com suas peculiaridades.  
     Como sabemos, há famílias e famílias. No caso de Rodrigo, há o aporte de um de seus membros ser "anormal em excesso", possuindo um defeito difícil de ser combatido, um autismo de grau elevado... e ativo! - (excelente desempenho de Luan Vieira). Em vista da "anormalidade" de Roberio (Luan), todos os outros membros da família se sentem magníficos, tentando colaborar para o seu restabelecimento.
     Ora, o fato de os membros da família se sentirem normais deixa-os livres para interferirem na "normalização" do menino. Este movimento em torno de Roberio vem a ser a "costura" da peça, tornando-se (o movimento)  obsessivo. Mas quem já não presenciou obsessões até nas famílias mais sensatas? Conviver não é fácil, daí o óbvio.
     Mas Roberio sabe nos surpreender, e a cena final "se rebelando contra a chatice da família ao querer dar-lhe "festa de aniversario", é muito boa. Embalado na tentativa de compreender o menino está seu tio postiço Oswaldo - viúvo de Alice - (interpretado pro Ricardo Gonçalves).
     O elenco é excelente, sutil em sua loucura, pois sem essa qualidade - a sutileza louca, diabólica! - a peça não se sustenta. Não que ela não seja boa, que sua escrita não tenha qualidade - tem - mas o assunto já foi explorado de diversas maneiras. Aliás, as historias são sempre as mesmas, o que as diferem umas das outras é a sua maneira de contá-las. Ponto para Rodrigo.
     Sigamos: há Jandira (Suzana Nascimento), nos matando com aquela sua disposição de ser vítima. Há a "hiena" Oneida (interpretada por Vivian Sobrinho), que é destinada a se dar bem na vida (será?). E, por último, mas não menos presença forte, Marcos Árcher, interpretando o pai. Nenhum dos atores perde a medida do que está fazendo, dizem que isso é mérito da direção, deve ser, porque Rodrigo Portella deixa a sua marca. E há a cena da água, uma delícia, onde tudo se acalma. E há a cena do giz, que a tudo desloca.

     Devemos acrescentar que, como escrita teatral, o texto de Portella serve ao que se propõe. E temos uma ficha técnica excelente: Trilha Sonora de Leo Marvet. Iluminação Renato Machado. Figurinos (atuais) de Daniele Geammal. Cenografia (uma sala de jantar "tipique"), de Raymundo Pesine e Rodrigo Portella. Produção Executiva: Maria Albergaria. Assessoria de Imprensa: Catharina Rocha.        

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