Páginas

sábado, 24 de fevereiro de 2018

"GRANDE SERTÃO: VEREDAS"

              "Grande Sertão:Veredas", de Guimarães Rosa. Bando de Jagunços. Em primeiro plano Hermógenes (Leon Góes) assassino                         de Joca Ramiro. (Foto Roberto Pontes)


IDA  VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)

GRANDE SERTÃO: VEREDAS

     Ah! Pois... quem diria que eu estaria assim, virando e revirando aquele programa de 93 fotos dos ensaios, e mais fotos da ação, e aquela força das imagens, dos acontecimentos pulsando nas expressões dos atores: ora alegres, ora desesperados. E aquele nosso medo de entrar no ritmo de Guimarães! Sim, "Grande Sertão: Veredas"...
    Foi assim que fiquei olhando e re-olhando. Escrevo, ou não escrevo? Tanto já se disse sobre Guimarães Rosa! Aí fiquei contando as vezes que Hermógenes aparece nas fotos, quase 10 vezes... Preparando-me. E Riobaldo? E Otacília? E Diadorim...? A atmosfera começou a me contagiar... porque ninguém sai ileso daquele espetáculo de Bia Lessa e Egberto Gismonti... e  Fernando Mello da Costa... e tantos outros! E na Produção Internacional Emilio Kalil! Viajará, então, Riobaldo e seu grande sertão?
     Ah! As fotos da ação! Será que Oskar Metsavaht fotografou aquelas cenas? Não, parece que ele só fez as fotos da bela Diadorim. Foi Alexandre Nunis quem fez as incríveis fotos da ação! E os colaboradores? Marilia Rothier, a minha querida orientadora! E Silviano Santiago! E tantos outros. Já começo a achar que vou escrever alguma coisa... E registro Geovana Martins, Nina Braga e Pamela Leite, e tantas outras! na confecção dos bonecos. É um longo assunto, essa montagem!
     E Bartholo dizendo que o amor entre Riobaldo e Diadorim era como vagalumes cortando o escuro da noite... ou algo assim, poético e verdadeiro! Um olhar, um roçar de mãos, um alarme, uma faísca! E a gente, mesmo sem querer, fica poético! Imagina-se como será atuar em semelhante espetáculo. Diz a diretora: "deixe vir a emoção..." (ou algo assim). E, todos os dias a emoção se constrói, talvez inesperadamente. Sim, inesperadamente, chegando à compreensão de quem assiste.     
      É assustador ler Guimarães Rosa, mesmo sem Bia Lessa nos encaminhando com o seu olhar. Quando lemos Rosa, principalmente Grande Sertão,  ficamos com aquele ritmo, aquela fala  nos ouvidos, e embarcamos nela. E aí compreendemos a sucessão de imagens (há forte impacto, no espetáculo, com a sucessão de imagens, provocando, mesmo, o sentimento de estar vendo se desenrolar uma instalação artística e um encontro com a morte...).
     Como sabemos, Grande Sertão é a narrativa do jagunço Riobaldo para um visitante do sertão. A fala contínua do narrador vai mostrando como são os "viventes" das terras das Gerais a caminho da Bahia. Vai narrando seus sonhos, suas lutas e suas mortes. O centro da narrativa é a vingança dos jagunços pela morte de Joca Ramiro, um chefe querido Os assassinos são Hermógenes e seu bando. Não vemos Leon Goes desde "Os Gigantes da Montanha", de Luigi Pirandello. Ele é Hermógenes! Ou o que imaginamos que seja Hermógenes, com sua fala inspirando a guerra! E nunca vimos Caio Blat em ação. Ou melhor, temos a impressão de nunca tê-lo visto. Ou melhor ainda, tivemos um encontro surpreendente! Menino, homem, sertanejo, ator. Tudo se une neste ator de muitas falas, neste Riobaldo que domina a ação! E depois se destacam as Luiz / sas!  - Arraes e Lemmertz. A Arraes, nas famosas fotos do ensaio vê tolhidos os seus nervos, a sua resistência, e ela sufoca de tanta emoção! Na legenda da foto (ensaio 56), declara alguém: "Nova fase. A penúltima antes da estréia. Já escolhemos o que queremos, agora vamos lapidar, ter controle dos códigos". É Bia Lessa quem fala, em suas geniais interferências de "joalheira" da encenação.
     E saudamos a recém-chegada Luiza Lemmertz, que mostrou garras afiadas para estabelecer a luta entre Reinaldo/Diadorim e seu inimigo Hermógenes, assassino de seu pai, o grande (e bondoso) sertanejo Joca Ramiro. Luiza se integra aos poucos, no sertão carioca! E tem Clara Lessa, Daniel Passi, Elias de Castro, Lucas Oranmian, e tem, e tem... Não reproduzirei frases de Rosa, quem quiser ouvi-la vá assistir a este inacreditável espetáculo!

MAIS ALGUÉM DA FICHA TÉCNICA? Impossível transmiti-lo. Basta saber que tem uma Martins Costa (Ana Luiza), como colaboradora, e Amália Lima como assistente de direção. Ana Souza cria os figurinos. Andreus Oliveria é o encarregado da estrutura cênica, junto com Eliseu Lopes. Bia Lessa, além de ter sonhado (e concretizado) seu sonho de montar e dirigir Grande Sertão, adaptou o texto e fez o seu desenho de luz. O registro fotográfico é de Roberto Pontes junto com Roberta Dittz. Eles fazem a edição do registro audiovisual - uau!- !  Há, ainda, uma lista infindável de agentes técnicos, e também os que merecem agradecimentos especiais. Nós agradecemos à Bia Lessa!            

Nenhum comentário:

Postar um comentário