IDA VICENZIA
( Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
GRITOS, um concepção de André Curti e Arthur Ribeiro encenando
historias narradas por marionettes e atores (Foto Divulgação).
GRITOS
O
premiado espetáculo que nos visita é uma experiência teatral inusitada, com suas marionettes e seu não texto. Gritos - uma concepção de André Curti, Artur Luanda Ribeiro e a marionetista russa
Natacha Belova - nos leva a percorrer várias formas de teatro repletas de poesia e horror. São três narrativas, desenvolvidas
por André, Artur, e os bonecos que se mesclam com o corpo dos atores: Louise; O homem; e Kalsun.
As modificações vão ocorrendo com as
mudanças de luz e do cenário, composto como uma instalação artística, onde estruturas
nuas de colchões de mola, "vão se transformando em objetos insólitos".
O impressionante, em Louise, é a sensação de estranhamento que se levanta, quando
a cena começa, carregada de intenções. Pensamos, a principio, que se trata do
relacionamento sufocante entre mãe e filha (ou filho?), que a principio parece ser
a oferta da cena. A incerteza que desperta o inusitado acaba nos remetendo a uma historia de horror, impressão
de desmembramento do corpo de Louise, gargantas sendo cortadas, imagens que se
esfacelam, tudo nos levando à presença do teatro de grand guignol !!!
O
segundo "poema" é o esfacelamento do homem, e a impressão continua, reforçando
a sensação de teatro aos pedaços. Para os atores trata-se de "um
poema gestual entre o sonho, o onírico e o absurdo". Claro, pode ser. O
que faz sentido é a força das imagens que os dois artistas conseguem, com este experimento
absurdo que acaba por nos abstrair do seu componente humano. É impressionante a
semelhança dos atores com os personagens masculinos que manipulam!
A última imagem deste "Grito 1"
é a mãe solitária, na cena que se dilui, dando-nos a impressão de um "ser
humano" - e não um boneco - abstraído dos acontecimentos que o rodeiam.
Mais uma vez a sensação de realidade ronda o teatro das marionetes.
O Grito 2: "O homem" - situação insólita
de uma cabeça presa em uma gaiola. Os dois atores estão em cena, afastados pelo
cenário das paredes metálicas: um carrega o corpo sem cabeça do homem, e o
outro ator equilibra uma cabeça, o que transmite uma sensação de angustia ver
aquelas partes dissociadas (mais uma vez a sensação do teatro de grand guignol, salvaguardando os excessos da cena francesa da virada do século XX).
No espetáculo, abstraindo a cena grotesca constatamos a
expressão facial dos bonecos e se torna quase impossível dela abstrair a condição de seres irreais. Somos guiados pela perfeição de suas expressões, a ponto de nos
deixar envolver poe elas.
Temos a impressão de que os bonecos possuem vida própria! Mais uma vez, a narrativa do esfacelamento do homem! Há, entretanto, nos gestos dos atores, na concepção do cenário, na iluminação que a tudo modifica, um clima poético que nos trás estranhamento e que continua a se desenvolver em suas pausas, silêncios, e a música evanescente.
"O homem" em cena, a segunda historia é a que menos carrega emoções, abstraindo a cena inicial, quando as duas metades do homem entram em cena, em um lusco-fusco e um crescendo de pássaros, quando seus braços (iluminados oníricamente) se assemelham a bicos de aves gigantes!
Temos a impressão de que os bonecos possuem vida própria! Mais uma vez, a narrativa do esfacelamento do homem! Há, entretanto, nos gestos dos atores, na concepção do cenário, na iluminação que a tudo modifica, um clima poético que nos trás estranhamento e que continua a se desenvolver em suas pausas, silêncios, e a música evanescente.
"O homem" em cena, a segunda historia é a que menos carrega emoções, abstraindo a cena inicial, quando as duas metades do homem entram em cena, em um lusco-fusco e um crescendo de pássaros, quando seus braços (iluminados oníricamente) se assemelham a bicos de aves gigantes!
No Grito 3 - "Kalsun" - conta-se uma historia que nos enche de dor. Inicialmente somos carregados pela
beleza da cena oriental, com a mulher envolta em seu xador, e seu olhar de
expressão humana! Nesta historia aparece viva o confronto com a dor! Que historia terrível nos é contada! Dizem
os atores que se trata de uma historia de amor. Sim, da dor do amor. Trata-se do
esfacelamento de uma pequena vida (o amor), a infância!
... e eis que retorna o terrível teatro do grand guignol, com os pedaços da carne da criança a serem "reorganizados" para terminar a cena!
A mala gira, escapando da mão materna, e "o menino de olhos humanos!" aparece, temeroso do momento em que sua vida lhe escapa!
... e eis que retorna o terrível teatro do grand guignol, com os pedaços da carne da criança a serem "reorganizados" para terminar a cena!
A mala gira, escapando da mão materna, e "o menino de olhos humanos!" aparece, temeroso do momento em que sua vida lhe escapa!
Ficamos, mais uma vez, surpreendidos com o
poder de comunicação deste espetáculo sem palavras. E, um fato que nos deve surpreender: os atores se envolvem emocionalmente com seus bonecos humanos? Impossível não se envolver, tal a perfeição da oferta. .... Aconselha-se, para quem ainda não assistiu a Companhia Dos à Deux, a não perder a essa nova oportunidade que se apresenta ao público carioca. Vida longa ao trabalho de Arthur, André e Natasha!
Registramos da Ficha Técnica que a dramaturgia,
direção, cenografia, interpretação e manejo dos bonecos são de Artur Luanda Ribeiro e André Curti. Criação musical: Fernando Mota. Pesquisa e criação dos bonecos (além da já citada Natacha Belova), temos a colaboração de Bruno Duarte, e assistência
de Cleyton Dürr. Assessoras de Imprensa, no
Rio: Bianca Senna e Paula Catunda
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