Páginas

domingo, 2 de junho de 2013

"MANUSCRITOS DE LEONARDO"


Patricia Niedermeier e Marina Salomon em "Manuscritos de Leonardo", espetáculo de Regina Miranda.

                                                (Foto de Luís Paulo Neném Peixoto)



 

 

 





CRÍTICA DE TEATRO
IDA VICENZIA FLORES
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)


"Quem é ligado às estrelas tem a mente forte" -  (esta frase, que poderia ser de Leonardo da Vinci, ilustra bem o espírito do espetáculo)

O Rio de Janeiro recebeu um presente. Regina Miranda, a coreógrafa dos Atores Bailarinos volta à ação, brindando sua cidade natal com o espetáculo "Manuscritos de Leonardo" (Sesc Copacabana, Sala Multiuso), na qual desdobra, sob sua direção, os escritos do sábio renascentista, com a leitura de alguns de seus manuscritos. 

     Adaptado ao envolvimento da coreógrafa com a linguagem de Rudolf Laban, Regina coloca Leonardo em contato direto com os ensinamentos do coreógrafo austro-húngaro. Assistir a este espetáculo é "ficar ligado às estrelas", como queria da Vinci. 

     Dessa vez, Regina Miranda escolheu duas artistas que são representantes, opostas, da linguagem da dança: a guerreira Marina Salomon e a ninfa Patricia Niedermeier. Uma mistura simbólica e arrojada, já que Regina consegue reunir todos os aspectos do feminino na manifestação das duas intérpretes. 

     Mas, naturalmente, não é só disso que  trata o espetáculo. Nele  temos a visão integrada do que é a linguagem dos atores bailarinos, e de Laban. Marina Salomon representa a expressão dos vértices, das diagonais  amplificadas, dos vôos espaciais dessa "corporalidade que se descobre em suas dobras", como disse uma vez Helena Katz. Patricia Niedermeier, com suas figuras geométricas, dá-nos a sensação dos ângulos abruptos, dessa organização espacial pensada por Laban. E Regina Miranda organiza as manifestações e dá-lhes o formato teatral. E as duas atrizes-bailarinas evoluem, dizendo os textos racionais e sofisticados de Leonardo da Vinci, sem perder fôlego ou expressão. O que não é fácil. 

     Em suma: um espetáculo inspirado. Nele as águas têm uma preponderância absoluta. São descritas - e manipuladas, em suas textualidades. Assim vemos a água pesada, a salgada, a doce, a magnesiana, a alcalina... a ferruginosa! E tantas outras, e uma só! A manipulação com a água nos leva ao laboratório  de "Da Vinci". A seus pensamentos. Texto e movimentos são integrados, regidos pela música renascentista dos tempos do artista. Leonardo, como se sabe, é o representante máximo do homem do Renascimento, cujos interesses culturais se espraiavam em direção aos mais variados assuntos, como engenharia, matemática, arquitetura, botânica, sendo ele também um artista plástico e um inventor. Porém, em seus manuscritos, Regina abordou os estudos de Leonardo no que se refere às potencialidades da água, e somos levados pelo turbilhão que esse elemento pode desencadear, com suas  tempestades, ondas marítimas e calmarias de água doce, porém sem esquecer os verdadeiros rios e mares subterrâneos que a nossa pele abriga... com textura de sangue!      
      
     "Manuscritos de Leonardo (L. II. Nos. 919-965)" é um estudo da alma se unindo ao corpo, é uma experiência imperdível que aconselhamos a todos os humanos, sejam eles apaixonados ou não por dança e teatro. Colaborando com tanta beleza e precisão, temos o cenário detalhado de frascos e recipientes, projeções e espaços idealizado por Regina Miranda e Elisabete Reis; os figurinos, determinantes, das personagens, pensados por Carolina Herszenhut, acentuam a característica de mulher forte e guerreira de Marina Salomon (volto a afirmar que ela é a mais pura representante das atrizes de sangue renascentista, "the right woman in the right place"), e a "suavidade-fúria" da interpretação de Patrícia Niedermeier, envolta em rosa e beije, em "pasteis" que  combinam com o agressivo vermelho da nossa dama, fruto vivo da Escola de Laban, que é Salomon. É sempre um impacto vê-la dançar. 

     O desenho de luz de Luís Paulo Neném é decisivo para a linguagem de intensidades e "cortes" abruptos que o espetáculo administra. A direção de vídeo de Cavi Borges une-se à força e beleza do desenho de Neném. A projeção final, com detalhes de pinturas de Da Vinci (cabelos revoltos interpretando águas revoltas?), seguida dos textos incidentais de Regina Miranda - textos estes que "costuram" o espetáculo com as observações científicas (e poéticas) de Leonardo da Vinci. Imperdível.      

Fotografia de Vídeos: Vinicius Brum.
Edição de Vídeos: Marcelo Brandão.
Trilha Sonora: Compositores Anônimos do Renascimento Italiano.
Pintura de Arte: Naira Santana.
Fotografia: Fabio Pamplona.
Produção Executiva: Alexei Waichenberg.
Regina Miranda é fundadora da organização
"Cidade Criativa/Transformações Culturais" e coordena o projeto "Rio Cidade Criativa 2010-2012".
Entre as atividades que exerceu, destaca-se a de Diretora de Arte & Cultura do Insituto Laban/Bartenieff
de Estudos do Movimento - NYC.

Um comentário:

  1. Me deu uma vontade ENORME de ver ...
    Só por ler esta crítica sua...

    ResponderExcluir