Patricia Niedermeier e Marina Salomon em "Manuscritos de Leonardo", espetáculo de Regina Miranda.(Foto de Luís Paulo Neném Peixoto) |
CRÍTICA DE TEATRO
IDA VICENZIA FLORES
(da Associação Internacional de
Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
"Quem é ligado às estrelas tem a mente forte" - (esta frase, que poderia ser de Leonardo da
Vinci, ilustra bem o espírito do espetáculo)
O Rio de Janeiro recebeu um
presente. Regina Miranda, a coreógrafa dos Atores Bailarinos volta à ação,
brindando sua cidade natal com o espetáculo "Manuscritos de Leonardo"
(Sesc Copacabana, Sala Multiuso), na qual desdobra, sob sua direção, os
escritos do sábio renascentista, com a leitura de alguns de seus manuscritos.
Adaptado ao envolvimento da coreógrafa com
a linguagem de Rudolf Laban, Regina coloca Leonardo em contato direto com os
ensinamentos do coreógrafo austro-húngaro. Assistir a este espetáculo é "ficar
ligado às estrelas", como queria da Vinci.
Dessa vez, Regina Miranda escolheu duas artistas
que são representantes, opostas, da linguagem da dança: a guerreira Marina
Salomon e a ninfa Patricia Niedermeier. Uma mistura simbólica e arrojada, já
que Regina consegue reunir todos os aspectos do feminino na manifestação das duas
intérpretes.
Mas, naturalmente, não é só disso que trata o espetáculo. Nele temos a visão integrada do que é a linguagem
dos atores bailarinos, e de Laban. Marina Salomon representa a expressão dos vértices, das
diagonais amplificadas, dos vôos
espaciais dessa "corporalidade que
se descobre em suas dobras",
como disse uma vez Helena Katz. Patricia Niedermeier, com suas figuras
geométricas, dá-nos a sensação dos ângulos abruptos, dessa organização espacial
pensada por Laban. E Regina Miranda organiza as manifestações e dá-lhes o formato
teatral. E as duas atrizes-bailarinas evoluem, dizendo os textos racionais e
sofisticados de Leonardo da Vinci, sem perder fôlego ou expressão. O que não é
fácil.
Em suma: um espetáculo inspirado. Nele as
águas têm uma preponderância absoluta. São descritas - e manipuladas, em suas
textualidades. Assim vemos a água pesada, a salgada, a doce, a magnesiana, a
alcalina... a ferruginosa! E tantas outras, e uma só! A manipulação com a água
nos leva ao laboratório de "Da
Vinci". A seus pensamentos. Texto e movimentos são integrados, regidos pela
música renascentista dos tempos do artista. Leonardo, como se sabe, é o representante
máximo do homem do Renascimento, cujos interesses culturais se espraiavam em
direção aos mais variados assuntos, como engenharia, matemática, arquitetura,
botânica, sendo ele também um artista plástico e um inventor. Porém, em seus
manuscritos, Regina abordou os estudos de Leonardo no que se refere às
potencialidades da água, e somos levados pelo turbilhão que esse elemento pode
desencadear, com suas tempestades, ondas
marítimas e calmarias de água doce, porém sem esquecer os verdadeiros rios e
mares subterrâneos que a nossa pele abriga... com textura de sangue!
"Manuscritos de Leonardo (L. II. Nos.
919-965)" é um estudo da alma se unindo ao corpo, é uma experiência imperdível
que aconselhamos a todos os humanos, sejam eles apaixonados ou não por dança e
teatro. Colaborando com tanta beleza e precisão, temos o cenário detalhado de
frascos e recipientes, projeções e espaços idealizado por Regina Miranda e
Elisabete Reis; os figurinos, determinantes, das personagens, pensados por
Carolina Herszenhut, acentuam a característica de mulher forte e guerreira de
Marina Salomon (volto a afirmar que ela é a mais pura representante das
atrizes de sangue renascentista, "the right woman in the right
place"), e a "suavidade-fúria" da interpretação de Patrícia Niedermeier,
envolta em rosa e beije, em "pasteis" que combinam com o agressivo vermelho da nossa
dama, fruto vivo da Escola de Laban, que é Salomon. É sempre um impacto vê-la dançar.
O desenho de luz de Luís Paulo Neném é
decisivo para a linguagem de intensidades e "cortes" abruptos que o
espetáculo administra. A direção de vídeo de Cavi Borges une-se à força e
beleza do desenho de Neném. A projeção final, com detalhes de pinturas de Da
Vinci (cabelos revoltos interpretando águas revoltas?), seguida dos textos incidentais
de Regina Miranda - textos estes que "costuram" o espetáculo com as
observações científicas (e poéticas) de Leonardo da Vinci. Imperdível.
Fotografia de Vídeos: Vinicius Brum.
Edição de Vídeos: Marcelo Brandão.
Trilha Sonora: Compositores Anônimos
do Renascimento Italiano.
Pintura de Arte: Naira Santana.
Fotografia: Fabio Pamplona.
Produção Executiva: Alexei
Waichenberg.
Regina Miranda é fundadora da organização
"Cidade Criativa/Transformações Culturais" e coordena o projeto "Rio Cidade Criativa 2010-2012".
Entre as atividades que exerceu, destaca-se a de Diretora de Arte & Cultura do Insituto Laban/Bartenieff
de Estudos do Movimento - NYC.
"Cidade Criativa/Transformações Culturais" e coordena o projeto "Rio Cidade Criativa 2010-2012".
Entre as atividades que exerceu, destaca-se a de Diretora de Arte & Cultura do Insituto Laban/Bartenieff
de Estudos do Movimento - NYC.
Me deu uma vontade ENORME de ver ...
ResponderExcluirSó por ler esta crítica sua...