quarta-feira, 28 de maio de 2014
sábado, 24 de maio de 2014
"CLARICE É MAIS CARIOCA DO QUE CECÍLIA"
A nossa poeta Cecília Meireles, linda como um anjo. |
IDA VICENZIA
No tempo em que se
podia assistir uma espetáculo com os textos de Cecília Meireles (anos 90), eu
assisti Cânticos, no Café Cultural,
um casarão caindo aos pedaços, na Rua Bambina (provavelmente já não existe
mais). Fiquei apaixonada pela poeta e resolvi escrever sobre ela. Os
"guardiões" da obra de Cecília certamente não souberam da encenação de
Cânticos.
Com exceção de sua
filha Maria Fernanda, e da neta de Cecília, Fernandinha, os "herdeiros"
não são muito chegados a teatro. Digo "herdeiros" porque a poeta não
é mais do seu povo, do povo brasileiro. Pobre Cecília, a poeta do Romanceiro!
Enquanto isso, a nossa
brava "ucraniana", a muito brasileira Clarice Lispector, não deixa o
espetáculo. Artista nasceu para isso, para o espetáculo. O de sua literatura é
imbatível. Exposições com sua obra, peças de teatro sobre sua vida, monólogos.
Artistas de renome, premiadas, transformaram-se em Clarice Lispector! Araci
Balabanian, Natália Thimberg, Beth Goulart. E tantas outras! Como é bom ser
Clarice! Ela continua viva.
Nossa poeta Cecília,
está encarcerada. Coisas assim só aconteciam na Espanha. Condenaram Garcia Lorca!
Filhos, não os teve. Porém havia outras gentes proibindo que ele saísse da vala
comum em que Franco o jogou. Em "su Granada"!
Somos um país jovem,
mas nossas entranhas estão esclerosadas. Sim, impedir o acesso à obra de um
artista é voltar ao mal-amado tempo dos militares. É legitimar a censura! (Bem,
parece que as coisas estão mudando lá pros lados do Senado da República, vamos
ver).
O trio de talentosas
mulheres que surgiu na primeira metade do século vinte, Clarice Lispector,
Cecília Meireles e Lygia Fagundes Telles, hoje segue seu caminho. Lygia está
sempre em cartaz, ora com seu romance Ciranda
de Pedra, ora com As Meninas. Qual
é o problema em se tornar amada?
Cecília foi estigmatizada!
Quantos já me disseram:
"Mas você foi escolher a Cecília para a sua tese! É loucura se atirar
nessa empreitada". Tarde demais, eu já estava apaixonada por Cecília.
Lygia foi adaptada para
a televisão. Ficou quase irreconhecível, o seu romance Ciranda de Pedra, porém é um belo trabalho, e honra a nossa grande
escritora. Ela também, como Clarice, está presente em filmes e peças de teatro.
Lygia não utiliza a censura, ela é uma artista sensível que habita "o país
das artes".
Vocês podem pensar que
estou dando esse grito porque fui vítima da censura. É verdade. Eu fui. Querem
jogar fora um trabalho que levou 12 anos da minha vida! Mestrado e Doutorado. Não
fiz nada mais do que estruturar a vida de Cecília Meireles, através de seus
relatos. A Dama da Lua (o primeiro livro
censurado) conta, através das palavras de Cecília - e esse era o seu desejo -
sua trajetória, alguns trechos de suas obras (todas já devidamente publicadas,
em tempos melhores), palavras suas e depoimentos dos que conviveram com ela.
Trabalho meticuloso e árduo. Não quero nem pensar em "O Teatro Poético de
Cecília Meireles", que vem aí com material inédito!
Melhores tempos virão,
tenho certeza.
sábado, 3 de maio de 2014
LOUISE LECAVALIER - "SO BLUE"
Louise Lecavalier em "So Blue" - 2014 - Theatro Municipal do Rio de Janeiro. |
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional
de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
Louise
Lecavalier, a "francesa canadense" que empolgou os palcos do Rio de Janeiro,
sendo a sensação do Carlton Dance Festival dos anos 90 com "La, La, La, Human
Steps", fez uma rápida visita ao Rio (somente uma apresentação) no
Festival O Boticário na Dança, e deixou seus fãs, novamente, eletrizados. Para
quem nunca a assistiu, foi um choque de civilização artística, em vários sentidos.
Louis Lecavalier nos mostra, em cena, que somos uma mistura de prótons e
elétrons cuja ação não conhece limites.
Esse
ser andrógino vai além do seu próprio corpo. Durante uma hora e trinta minutos
o palco do Theatro Municipal foi tomado por uma eletricidade jamais imaginada em
cena. E, coisa curiosa, seu partner, o bailarino Frédéric Tavernini, vai sendo
tomado aos poucos pelo contato do corpo da bailarina. Embora pareça incrível, eles
apenas estão criando um novo sentido para a dança.
A
música do espetáculo, do turco Dede Mercan, mistura aspectos da tradicional arte
musical da Turquia, com outros sons orientais e música eletrônica. Há também sons
adicionais de Normand-Pierre Bilodeau, Daft Punk e Meilko Kaji, com remixagem
de Normand-Pierre Bilodeau. A criação da performance é de Louise Lecavalier e
Fréderic Tavernini. O que nos parece, à primeira vista, algo de fácil leitura,
vai aos poucos se transformando em um trabalho de complexa precisão. Tal
precisão aumenta, consideravelmente, quando Tavernini entra em cena, estabelecendo-se
um jogo de suporte e rejeição.
O
palco nu é sustentado pelo claro/escuro da iluminação de Alain Lortie. Essa
iluminação, incindindo sobre o figurino de Lecavalier (criado por Yso), sublinha as alterações do mesmo, fazendo com
que ele mude rapidamente de cor, indo do azul para o fúcsia e intensificando o
efeito cênico. O espetáculo, ao que parece, é uma união Oriente-Ocidente em sua
troca de calma e agitação conseqüentes. Nossa imaginação não está longe da
verdade, já que os artistas que preparam a cena são quase todos de origem
oriental, a começar por Mercan, cujos trabalhos anteriores citam obras dos Sufis
e músicas dos Dervishes. Talvez seja uma tentativa de Lecavalier/Tavernini valorizarem
linguagens artísticas e trazerem para o ocidente a criatividade oriental. De
qualquer forma, trata-se de um espetáculo desconcertante, que trabalha a nossa imaginação,
e faz pensar.
Assistente
de coreografia e direção de ensaios, France Buyère. Com muitos prêmios no
currículo, Lecavalier desperta merecida atenção de bailarinos e público. Bem vindos
ao Rio de Janeiro de 2014!
quinta-feira, 1 de maio de 2014
"RANDEVU DO AVESSO"
Alice Borges (Melinda, a cantora viciada) e Anna Claudiah Vidal (Tarja Preta) em "Randevu do Avesso", texto de Claudia Mauro, direção Alice Borges. |
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional
de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
Como
é bom ver um Teatro Musical com "cabeça"...tronco, membros e coração!
Hey, you, fellows in New York, you have to bye "Randevu upsidedown" -
(and show it in your theatre, in Portuguese, with legends in English) - and you'll make lots of money, money, money! As
you like it.
Adrenalina
pura! E Teatro como a gente gosta, não tem um ator dando furo, ô timezinho
unido! E talentoso. Começando por quem teve a idéia: Claudia Mauro. Supervisão
de José Possi Neto, Direção de Alice Borges, Édio Nunes e Marcos Ácher. Como
diz Possi Neto - e essa que vos escreve assina
embaixo - há que se "abrir as portas desse Randevu para que o mundo
ouça". Há quanto tempo não vemos uma idéia nova, inteligente, divertida, e
com uma história fantástica para contar, no palco musical?
Acho
que não vou fazer uma crítica, mas uma apologia... Fiquei novamente alucinada pelo
teatro musical. Olhem só o "alucinada". "Randevu do Avesso"
é o musical que se ama à primeira vista, quando os atores, dançando, começam a entrar
pela plateia. E que atores! Às vezes há situações hilárias que fazem chorar de
tanto rir. Seria a conseqüência de uma noite de despedida? Era seu último dia ...
Espero que este espetáculo volte muito em breve para os palcos cariocas. E do
mundo! Falando sério, ele é muito melhor do que as coisas que a gente vê na
Broadway. Ele é "off Broadway".
Vamos
lá: o espetáculo desenha o corpo humano. Há Claudia Mauro (Afrodite Pinefrina) e
o vermelho da hemoglobina; Gisela Saldanha (Lady Adrianina) e o branco dos leocócitos Elas são as duas personagens que dão energia a Melinda, a cantora
viciada (Alice Borges) Pára tudo! Nunca tinha visto Alice Borges em cena.
Talvez em "O Baile", mas nunca assim.
Continuando...Édio
Nunes é meu conhecido de outras
apresentações. Ele é o Pentelho Profeta e o Maestro Multipotente (entre
outros). "Nunca o tinha visto assim..." (pelo jeito vou ficar
repetindo esse refrão). Depois Marcos Ácher, o pobre Cirrus Hepaticus. Sua
colocação no mapa do corpo humano o faz agüentar todo tipo de bebida que
Melinda resolve absorver... Ele, - e o apresentador (o Sanus Insanus Léo
Wagner) - fazem uma brincadeira com as reclamações da crítica a respeito da voz
teatral... Sanus Insanos expulsa Cirrus Hepaticos da cena, pela sua má
apresentação, dizendo "vai aprender a cantar, a colocar a tua voz de ator!"
(ou algo assim). Temi por Ácher. Mas fazia parte da brincadeira, pois Árcher, o
sisudo anti-ator dos tempos do Grupo Demolição, transformou-se nesta maleável
maravilha canora e falante que se apresenta como Cirrus Hepaticus, Espermaurício
e Dona Menô (que velhinha danada, procurando os remédios!). Quanta coisa estes
atores estavam escondendo, não? "Randevu do Avesso" merece o melhor.
O
que mais? Há, as músicas! E Charles Fernandes fazendo o Laringo-goboy (o vírus?)
Todos dançam e todos cantam: Najla Raja (Mezzo Cotoca - Mezzo Sopranina); Anna
Claudiah Vidal (Gina Falópipo e Tarja Preta), muito boas, as duas. E Alice Borges
(Maria Têta) fazendo o arriscadíssimo número de platéia e contando (no palco)
as dores de ser um peito de mulher.
Figurinos
de Claudio Tovar, e sua técnica teatral imbatível (figurinista assistente
Wanderley Gomes); cenário arrasador de Nelo Marrese, com o camarim da Diva e suas
loucuras bem à mostra, no centro do palco, e contraindo-se atrás de cortinas,
quando é necessário encobri-la... Iluminação
de Paulo César Medeiros. E, ah, as músicas!!!!! Os arranjos vocais, as canções
originais e trechos de músicas conhecidas. Cláudia Mauro abre o espetáculo cantando
uma poética canção... queria saber de quem era a letra. Soube. Claudio Lins. Arranjos
vocais, Tony Lucchesi. Desenho de Som, Leandro Lobo. Coreografias: Adriana Nogueira, Charles Fernandes, Édio Nunes e Maria Araujo. Colaboração Coreográfica: Eliane Carvalho (Flamenco) e Silvia Matos (Tango). Como vimos, uma equipe
exemplar. Arranjos instrumentais de Claudio Lins, Guilherme Borges e Tony Lucchesi.
Fotos Dalton Valério. Divulgação Pontes, Stephany e Evandro Rius.
É
bom ver bom teatro!
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