A partir da direita: Rodrigo Rosado (Julio); Silvana D'Lacoc (Cris); Lozano Raia (Breno) e Akin Garragar (Daniel), direção Alexandre Borges.
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
Dessa
vez trata-se de uma experiência temerosa. Fazer teatro com um texto - limite como esse "Uma pilha de Pratos na Cozinha", de Mário Bortolotto (que de
trivial só tem o título), é uma aventura. Quando Rodrigo Rosado e Silvana
D'Lacoc convidaram Alexandre Borges para dirigi-los, os três já sabiam que
estavam fazendo um "teatro de garagem", mal-educado, anti-convencional.
Acertaram. O texto de Bortolotto soa estranho, e agrada a um público muito especial:
os pesquisadores da alma humana.
Há
quatro personagens nesse sub-mundo: o pianista Daniel (interpretado por Akin
Carragar), que parece ser o mais estruturado. Ele, ao menos, exerce uma
profissão, tem um dom e a alma sensível. Os outros três, talvez pela descrença
(Julio), pela ação das drogas, ou talvez pela curiosidade, Cris (Silvana L'Dacoc), e Breno, o síndico desse sub-mundo (Lozano Raia).
Julio
(interpretado por Rodrigo Rosado), parece ter ficado assim, "o gato de
apartamento olhando pela janela" depois de uma desilusão amorosa. A
culpada é a Cris... Irônico, ele aconselha ao ex-amor a ser mais "pragmática" ao falar, porque, afinal, ela possui uma formação universitária.
Aliás,
essa interpolação de palavras cultas com palavras chulas é muito bom. Daniel: "é
inerente ao seu caráter sardônico", referindo-se às ironias de Julio. A
"misoginia" também é citada. Cris, a mulher, sofre desbragadamente, e
não tem nenhum "super ego" incomodando-a. O "fazer a mulher sofrer",
talvez seja uma característica da personalidade do autor. Talvez um misógino? O
fato é que todos os personagens "sofrem desbragadamente".
Enfim,
o jogo de cena está muito bem armado pelo diretor Alexandre Borges e a cenógrafa
Daniele Geammal. Um palco nu, um ator solitário, um compasso monocórdio. De repente,
estoura a música e o espaço vira cena. Esse ritmo de rock, agitado, Borges
conseguiu de seus atores, passando para o público o teatro de Bortolotto. Ótima
direção.
O
autor não julga, ele apenas atira questões aos expectadores. Há frases que fazem
pensar, como a de Julio (Rodrigo Rosado): "O medo é o segundo estágio
[...], para ter medo eu preciso ter interesse". Essa conclusão serve para qualquer
experiência humana. No caso, foi a respeito de um papo sobre homossexualismo. Quem
fica com o clichê é o síndico homossexual enrustido, Breno, interpretado com entrega
por Lozano Raia. Todos são desesperados. "Encarando a morte", como
diz Cris.
É
bom assistir "Uma pilha de pratos...". Encontramos um texto
inteligente, com várias referências, inclusive musicais (estilo do autor),.e uma
grossura que certamente vai ferir os mais delicados. Há também um humor
sombrio. O público precisa saber o que está fazendo, ao escolher um texto de
Bortolotto para assistir.
A
luz de Aurélio di Simoni não é poética. Sua luz é às vezes velada,
às vezes aberta: direta e certeira como o texto. Nos figurinos (essa maneira
Praça Roosevelt de ser), Daniele Geammal; Cenotécnico e Pintura de Arte, Renato
Marques; Assessoria de Imprensa: Minas de Ideias; Idealização: Rodrigo Rosado e
Silvana D' Lacoc.
Embora
aflitivo, esse teatro é bom. E é bom ver bom teatro!
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