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quinta-feira, 12 de junho de 2014

RICARDO III

Gustavo Gasparani (Ricardo III) envolvido com a narrativa da guerra. (foto divulgação)




IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)

O que Shakespeare acharia da versão de Ricardo III criada por Gustavo Gasparani e Sérgio Módena? Podemos imaginar que se divertiria muito. Os artistas têm senso de humor e, para nossa surpresa, o público do século XXI também! Tragédias de Shakespeare aceitam todas as loucuras, já vimos ator pedir socorro, na cena final de Ricardo III, gritando: "meu reino por uma moto!" - em vez de um cavalo.
Mas Gasparani nos mantém atentos, quando, entre fugas e retornos ao texto, chega até a guerra que irá derrotar o "vilão". Neste final o ator mostra - e cremos que propositadamente - o que os atores têm de melhor: a sua criança. E eis que a solução fantástica para essa guerra se resolve com canetas coloridas, azuis e vermelhas, representando os dois adversários. E tudo acontece como se fosse um brinquedo - não essa castradora guerrinha dos jogos eletrônicos - mas a guerra do Ricardo que temos em nossa imaginação. Ouvimos ruídos da cavalaria se aproximando; das espadas se chocando, da respiração arfante, - tudo em um crescendo no qual o único recurso do ator é a sua voz e o seu talento. E, no meio do combate, com gestos, Gasparani rege a plateia...
Nesta adaptação de Shakespeare há o ator e seu contraponto, o texto. Quando começa, Gasparani adverte ao público que a história que vai contar é "metade verdadeira e metade ficção". Ficamos surpreendidos com a viva explicação da árvore genealógica daquelas "Famílias" todas. Dessa vez é com os Plantagenetas

E tem início a mais original versão shakespeariana. Gasparani se transforma em Lady Anne, nas mulheres do povo com seu sotaque peculiar, em condes e príncipes, em rainhas desesperadas. Não há como relatar as metamorfoses de Gasparani, desde o momento em que, pela primeira vez, o ator se transforma em Ricardo III.

Não somos especialistas em Shakespeare, infelizmente, mas percebemos que o enredo de Ricardo III foi respeitado e os personagens essenciais surgiram das mãos de Gasparani. A ficha técnica também não lhe ficou atrás. Temos Ana Amélia Carneiro de Mendonça traduzindo as falas ritmadas; Gasparani e Módena fazendo a contextualização para os nossos dias. Módena, como Shakespeare, sabe brincar com as situações terríveis. Ótima direção.
Assistente de Direção, Erika Ribas; Direção musical, Marcelo Alonso Neves; Cenografia (simples e funcional), Aurora dos Campos. Figurinos Marcelo Olinto. Iluminação Tomas Ribas; Direção de movimento Marcia Rubin. Pesquisa e apoio teórico, Liana Leão; preparação vocal Marly Santoro de Britto. Produção: Alice Cavalcante.

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