Gustavo Gasparani (Ricardo III) envolvido com a narrativa da guerra. (foto divulgação) |
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro -
AICT)
(Especial)
O
que Shakespeare acharia da versão de Ricardo III criada por Gustavo Gasparani e
Sérgio Módena? Podemos imaginar que se divertiria muito. Os artistas têm senso
de humor e, para nossa surpresa, o público do século XXI também! Tragédias de Shakespeare aceitam
todas as loucuras, já vimos ator pedir socorro, na cena final de Ricardo III, gritando: "meu reino por
uma moto!" - em vez de um cavalo.
Mas
Gasparani nos mantém atentos, quando, entre fugas e retornos ao texto, chega até
a guerra que irá derrotar o "vilão". Neste final o ator mostra - e cremos
que propositadamente - o que os atores têm de melhor: a sua criança. E eis que
a solução fantástica para essa guerra se resolve com canetas coloridas, azuis e
vermelhas, representando os dois adversários. E tudo acontece como se fosse um
brinquedo - não essa castradora guerrinha dos jogos eletrônicos - mas a guerra do
Ricardo que temos em nossa imaginação. Ouvimos ruídos da cavalaria se
aproximando; das espadas se chocando, da respiração arfante, - tudo em um
crescendo no qual o único recurso do ator é a sua voz e o seu talento. E, no
meio do combate, com gestos, Gasparani rege a plateia...
Nesta
adaptação de Shakespeare há o ator e seu contraponto, o texto. Quando começa, Gasparani
adverte ao público que a história que vai contar é "metade verdadeira e
metade ficção". Ficamos surpreendidos com a viva explicação da árvore
genealógica daquelas "Famílias" todas. Dessa vez é com os Plantagenetas
E
tem início a mais original versão shakespeariana. Gasparani se
transforma em Lady Anne, nas mulheres do povo com seu sotaque peculiar, em
condes e príncipes, em rainhas desesperadas. Não há como relatar as
metamorfoses de Gasparani, desde o momento em que, pela primeira vez, o ator se
transforma em Ricardo III.
Não
somos especialistas em Shakespeare, infelizmente, mas percebemos que o enredo
de Ricardo III foi respeitado e os personagens essenciais surgiram das mãos de Gasparani.
A ficha técnica também não lhe ficou atrás. Temos Ana Amélia Carneiro de
Mendonça traduzindo as falas ritmadas; Gasparani e Módena fazendo a contextualização
para os nossos dias. Módena, como Shakespeare, sabe brincar com as situações
terríveis. Ótima direção.
Assistente
de Direção, Erika Ribas; Direção musical, Marcelo Alonso Neves; Cenografia (simples
e funcional), Aurora dos Campos. Figurinos Marcelo Olinto. Iluminação Tomas
Ribas; Direção de movimento Marcia Rubin. Pesquisa e apoio teórico, Liana Leão;
preparação vocal Marly Santoro de Britto. Produção: Alice Cavalcante.
Que máximo, Ida! Estou louca para ver. Beijos.
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