Debora Falabella e Yara de Novaes, em Contrações, direção de Grace Pasô |
IDA
VICENZIA
(da
Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
CONTRAÇÕES
Sabemos que o teatro é uma lente de aumento sobre o
mundo, mas o teatro dirigido por Grace Pasô é um Hublle. O Grupo 3, iniciado
pelos atores mineiros Yara de Novaes, Debora Falabella e Gabriel Fontes Paiva
está em sua quarta montagem. O texto dessa última montagem é escrito por Mike
Barttlett (tradução Silvia Gomes), um autor inglês contemporâneo. Seu trabalho
é "embalado" pelas mãos precisas da diretora Grace Pasô, que nos traz
um espetáculo fora dos rótulos. É grande a tentação de pensar em Ionesco, mas
do autor romeno ele não tem nada. Aliás, o autor inglês, Barttlett, vai muito
além, ele se interessa pela História da Humanidade e a humilhação dos povos. Ao
focalizar as duas personagens há uma visão universal sobre a degradação a que
certas situações podem levar um ser humano. E não é só isso. Na direção de Pasô
há inovações cênicas e reações insuspeitadas. O controle, e a loucura de suas
mãos nos levam a um caminho poucas vezes desvendado.
No texto, estamos na presença da mais reles
submissão de uma funcionária subalterna. Ela é o célebre personagem explorado
de Brecht, aquele que não sabe dizer "não". O autor quis mostrar uma
cena absurda de sujeição, sem pensar em Brecht, talvez. Porém o caminho é o
mesmo. A dependência, e a falta de coragem para se rebelar são degradantes, em
qualquer contexto. Debora Falabella é uma atriz que possui grande força. Seu
personagem em "Contrações" vai muito além dos papeis a ela confiados
em outros veículos. Com exceção de "Dois Perdidos numa Noite Suja",
no qual ela encontrou seu personagem nas figuras fortes e verdadeiras de Plinio
Marcos. Agora, com a cena de Barttlett e Pasô, Debora mostra do que é capaz -
em palco.
Yara de Novaes, como a subjugadora, não lhe fica
atrás. Ela está com o poder, e nada a detém (na verdade, sua missão é
"cumprir ordens"). Barttlett, como dissemos, é um homem sintonizado
na História. Quanto á execução de sua tragédia moderna: há sons e gestos
ritmados, há a exumação de um cadáver. Também instrumentos selvagens (como o é
o de uma bateria de metal) - e a fúria do explorado a vencer obstáculos para se
entregar à sua obsessão. Até o final, ela aposta em sua degradação. Podemos
dizer que as cenas dessa peça são de um sadomasoquismo extremo. Se as
encenações anteriores do Grupo 3 foram "O continente negro", do
chileno Marco Antonio de La Parra; ou três contos absurdos de Murilo Rubião, é
natural que o repertório vá em um crescendo, conforme o propósito do Grupo.
Podemos dizer que, "Contrações" é uma pungente carta de apresentação
para quem não conhece o trabalho do Grupo 3.
A ficha técnica é de enorme precisão. Na trilha
sonora temos o misterioso "Dr. Morris". A caracterização, de Anna Van
Steen. (gente que conhece bem o assunto). "Conceito e preparação
baterística dos atores", Bruno Tessele. O cenário e figurinos (de grande
sensibilidade cênica), são de André Cortez. Direção de palco , Tadeu Costa.
Preparação Corporal (encarregada da perfeita expressão do elenco), Kênia Dias.
Luz de Alessandra Domingues. Imprensa: Ana Gaio.
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