MEDEIA - Denise Del Vecchio |
Miwa Yanagizawa - ELECTRA |
Letícia Sabatella - ANTIGONA (Fotos da Produção) |
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos
de Teatro - AICT)
(Especial)
Trágica.3
é um dos melhores exemplos de absorção do que consideramos o pensamento trágico
grego em sua essência. Que belo espetáculo! Já as primeiras palavras que saúdem
o público nos fazem perceber que vamos participar de um rito sagrado. E o diretor
Guilherme Leme nos leva ao que de mais pleno existe na linguagem teatral.
Começamos
assistindo as dores de Antígona, reagindo ao poder de Creonte. Esta heroína já
atraiu monólogos, com suas desventuras e seu amor ao irmão insepulto. Anouilh
já se debruçou sobre sua desdita, e Nathália Timberg nos hipnotizou com seu
olhar dramático. Porém, a adaptação de Caio de Andrade para a desditosa filha de
Édipo, e a interpretação emocionada de Letícia Sabatella não deixa nada a dever
à nossa diva.
O
espetáculo tem início com um silêncio reverente, seguido de uma musicalidade
contemporânea. Uma luz mortiça vai, aos poucos, se detendo sobre a heroína. Nos
primeiros movimentos já se anuncia a qualidade do que virá. A música composta
(e tocada ao vivo) por Fernando Alves Pinto e Marcello H (criação conjunta dos
dois com Letícia Sabatella), envolve o público com sua modernidade. Trata-se de
um contraste bizarro, interessante.
Guilherme
Leme acertou na escolha do elenco. Letícia Sabatella encanta com o seu talento
e transmite à sua Antígona o doce amor pela verdade e a justiça, que transborda
na irmã de Polinice. Miwa Yanagizawa, interpretando a vingativa Electra nos atrai
com o seu poderoso olhar. O texto é de Francisco Carlos. É interessante
observar como estas heroínas gregas defendiam os homens dos malefícios, ou lhes
infligiam dores, como é o caso de Medeia e sua vingança sobre Jasão. Não sabemos
se é por causa do texto forte, malcriado e belo de Heiner Müller - ou a
interpretação de Denise Del Vecchio - neste
momento a catarse de Aristóteles se apodera da platéia e a compaixão se faz
presente. Choramos, com Medeia. Forte interpretação de Del Vecchio.
As
belas projeções ao fundo do palco, principalmente a dos dois meninos que serão
mortos pela mãe (vídeos criados pelo diretor e por Gustavo Leme), ilustram o
despojamento da ação. As imagens parecem sair do inconsciente das personagens.
A
equipe técnica também possui grande talento. Os figurinos de Gloria Coelho são
de um rigor e de uma visão estética poderosos. Cenógrafa, Aurora dos Campos deixa
o palco quase nu, enfatizando a vida do espetáculo através do desempenho das atrizes.
Há, nesta mistura de sons, de luzes difusas e de imagens projetadas, uma força
muito grande. A economia de gestos das atrizes, solicitada pelo diretor, torna
a palavra o centro da ação e traz à cena a personalidade de cada heroína. É nesta
mistura do clássico com o moderno que o título do espetáculo se define: Trágicas.3.
Trata-se de uma bela tradução do clássico grego. Espero que este espetáculo permaneça
em cena em todos os teatros possíveis, aqui no Rio de Janeiro. Ele nos deixou no
domingo, dia 14 de setembro de 2014. Se
ainda houver oportunidade de assisti-lo em outro teatro, não percam!
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