ELA e EU: Ernesto Piccolo, diretor, Claudia Mauro, atriz, e Guilherme Fiuza, autor. |
da
Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
EU e ELA não é um texto de teatro, mas
"variações em torno de um tema" - sobre a barata. O autor, Guilherme
Fiuza, no programa de seu primeiro texto teatral, dá uma piscadela de olhos
para os "acadêmicos"... Não! Não vamos citar Kafka, nem pensar no
funcionário público Gregor Samsa, que virou uma barata, porém temas com este
inseto podem ser muito interessantes.
Não é o caso de EU e ELA. Há um primeiro momento, quando a protagonista (Claudia
Mauro), se encontra com a barata. Estes
são minutos de um humor irresistível. A partir daí pensamos: "e agora, como
vão autor e diretor (Ernesto Piccolo) manter este tema?". As
possibilidades são muitas, o autor optou por exacerbar cenas do cotidiano. Apesar
da repetição, às vezes cansativa, do mesmo tema, podemos colher, aqui e ali frases
inteligentes. Fiuza aproveita para abordar, através do tema da barata, o
relacionamento entre casais; ou o desempenho de uma dupla de policiais (um
homem e uma mulher) em situação de emergência; ou, ainda, algumas reflexões da
protagonista, que soam como uma crítica à inverossimilhança do
texto.
Não negamos que se trata de um autor
irônico, que deixa entrever alguma crítica aos desacertos de nosso frágil
espírito humano. Tudo bem. Porém, para o crítico, o fato de assistir a uma estréia
traz em si um toque de sadismo. Sim, ele vai perceber, nos mínimos detalhes, o
que não funciona, como, por exemplo, a visão (na platéia) dos técnicos nos
bastidores trabalhando para que tudo dê certo com a barata. Não dá, e não é
culpa dos técnicos... é da estreia! A barata é uma ideia maravilhosa, existe
uma mal explorada cena de pesadelo (que poderia ser genial), da pobre mulher fóbica
sonhando, aterrorizada, com uma barata que adquire proporções humanas. Perde-se
a cena pelo fato de o autor e diretor não enfatizarem, no sonho, a reação da fóbica
vitima da barata.
Enfim,
Claudia Mauro dá o que de melhor uma atriz pode dar, porém as situações
repetitivas se esgotam em si. Há frases interessantes, como a constatação da
vítima (Claudia), que a barata é burra, pois voa em direção ao seu pedrador ...
e aí o autor nos compara ao tubarão... julgando o ser humano um pedrador. Tudo
bem, mas essa comparação é milenar. Neste texto, que pode ser de teatro - parafraseando
Mário de Andrade pode-se dizer "que é teatro tudo o que chamamos de
teatro" - há um descompasso na narrativa.
Os dois atores que completam as cenas,
Stella Brajterman e André Dale (lembramos algumas vezes, na interpretação de
Dale, do ator André Vale - só que mais
bonito), são muito bons. Há momentos de comédia inteligente, como a cena em que
os dois (Brajterman e Dale) interpretam o exagero policial dos agentes chamados
para liquidar com a barata. Outra situação, essa de auto ironia, é a referência
- discreta - ao relacionamento de um casal, onde a "histérica" tem
que conviver com o "intelectual".
Quanto à protagonista, lembramos da grande
comédia musical Randevu do Avesso e o
encontro inesquecível com Claudia Mauro. Neste EU e ELA a atriz também apresenta seus dotes de bailarina dançando o
"Funk da Barata", porém sem o mesmo impacto do Randevu. Como Claudia sabe muito bem, é difícil fazer comédia, trata-se
de uma máquina azeitada.
Na ficha técnica temos o nosso querido
Ernesto Piccolo (que ainda vai reajustar o espetáculo), na direção. A ótima
Clívia Cohen com a sua criação da barata gigante, um grande estímulo para
alavancar o espetáculo, trazendo o inesperado. Os cenários, que aproveitam bem
o espaço reduzido do Teatro Ipanema, são um apoio essencial ao desempenho do
atores. Os figurinos do "dia a dia" são de Maria Estephania.
Iluminação, Tiago e Fernanda Mantovani. O operador de som, Janser Barreto, teve
alguns problemas no dia da estréia, como o teclado da internet e o som do
celular. Excessivo, o teclado (parecia uma máquina de escrever antiga), e fora
de ajuste o celular. Coisas da estréia. Claudio Baltar faz a engenharia
circense (da barata!) e Dora Pellegrino reaparece como Assistente de Direção. A
trilha sonora é de Rodrigo Braga, e o "Funk da Barata", dançado por
Claudia Mauro, é de autoria de Liah Soares e Guilherme Fiuza. Preparação vocal
Rose Gonçalves. Assessoria de Imprensa, Minas de Ideias.
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