Nara Keiserman em No se puede VIVIR sin amor, de Caio Fernando Abreu (foto Demétrio Nicolau). |
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos
de Teatro - AICT)
(Especial)
Em cartaz no SESC Copa, na sala multiuso,
um espetáculo de bolso dirigido por Demétrio Nicolau e interpretado por Nara
Keiserman: No se puede VIVIR sin amor.
São reminiscências de pensamentos e historias de Caio Fernando Abreu. Nunca
tínhamos visto Nara em solo, conhecíamos, por fama, a sua maneira de trabalhar
com os atores, seu método de sensibilização do ator. Tivemos ocasião de
constatar, no início de espetáculo, o quão aprofundada e bem sucedida é esta
sensibilização. Nos primeiros minutos do espetáculo Nara apresenta seu método,
e é algo como um ritual. Sua respiração, teste de alcance de voz, expressão
corporal, nos levam a certeza que vamos assistir a algo de qualidade. Sim,
porque, desde os primeiros momentos de tal sinalização, Nara nos prepara para o
que virá depois.
Nara Keiserman possui um misto de
agressividade e doçura, na vida e no palco. Esta criatura espiritualizada
possui um apelo que atua como um imã, e sua doce força se desenvolve no palco. Trata-se
de um espetáculo simples, despretensioso, e seu encanto esta precisamente nesta
simplicidade, e na atuação de Nara. São várias histórias e excertos de contos,
cartas, diários, que vão sendo narrados. E nos surpreende, do ponto de vista da
autoria, como Caio Fernando Abreu possui esta rara habilidade para desenvolver
o pensamento da mulher.
Há surpreendentes monólogos, escritos por
Caio e colocados em cena por Nara, como o episódio da loura "enxuta e
gostosa", a mulher de trinta que transforma Naira Keiserman em uma
bacante. É uma delícia ver as mudanças da atriz, e a iluminação (Demétrio
Nicolau), se alternando a cada movimentação de cena, e dando dinamismo ao
espetáculo.
Vemos que atriz e diretor não resistem à
tentação de transformar o espetáculo em um depoimento pessoal, e emotivo,
narrando os últimos momentos de Caio Fernando. Talvez sejam estes momentos os que
menos somam ao inesperado das cenas, porém eles se alternam com o que
poderíamos chamar "o conto feliz" imaginado pelo autor, onde tudo dá
certo.
Nunca tínhamos visto Nara Keiserman em
cena. Revela-se uma atriz de recursos admiráveis, uma espécie de Annie
Girardoux madura, com uma força e delicadeza ancestrais. Nara é uma, e são
muitas. Vale a pena assistir a esta atriz/mulher. A dramaturgia também é de
Nara. Cartas carinhosas de Caio Fernando Abreu, dirigidas a ela e ao se
ex-companheiro, o ator Jose de Abreu; ou mesmo a carta em que Abreu, (Caio), agradece a montagem de Morangos Mofados, por ela realizada ainda em seus tempos de Porto
Alegre. Sim, porque Nara Keiserman é gaúcha, e começou seu teatro no Grupo de
Teatro Província, em Porto Alegre; no Rio trabalhou com Luiz Artur Nunes, no
Núcleo Carioca de Teatro. Agora ela pertence ao grupo Atores Rapsodos.
O que mais impressiona nesta atriz é a
serenidade. E a busca de seu talento. Busca e encontro plenamente realizados.
Ah! Íamos esquecendo: Nara cantora. O feitiço pela Bahia - de Caio e da atriz?
- são representados pelas canções e citações gestuais de festas baianas. O
figurino, branco, saia longa, é de Carlos Alberto Nunes. A Bahia representada? O
Cenário, também de Nunes, é uma espécie de camarim improvisado, e palco nu. O
"caminho das estrelas" o faz Nicolau com a luz. Diz Nara, deixando
claro a espiritualidade que a habita: " a especialidade, concebida por
Demetrio Nicolau, forma uma estrela de seis pontas. Considerando o centro, são
os sete Chakras. Defini o lugar onde faço cada texto de acordo com o que
considero ser seu tema (...) em associação com as características dos
Chackras." Orientação musical Alba Lírio; Produção: Natasha Corbelino;
Assessoria de Imprensa: Sheila Gomes.
Não perca esta
oportunidade de se emocionar com este No
se puede VIVIR sin amor.
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