Elenco de "Cinco Julias", texto e direção de Matheus Souza. (Foto Divulgação) |
IDA VICENZIA
(da Associação
Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
"Cinco Julias"
Abujamra costumava dizer que "teatro
é o inferno do ator", mas se formos assistir a "5 Julias",
diremos que teatro é o "playground" do ator. Nós, que não vemos TV e não
conhecemos as "meninas", achamos estranhíssima a platéia de uma peça
juvenil ter, em seu público, uma boa porcentagem de "people" com jeito
de turista: chinês, indiano, ou africano. Tal estranheza foi-nos logo apreendida.
Vocês também a compreenderão!
Para complicar a situação, uma pitada de
malícia: 50% da peça é falada em inglês! Quer dizer - cantada em inglês! Os adolescentes
brasileiros vivem "in America"!
Vejam bem: tínhamos ido ao teatro por se tratar de texto e direção de Matheus
Souza, artista que muito prezamos desde que o assistimos interpretando
"Deus!", no "Apocalipse segundo Domingos de Oliveira". Pois
bem: o tema "apocalipse" permanece o mesmo, pois as cinco atrizes que
trabalham no espetáculo se referem a algo semelhante a um
"apocalipse" quando falam no dia "em que o
mundo virou de cabeça pra baixo" - parece que no ano de 2017, quando a
internet e seus YPod!, IPed,ou o que o seja!, pararam de funcionar. O autor pensou
em ficção científica, mas o fato é que o tal "cataclismo" começou a
atirar "m..." no ventilador (pra usar uma linguagem juvenil...).
O referido "apocalipse" acabou
com a intimidade das cinco usuárias da internet. Finalmente percebemos aonde
Matheus Souza quer chegar: todo esse estardalhaço é apenas a reprodução do
mundo das "seventeens", as adolescentes. Quem tem filhas ou netas nessa
idade sabe do que estamos falando: elas só querem ir para MIAMI ou Disney,
querem "transar" muito, com homens e mulheres, ir a baladas, tomar
porres e se "independizar" do sexo oposto. Ah! e só querem cantar em
inglês! Aí começamos a entender o "espírito da coisa". Dizem as
notícias da peça que um grupo de "hackers" invadiu as bases das redes
sociais. Esse é o mote, mas aí vem a pergunta: "o que acontece com o mundo
(o delas...) quando a verdade está em evidência?" Nada! É difícil para
Matheus resolver esse pequeno problema. Aliás, ele não o resolve, como autor,
mas nos dá até momentos de boa comedia (talvez essa fosse a sua intenção...),
principalmente quando entra em cena a "burra"que decora frases
fundamentais de filósofos (ou metidos a), para depois replicá-las em público! (Pobre
Simone de Beauvoir... ou pobre Karl Marx!).
São cinco as atrizes: Isabella Sartori,
Malu Rodrigues, Bruna Hamú, Carol Garcia e Gabi Porto. Devemos ter paciência
com elas, pois, afinal, todos nós temos adolescentes em casa. Elas se queixam
de não ter patrocínio para o espetáculo, e pedem para o público que o divulgue,
mas quando o telão começa a reproduzir os apoios, praticamente "toda a Rio
de Janeiro!" as apoiou! Vá entender! Sim, apoio não é patrocínio, e elas
têm também os músicos ao vivo (mas escondidos...) para sustentar (ou será que a
banda faz parte do projeto, entrando no
"prejuízo"?). E tem também o aluguel do Teatro das Artes, que não
deve ser brincadeira. Mas, voltando à "burra" - que de burra não tem
nada... ela é a menos linda das cinco, mas é a mais atriz, embora as outras
também sejam boas.
A atriz "burra" usa o seu
recurso (reproduzir a fala dos sábios), para aparecer. Aliás, todas têm um
"recurso": as queixas das famílias, os desencontros amorosos... e muitos
outros... Aliás, no início o espetáculo parece um fastidioso desenrolar de queixas de
adolescentes, mas, na metade das duas horas de duração do espetáculo, lá pelas
tantas é que a coisa começa a esquentar.. e fica tudo muito engraçado! É
frágil, e humano...
Na ficha técnica temos Matheus Souza no
texto e direção; Assistência de direção de Hamilton Dias; Direção musical,
Pablo Peleologo; Preparação vocal, Felipe Habib; Direção de movimento, Ana
Paula Bouzas. Cenário, Miguel Pinto Guimarães. Figurinos (ótimos!) de João Lamego;
Vídeos (uma das razões do sucesso) de Dudu Chamou. Ah! O direto Aderbal Freire
Filho aparece em um dos vídeos interpretando o pai, ator fracassado e
considerado "hiponga" pela filha. Tudo muito divertido!). Direção de
produção: Tatianna Trinxet. SE VOCÊ É
ADOLESCENTE, OU TEM ADOLESCENTES EM CASA, NÃO PERCA!