Rodolfo Vaz no papel de Akaki, em "O Capote", de Nicolau Gogol, direção Yara de Novaes. (Foto João Caldas) |
IDA VICENZIA
(da Associação
Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
Ex-membro do grupo Galpão, de Minas Gerais, o inacreditável ator Rodolfo Vaz esteve conosco, no Rio de Janeiro, até início de março, no Centro Cultural do Banco do Brasil, dando vida a Akaki Akakievitch, personagem de "O
Capote", de Gogol. A peça contou com a excelente direção de Yara de
Novaes, e com os atores brilhantes que são Rodrigo Fregnan e Marcelo Villas Boas. A produção
deste espetáculo, e o trabalho dos atores, são de primeira linha, dando ao
público amante de teatro a alegria de viver momentos de inteligência e arte. Uma
perfeição.
Senão vejamos: a começar pelo autor,
considerado a seiva de tudo o que se passou depois, em termos de teatro, em
solo russo. Gogol e Pushkin, o grande poeta, abriram caminho para a grande
Russia que se conhece agora, com seus dramaturgos e escritores fabulosos. É de
Dostoiévski esta observação: "Somos todos filhos de Gogol". (E também de Pushkin). Como se não bastasse
este passado, "O Capote" traz em si o humor cruel que as naturezas
simples despertam: no caso, Akaki. E não podemos esquecer que há a presença de seu
fantasma, que todo mundo vê
(principalmente os que o fizeram sofrer em vida)!
Mas voltemos ao espetáculo do Centro
Cultural do Banco do Brasil, e seus
participantes. Como se não bastasse o desempenho da musicista Sarah Assis,
para dar o clima misterioso - e às vezes malicioso - ao acompanhamento de sua
música, Sarah apresenta também momentos
- discretos - em que se envolve com a cena! E, enriquecendo ainda mais o espetáculo, há a complementação, dada pelo 'design e projeção' das cenas de Rogerio Velloso,
em dantesca fantasia. A cenografia e figurinos (ótimos), são de André Cortez. Milagres acontecem, e esta encenação de "O
Capote" foi um deles! Peço licença para fazer uma observação: como todos
nós sabemos, ingleses e russos são primos irmãos (as "Suas Excelências"),
e não há nada mais saboroso do que colocar um fantasma em
cena acabando com a sua paz de "justos"! E, mais gostoso ainda, se esse
fantasma tiver o phisique du role de
Rodolfo Vaz, para nos brindar com o susto dos que a ele ficam submetidos - após
a sua morte! Vocês já imaginaram como ficariam as "Suas Excelências" nativas (que adorariam ser primas das acima citadas) se o fantasma de Getulio Vargas aparecesse para eles, cobrando os motivos de sua morte? Na adaptação de Drauzio/Cassio, a brincadeira virou uma diatribe de Akaki contra os desumanos (e o
nosso momento permite). No caso de Gogol, foi uma simples "lição de moral". Era 1842. (Os tempos mudam).
Ah! Sim, "O Capote" é a historia de uma amanuense que teve que mandar fazer um capote novo para protegê-lo no gélido inverno peterburguense. Para tanto, teve que sacrificar-se, economizar, e uma vez com seu novo capote, teve-o furtado, o que lhe subtraiu a saúde, o juízo e a vida. Daí a historia do fantasma. Mas é preciso ler este conto. O
amante de teatro, Dr. Drauzio Varella, fez a "leve e bem humorada" (e
às vezes cruel), adaptação,
complementada pela dramaturgia de Cassio Pires. Desse confronto com o original
ficou o momento - marcante - em que o personagem Akaki tenta se situar, no
espetáculo, perguntando a seus colegas
maldosos: "Vocês podem voltar para as marcas originais, por
exemplo?" Sim, porque adaptação e
direção tomam um caminho tão livre para contar a historia desse pobre funcionário
subalterno, que há momentos em que ele fica ainda mais perdido, em sua pobre
vida. Tudo o que ele quer é fazer com perfeição as copias que lhe são exigidas.
A idéia
de montar "O Capote" já vem de muito longe, desde que Rodolfo
trabalhou com Paulo José em outra produção do notável dramaturgo russo, "O
Inspetor Geral" - e desde que diversos
fatores se uniram para indicar que esse era o caminho certo para todos nós. Destacamos
Rodolfo Vaz porque a sua interpretação é insuperável. Porém, atores, cenógrafo,
iluminador, trilha sonora, videoarte, adaptação e, principalmente direção,
acertam no clima imaginado por Gogol, o artista que criou o sonho russo da
perfeição teatral que assombra a todos nós. Na produção paulista de "O Capote", destaque para o trabalho corporal de Kenia Dias, que também é assistente de direção de Yara de Novaes. Trilha sonora e música original marcantes, de DR Morris.
Em hora: o ator Rodolfo Vaz resolveu montar a sua produtora, com Fernanda Vianna, parceira de vida e de trabalho, e trouxe sua experiência para o Rio de Janeiro. É muito bom quando São Paulo teatral vem ao Rio, temos ocasião de assistir teatro com letra maiúscula! Desejamos um breve retorno!
Em hora: o ator Rodolfo Vaz resolveu montar a sua produtora, com Fernanda Vianna, parceira de vida e de trabalho, e trouxe sua experiência para o Rio de Janeiro. É muito bom quando São Paulo teatral vem ao Rio, temos ocasião de assistir teatro com letra maiúscula! Desejamos um breve retorno!
Ida, como você faz falta aqui no Rio! A gente assiste às peças com outros olhos, depois de ler suas críticas. Tomara que essa volte para cá realmente. Foi ótima nossa reunião, apesar dos contratempos de chuva e panelaço. Cheguei bem em casa. Beijos.
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