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segunda-feira, 28 de março de 2016

"CHABADABADÁ"

Marcos França interpretando o 'Macho-Jurubeba', em "CHABADABADÁ", texto de Xico Sá, adaptação Marcos França,  direção Thelmo Fernandes.
 (Foto Divulgação)
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
CHABADABADÁ!
     A cena é simples: uma mesa, um cabide, uma cadeira, um banquinho e um violão. E assim foi concebido o cenário para o "informal" 'Chabadabadá - Manual Prático do Macho-Jurubeba'. Acho o título um tanto ou quanto óbvio na sua busca do risível, mas quem o escolheu terá lá os seus motivos "mágicos e encantatórios" para  alfinetar o "macho brasileiro". Na verdade, trata-se de um monólogo imaginado em cima das crônicas e livros de Xico Sá - transformados em dramaturgia por Marcos França, que também canta músicas de Wando, em uma adaptação que resolve bem o estilo do autor.
     Dessa vez o "Macho-Jurubeba" ilustra, na interpretação de França, um programa de rádio no qual acontecem "conselhos sentimentais". O referido  programa, hoje, dia 28 de março de 2016, já não se apresentará no Teatro Ipanema, no Rio de Janeiro, onde re-estreou. Ele tem "estrada", esse "Macho-Jurubeba"!... em todos os sentidos, e deixa o gostinho do 'conselheiro das almas solitárias', o radialista que ama as mulheres, encarnado por Marcos França. O ator/cantor faz de seu monólogo um programa que se transforma em um alimento para as 'malamadas'. A idéia é ótima, nesses tempos de amores "escorregadios" e temerosos. O que querem os ouvintes dessas rádios, na vida real? Encontrar a sua "cara metade"! E vocês  acham pouco? Então ouçam os conselhos do "Macho-Jurubeba" (eu ainda não consigo acreditar nesse nome...!).  
     Explico: o jornalista Xico Sá, do qual só conhecemos o que escreve na Folha de São Paulo, anda preocupado com os rumos tomados pelo amor, e a maneira pela qual os humanos o encaram hoje. Como resposta, ou pedido de atenção, ele resolveu escrever alguns livros, e crônicas a respeito. Tudo bem. Seus livros são insólitos, como insólito é o espetáculo que lhe dá guarida. Títulos como "Modos de Machos e Modinhas de Fêmeas", ou o inédito "Os Machões Dançaram" (ainda não o conheço, mas o título diz tudo) ... dão idéia do que se propõe o espetáculo! O fato é que se uniram as vontades, e o sempre ótimo Thelmo Fernandes assumiu a direção (a sua primeira), seguido por Marcos França, na dramaturgia, e o já citado autor, Xico Sá . O fato é que dessa união algo muito bom, em termos de espetáculo e de crítica de costumes, surgiu!
      É o seguinte: o ator (e cantor!) Marcos França imaginou criar uma dramaturgia em cima de três livros (não os citarei), de Chico, preocupados com os rumos do "amor moderno". Dessa "compilação" surgiu "CHABADABADÁ - O MANUAL PRÁTICO DO MACHO-JURUBEBA". Volto a observar: quem pode levar a sério um espetáculo com tal  título? É... talvez ele não seja para ser levado e sério, mesmo, porém, Ó SURPRESA! estamos mesmo precisando de um enfrentamento dessa natureza a respeito dos "sôfregos" tempos em que vivemos, principalmente em se tratando dos  amores - algo rudes - entre o homem e a mulher. O "conselheiro" criado por França, 'que ama as mulheres' (ele até as chama de "meu anjo"...) consegue, com seu figurino excêntrico (um correntão!...) e alguns quilinhos a mais - protegido por uma camisa azul sobre camisa vermelha (!) e blazer (este é o figurino do radialista) - e o personagem de Marcos está pronto para ser o 'aglutinador' desse amor problema!
     Lembramos que o monólogo também é uma homenagem (e uma crítica...) ao "Rei do Amor de Homem", o cantor Wando, com direito a calçinhas atiradas ao público, e reboladas expressivas do intérprete radialista! Mas Francisco Reginaldo (Marcos França), só não 'enfrenta' esse tipo de amor 'que não ousa dizer seu nome'.  Aquele!... tão encontrado hoje em nossos dias. Pois esse não é o propósito do 'conselheiro', e é como se esse amor não existisse: o conselheiro não tem - nem nunca teve - essa preocupação - ele gosta é das mulheres, e seus conselhos abrangem regiões bem mais conservadoras... Falemos, pois, desse amor sofrido entre homens e mulheres, tão frequentado pelos programas de rádio, e pelos conselheiros do amor! Nesse quesito o "Macho Jurubeba", encarnado por França, é imbatível! Mas não é que o "cantor/radialista" consegue até ser charmoso, em seu charme cômico e cafona? E o público se diverte!
     Dizem que é uma crítica ao amor nos dias atuais. Sério? Pode ser uma  brincadeira terrivelmente crítica, mas não é só isso! Trata-se de uma  amizade terna, ingênua... e má!,  que o conselheiro compartilha com 'magníficas atrizes/cantoras' como Gottsha, ou grandes comediantes, como Maria Clara Gueiros e Dani Barros, enfrentando o 'eco inefável' do vazio das que freqüentam estes programas. As vozes marcam as desditas das "mal-amadas" - e elas são inacreditáveis, e  - pasmem! - há homens que também entram  nessa fila de desditas, e também pedem conselhos... Serão "eles"? São os ditos "homens frágeis". Diz o interprete que o espetáculo "é uma devoção ao feminino e uma alfinetada no macho caricato". É, pode ser. É tudo muito divertido, e o diretor Thelmo Fernandes empresta a sua voz ao "Homem Desiludido".
     Podemos dizer que algumas cantoras "insuperáveis" também emprestam a sua voz para a "querida produção": Adriana Birolli, Rafaela Mandelli... e Ana Paula Abreu ... ( a diretora de produção?), no telefone, como a esposa do radialista 'com alma'. (Dizem que Francisco Reginaldo é o nome de Xico Sá, no seu Ceará). Dizem também que ele é o homem que abre o espetáculo. Será verdade? E é ele quem acompanha o radialista, tocando o seu violão? Mistério...! Mas como tudo é possível nesse mundo incógnito dos jornalistas... é possível que seja ele mesmo, Xico Sá! Muito em breve teremos notícias sobre isso.
      A ficha técnica é de primeira... e, ao menos no espetáculo a que assisti, não houve nenhum problema com o som, o que é raro, nos musicais brasileiros. Perfeição absoluta. Sabemos que a direção musical é de André Siqueira, o que é indício de boa qualidade. O cenário e figurino, comentados no início, são de Natália Lana. A iluminação é de nosso querido Aurelio de Simoni, que devia aparecer mais vezes, também, como ator... eu sinto saudades do Tchecov que ele fez! Volte, Aurelio!

QUEM PERDEU "CHABADABADÁ" ... PERDEU! TOMARA QUE O ESPETÁCULO VOLTE. VALE À PENA!                 

Um comentário:

  1. Ah Ida, só você mesmo me faria ver um espetáculo com esse título, baseado nas "machices" do Xico Sá! Hahaha! Tomara que volte mesmo. No sábado passado fui ver "Os Realistas", no teatro Poeira. Você chegou a ver? Texto do Will Eno, com a Débora Bloch, Fernando Eiras, Emílio de Melo e Mariana Lima. Fantástico! Tudo! Saí encantada. Beijos.

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