Marcos França interpretando o 'Macho-Jurubeba', em "CHABADABADÁ", texto de Xico Sá, adaptação Marcos França, direção Thelmo Fernandes. (Foto Divulgação) |
IDA VICENZIA
(da Associação
Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
CHABADABADÁ!
A cena é simples: uma mesa, um cabide, uma
cadeira, um banquinho e um violão. E assim foi concebido o cenário para o
"informal" 'Chabadabadá - Manual Prático do Macho-Jurubeba'. Acho o
título um tanto ou quanto óbvio na sua busca do risível, mas quem o escolheu
terá lá os seus motivos "mágicos e encantatórios" para alfinetar o "macho brasileiro". Na
verdade, trata-se de um monólogo imaginado em cima das crônicas e livros de
Xico Sá - transformados em dramaturgia por Marcos França, que também canta músicas
de Wando, em uma adaptação que resolve bem o estilo do autor.
Dessa vez o "Macho-Jurubeba"
ilustra, na interpretação de França, um programa de rádio no qual acontecem
"conselhos sentimentais". O referido programa, hoje, dia 28 de março de 2016, já não
se apresentará no Teatro Ipanema, no Rio de Janeiro, onde re-estreou. Ele tem "estrada",
esse "Macho-Jurubeba"!... em todos os sentidos, e deixa o gostinho do
'conselheiro das almas solitárias', o radialista que ama as mulheres, encarnado
por Marcos França. O ator/cantor faz de seu monólogo um programa que se
transforma em um alimento para as 'malamadas'. A idéia é ótima, nesses tempos
de amores "escorregadios" e temerosos. O que querem os ouvintes dessas
rádios, na vida real? Encontrar a sua "cara metade"! E vocês acham pouco? Então ouçam os conselhos do
"Macho-Jurubeba" (eu ainda não consigo acreditar nesse nome...!).
Explico: o jornalista Xico Sá, do qual só conhecemos
o que escreve na Folha de São Paulo, anda
preocupado com os rumos tomados pelo amor, e a maneira pela qual os humanos o
encaram hoje. Como resposta, ou pedido de atenção, ele resolveu escrever alguns
livros, e crônicas a respeito. Tudo bem. Seus livros são insólitos, como
insólito é o espetáculo que lhe dá guarida. Títulos como "Modos de Machos
e Modinhas de Fêmeas", ou o inédito "Os Machões
Dançaram" (ainda não o conheço, mas o título diz tudo) ... dão idéia do
que se propõe o espetáculo! O fato é que se uniram as vontades, e o sempre
ótimo Thelmo Fernandes assumiu a direção (a sua primeira), seguido por Marcos
França, na dramaturgia, e o já citado autor, Xico Sá . O fato é que dessa união
algo muito bom, em termos de espetáculo e de crítica de costumes, surgiu!
É o
seguinte: o ator (e cantor!) Marcos França imaginou criar uma dramaturgia em
cima de três livros (não os citarei), de Chico, preocupados com os rumos do
"amor moderno". Dessa "compilação" surgiu "CHABADABADÁ
- O MANUAL PRÁTICO DO MACHO-JURUBEBA". Volto a observar: quem pode levar a
sério um espetáculo com tal título? É...
talvez ele não seja para ser levado e sério, mesmo, porém, Ó SURPRESA! estamos mesmo
precisando de um enfrentamento dessa natureza a respeito dos "sôfregos"
tempos em que vivemos, principalmente em se tratando dos amores - algo rudes - entre o homem e a mulher.
O "conselheiro" criado por França, 'que ama as mulheres' (ele até as
chama de "meu anjo"...) consegue, com seu figurino excêntrico (um
correntão!...) e alguns quilinhos a mais - protegido por uma camisa azul sobre
camisa vermelha (!) e blazer (este é o figurino do radialista) - e o personagem
de Marcos está pronto para ser o 'aglutinador' desse amor problema!
Lembramos que o monólogo também é uma
homenagem (e uma crítica...) ao "Rei do Amor de Homem", o
cantor Wando, com direito a calçinhas atiradas ao público, e reboladas
expressivas do intérprete radialista! Mas Francisco Reginaldo (Marcos França), só
não 'enfrenta' esse tipo de amor 'que não ousa dizer seu nome'. Aquele!... tão encontrado hoje em nossos dias.
Pois esse não é o propósito do 'conselheiro', e é como se esse amor não
existisse: o conselheiro não tem -
nem nunca teve - essa preocupação - ele gosta é das mulheres, e seus conselhos
abrangem regiões bem mais conservadoras... Falemos, pois, desse amor sofrido
entre homens e mulheres, tão frequentado pelos programas de rádio, e pelos conselheiros
do amor! Nesse quesito o "Macho Jurubeba", encarnado por França, é
imbatível! Mas não é que o "cantor/radialista" consegue até ser
charmoso, em seu charme cômico e cafona? E o público se diverte!
Dizem que é uma crítica ao amor nos dias
atuais. Sério? Pode ser uma brincadeira
terrivelmente crítica, mas não é só isso! Trata-se de uma amizade terna, ingênua... e má!, que o conselheiro compartilha com 'magníficas
atrizes/cantoras' como Gottsha, ou grandes comediantes, como Maria Clara Gueiros
e Dani Barros, enfrentando o 'eco inefável' do vazio das que freqüentam estes
programas. As vozes marcam as desditas das "mal-amadas" - e elas são
inacreditáveis, e - pasmem! - há homens
que também entram nessa fila de desditas,
e também pedem conselhos... Serão "eles"? São os ditos "homens
frágeis". Diz o interprete que o espetáculo "é uma devoção ao
feminino e uma alfinetada no macho caricato". É, pode ser. É tudo muito
divertido, e o diretor Thelmo Fernandes empresta a sua voz ao "Homem
Desiludido".
Podemos dizer que algumas cantoras "insuperáveis"
também emprestam a sua voz para a "querida produção": Adriana Birolli,
Rafaela Mandelli... e Ana Paula Abreu ... ( a diretora de produção?), no
telefone, como a esposa do radialista 'com alma'. (Dizem que Francisco
Reginaldo é o nome de Xico Sá, no seu Ceará). Dizem também que ele é o homem
que abre o espetáculo. Será verdade? E é ele quem acompanha o radialista,
tocando o seu violão? Mistério...! Mas como tudo é possível nesse mundo
incógnito dos jornalistas... é possível que seja ele mesmo, Xico Sá! Muito em
breve teremos notícias sobre isso.
A ficha técnica é de primeira... e, ao
menos no espetáculo a que assisti, não houve nenhum problema com o som, o que é
raro, nos musicais brasileiros. Perfeição absoluta. Sabemos que a direção
musical é de André Siqueira, o que é indício de boa qualidade. O cenário e
figurino, comentados no início, são de Natália Lana. A iluminação é de nosso
querido Aurelio de Simoni, que devia aparecer mais vezes, também, como ator... eu
sinto saudades do Tchecov que ele fez! Volte, Aurelio!
QUEM
PERDEU "CHABADABADÁ" ... PERDEU! TOMARA QUE O ESPETÁCULO VOLTE. VALE À
PENA!
Ah Ida, só você mesmo me faria ver um espetáculo com esse título, baseado nas "machices" do Xico Sá! Hahaha! Tomara que volte mesmo. No sábado passado fui ver "Os Realistas", no teatro Poeira. Você chegou a ver? Texto do Will Eno, com a Débora Bloch, Fernando Eiras, Emílio de Melo e Mariana Lima. Fantástico! Tudo! Saí encantada. Beijos.
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