Nathalia Timberg em 33 variações de Beethoven, direção Wolf Maya (foto Airton Silva) |
IDA VICENZIA
(da Associação
Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
Conheci a atriz Nathalia Timberg interpretando "Antígona",
de Anouilh, no Teatro Jovem, em Botafogo. Para mim foi uma iluminação. Muitos
anos depois tive ocasião de assisti-la novamente, interpretando a psicóloga
Melanie Klein. A mesma sensação me acompanhou: dos anos sessenta até o século
XXI, sempre com a impressão de ver a personagem, através da interpretação da grande atriz. Portanto,
considero assistir Nathalia Timberg algo que me alimenta, como pessoa e como crítica.
Feita essa observação, vamos à crítica do
espetáculo em cartaz no Teatro Nathalia Timberg. Ano: 2016. Rio de Janeiro. Titulo:
"33 Variações de Beethoven", texto de Moyses Kaufman, tradução de
Nathalia Timberg, concepção e direção de Wolf Maya. Nesta peça Nathalia
interpreta uma pesquisadora apaixonada, como todas as pesquisadoras, pelo tema
de sua pesquisa: no caso, Ludwig van Beethoven. Até aí, tudo bem. Porém, o que
vemos em cena é a interpretação de uma "virtuose" (Nathalia), trabalhando
voz e gestos de uma mulher tomada por uma "doença sutil", que não é a
de Beethoven, como nós a conhecemos, mas a sua própria.
Antes
de falarmos sobre o "organismo" da pesquisadora em questão, e dos motivos
que nos levam a considerar a interpretação de Nathalia Timberg magistral, abrimos
espaço para falar sobre o teatro que leva o seu nome. Incrustado "como safiras
em um anel", na Escola de Atores de Wolf Maya, o Teatro Nathalia Timberg é
uma sala de 400 lugares, como uma "caixa de luz italiana" que transforma
palco e platéia em um mundo ficcional de máquinas e luzes. No espaço da Escola funciona
outra jóia, o teatro "Nathalinha", com 60 lugares e uma surpresa: a encenação de "A
Serpente", de Nelson Rodrigues, pelos alunos da escola, em cooperativa
independente.
Mas o texto imaginado por Kaufman,- um dramaturgo
nascido em 1963, venezuelano, descendente de judeus ucranianos, e co-fundador
do "Teatro Tectônico", realizador de um projeto que nasceu em Nova
York, e trata de "assuntos da contemporaneidade". Em seu texto Kaufman
resolve falar sobre a tão difundida "síndrome lateral amiotrófica"...
e o que vemos agora é mais uma interpretação sutil e dilacerante de Nathalia
Timberg! A atriz se transforma na "mais interessada pesquisadora de
Beethoven", e na mais dolorida vítima da síndrome acima citada. O texto é
um pretexto para falar sobre "essa doença", porém a música domina - e
temos em cena um pianista interpretando as "33 Variações de Beethoven",
e muito mais: o músico alemão é interpretado pelo próprio diretor do espetáculo, Wolf Maya. A destacar a
interpretação de Maya na cena final, mostrando a sensibilidade de um verdadeiro
"régisseur", ao acompanhar as "Variações" interpretadas, na
noite em questão, pelo excelente pianista Silas Barbosa.
Outra cena a registrar é a imaginada por
Kaufman sobre "a vida após a morte". Trata-se de um divertido
encontro entre "pesquisadora e pesquisado" (Nathalia/Katrin e Wolf/Beethoven),
tendo por cenario as nuvens, local onde os personagens observam a vida dos que ficaram "lá
embaixo". Nesse contexto temos a filha de Katrin - Clara - interpretada
por Flavia Pucci, e o Editor Musical e compositor da valsinha que se transformou na genial composição de Beethoven. O nome do compositor é Anton Diabelli, jocosamente interpretado por Tadeu Aguiar. E Gustavo Engracia,
interpreta Schindler, o secretario e factótum de Beethoven. Lu Grimaldi
interpreta, com precisão, a bibliotecária alemã, e Gil Coelho é o enfermeiro-enamorado.
O espetáculo é dividido em 2 Atos, sendo o primeiro bastante agitado, no qual
Clara (Flavia Pucci), "enerva" o público com seu "excesso de
cuidados de filha dedicada", refreando o entusiasmo de sua mãe
pesquisadora.
O espetáculo traz à cena recursos utilizados
no teatro italiano, com mecanismos sofisticados onde entram alçapões e coxias que
se movimentam, dando vida ao palco. Interessante observar que, no "ATO 1"
a cena fica sobrecarregada e muito fracionada. No "ATO 2" a ação ganha
mais agilidade. Tal sofisticação cênica,
insuspeitada, acontece em meio ao
funcionamento, na vida real, de uma Escola de Teatro! Vale a pena conhecer o
espaço dedicado a atriz Nathalia Timberg, com seu teatro de 300 lugares, e o "
Nathalinha", onde os atores iniciantes se exercitam.
Na ficha técnica temos, além dos já
citados, a cenografia muito bem cuidada, com suas subdivisões: ao alto da cena a
"mansarda de Beethoven" - a seguir, o palco para o pianista, com a
reprodução, em tamanho reduzido, de um palco italiano para concertos de piano -
e, na cena baixa, a biblioteca com o acervo de Beethoven - e demais aparatos
para a transformação das cenas. Cenografia e objetos de J. C. Serroni. A
iluminação, de grande magnitude, é um verdadeiro "tour de force" de
Aurelio de Simone, e os figurinos de Tatiana Rodrigues mostram uma bem dosada
divisão entre a época atual e o passado do século XIX. No visagismo, Marcelo
Dias. Direção musical de Natalia Trigo. Videografismo
e projeções de Rico e Renato Vilarouca. Assistência de direção: Hudson Glauber.
VALE A PENA CONHECER O ESPAÇO, E SE DELEITAR COM BEETHOVEN, E SEUS ADMIRADORES!
Essa eu vi. Fiquei encantada com o trabalho da Nathalia. Realmente perfeito. No geral, gostei muito, mas achei a peça longa demais, com algumas cenas que poderiam ter sido cortadas.No dia em que assisti a pianista era a Clara Sverner.
ResponderExcluirAh, eu queria atualizar algumas coisas, mas o google não permite! Pena... No meu dia o pianista foi Sila Barbosa. Também era muito bom.
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