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sexta-feira, 25 de março de 2016

"33 VARIAÇÕES DE BEETHOVEN"


Nathalia Timberg em 33 variações de Beethoven, direção Wolf Maya
(foto Airton Silva)


IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)

     Conheci a atriz  Nathalia Timberg interpretando "Antígona", de Anouilh, no Teatro Jovem, em Botafogo. Para mim foi uma iluminação. Muitos anos depois tive ocasião de assisti-la novamente, interpretando a psicóloga Melanie Klein. A mesma sensação me acompanhou: dos anos sessenta até o século XXI, sempre com a impressão de ver a personagem,  através da interpretação da grande atriz. Portanto, considero assistir Nathalia Timberg algo que me alimenta, como pessoa e como crítica.
     Feita essa observação, vamos à crítica do espetáculo em cartaz no Teatro Nathalia Timberg. Ano: 2016. Rio de Janeiro. Titulo: "33 Variações de Beethoven", texto de Moyses Kaufman, tradução de Nathalia Timberg, concepção e direção de Wolf Maya. Nesta peça Nathalia interpreta uma pesquisadora apaixonada, como todas as pesquisadoras, pelo tema de sua pesquisa: no caso, Ludwig van Beethoven. Até aí, tudo bem. Porém, o que vemos em cena é a interpretação de uma "virtuose" (Nathalia), trabalhando voz e gestos de uma mulher tomada por uma "doença sutil", que não é a de Beethoven, como nós a conhecemos, mas a sua própria.
      Antes de falarmos sobre o "organismo" da pesquisadora em questão, e dos motivos que nos levam a considerar a interpretação de Nathalia Timberg magistral, abrimos espaço para falar sobre o teatro que leva o seu nome. Incrustado "como safiras em um anel", na Escola de Atores de Wolf Maya, o Teatro Nathalia Timberg é uma sala de 400 lugares, como uma "caixa de luz italiana" que transforma palco e platéia em um mundo ficcional de máquinas e luzes. No espaço da Escola funciona outra jóia, o teatro "Nathalinha", com 60 lugares e uma surpresa: a encenação de "A Serpente", de Nelson Rodrigues, pelos alunos da escola, em cooperativa independente.
          Mas o texto imaginado por Kaufman,- um dramaturgo nascido em 1963, venezuelano, descendente de judeus ucranianos, e co-fundador do "Teatro Tectônico", realizador de um projeto que nasceu em Nova York, e trata de "assuntos da contemporaneidade". Em seu texto Kaufman resolve falar sobre a tão difundida "síndrome lateral amiotrófica"... e o que vemos agora é mais uma interpretação sutil e dilacerante de Nathalia Timberg! A atriz se transforma na "mais interessada pesquisadora de Beethoven", e na mais dolorida vítima da síndrome acima citada. O texto é um pretexto para falar sobre "essa doença", porém a música domina - e temos em cena um pianista interpretando as "33 Variações de Beethoven", e muito mais:  o músico alemão é interpretado pelo próprio diretor do espetáculo, Wolf Maya. A destacar a interpretação de Maya na cena final, mostrando a sensibilidade de um verdadeiro "régisseur", ao acompanhar as "Variações" interpretadas, na noite em questão, pelo excelente pianista Silas Barbosa.      
     Outra cena a registrar é a imaginada por Kaufman sobre "a vida após a morte". Trata-se de um divertido encontro entre "pesquisadora e pesquisado" (Nathalia/Katrin e Wolf/Beethoven), tendo por cenario as nuvens, local onde os personagens observam a vida dos que ficaram "lá embaixo". Nesse contexto temos a filha de Katrin - Clara - interpretada por Flavia Pucci, e o Editor Musical e compositor da valsinha que se transformou na genial composição de Beethoven. O nome do compositor é Anton Diabelli, jocosamente interpretado por Tadeu Aguiar. E Gustavo Engracia, interpreta Schindler, o secretario e factótum de Beethoven. Lu Grimaldi interpreta, com precisão, a bibliotecária alemã, e Gil Coelho é o enfermeiro-enamorado. O espetáculo é dividido em 2 Atos, sendo o primeiro bastante agitado, no qual Clara (Flavia Pucci), "enerva" o público com seu "excesso de cuidados de filha dedicada", refreando o entusiasmo de sua mãe pesquisadora.
     O espetáculo traz à cena recursos utilizados no teatro italiano, com mecanismos sofisticados onde entram alçapões e coxias que se movimentam, dando vida ao palco. Interessante observar que, no "ATO 1" a cena fica sobrecarregada e muito fracionada. No "ATO 2" a ação ganha  mais agilidade. Tal sofisticação cênica, insuspeitada,  acontece em meio ao funcionamento, na vida real, de uma Escola de Teatro! Vale a pena conhecer o espaço dedicado a atriz Nathalia Timberg, com seu teatro de 300 lugares, e o " Nathalinha", onde os atores iniciantes se exercitam.
     Na ficha técnica temos, além dos já citados, a cenografia muito bem cuidada, com suas subdivisões: ao alto da cena a "mansarda de Beethoven" - a seguir, o palco para o pianista, com a reprodução, em tamanho reduzido, de um palco italiano para concertos de piano - e, na cena baixa, a biblioteca com o acervo de Beethoven - e demais aparatos para a transformação das cenas. Cenografia e objetos de J. C. Serroni. A iluminação, de grande magnitude, é um verdadeiro "tour de force" de Aurelio de Simone, e os figurinos de Tatiana Rodrigues mostram uma bem dosada divisão entre a época atual e o passado do século XIX. No visagismo, Marcelo Dias. Direção musical de Natalia Trigo.  Videografismo e projeções de Rico e Renato Vilarouca. Assistência de direção: Hudson Glauber. VALE A PENA CONHECER O ESPAÇO, E SE DELEITAR COM BEETHOVEN, E SEUS ADMIRADORES!             
        
    










2 comentários:

  1. Essa eu vi. Fiquei encantada com o trabalho da Nathalia. Realmente perfeito. No geral, gostei muito, mas achei a peça longa demais, com algumas cenas que poderiam ter sido cortadas.No dia em que assisti a pianista era a Clara Sverner.

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  2. Ah, eu queria atualizar algumas coisas, mas o google não permite! Pena... No meu dia o pianista foi Sila Barbosa. Também era muito bom.

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