IDA VICENZIA
(da Associação
Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
"A
OUTRA CASA", atualmente em
cartaz no Teatro Cândido Mendes, é uma peça densa, de difícil tema e
acompanhamento, daí seu fascínio. Não é usual enfrentarmos, no palco, esse tipo
de problema: 'os impasses do cérebro humano'. Eles são muitos, e um deles,
preocupante, é o caso da "dementia praecox", ou, em nome menos
latino, o caso, onde se misturam demência e esquizofrenia - o "grand
complet". O que leva um diretor de nome tão belamente adjetivado a se
debruçar sobre um caso tão ... sombrio? Um desafio? Sim. O diretor Manoel
Prazeres declara ser essa uma tentativa sua de entender cenas familiares do
passado. O autor norte-americano Sharr White, ao escrever essa peça, possivelmente estava com os olhos voltados
para Hollywood, e seu Oscar, pois o tema abordado é digno de tal façanha: e
pode laurear autor e também a atriz que estiver disposta a interpretar Juliana.
Mas não sejamos amargos, o que podemos presenciar, no palco, é uma sucessão de
cenas em que os desvios de uma mente doentia nos transportam para o
desconhecido. Para contar essa historia contamos com o ator Marcos França, que
possui o dom de tornar sérias e irônicas as frases que pronuncia. O seu Dr. Ian
possui a seriedade e bonomia que o diretor "descobriu" para ele. Sim,
porque, ao mesmo tempo que o texto proporciona à competente atriz Helena
Varvaki toda a gama de emoções que ela sabe possuir, o elenco com quem pode jogar
a angústia, alegria, raiva e amor de seu personagem, deve estar a altura de tal
façanha.
"A OUTRA CASA" dá-nos a
oportunidade de entrarmos em um mundo "em degeneração". Entretanto,
há algo que o autor e o diretor enfatizam, dando à Juliana/Varvaki um 'meio
caminho' para a sua mente doente, fazendo-a não se entregar totalmente ao
processo de degeneração iniciado. Essa é uma bela surpresa da peça, e uma respiração e
esperança, pois os mistérios da mente ainda são insondáveis.
A atriz Gabriela Munhoz surpreende como
"A Mulher" que tem a "outra casa" invadida por uma demente,
revela-se uma comediante segura, de grande sutileza e comunicação com o
público. Gabriela Munhoz interpreta ainda a
terapeuta e a filha adolescente de Juliana. Daniel Orlean fica com um
compromisso de, perante a cena, representar "O Homem" que,
eventualmente, invade o mundo de Juliana. (Daniel Orlean também é o assistente
de direção de Prazeres).
O diretor ousou, como recurso para contar
a historia de Juliana, lançar projeções que cortam o procedimento da
esquizofrênica Juliana, projeções nas quais ela esclarece, ou tenta esclarecer para
si mesma, o seu procedimento. Enfim, trata-se de uma historia contada de
maneira fragmentada e (difícil de acreditar), tal narrativa possui um olhar
otimista para o futuro, principalmente em seu final. Na verdade, o que autor e o
diretor parecem nos dizer, é que o futuro não existe.
Na ficha técnica temos, além dos já
citados, a tradução de Diego Teza; cenografia (palco limpo, com projeções), de
Doris Rollember e iluminação de Renato Machado (o iluminador que dá vida à luz).
Figurinos reproduzindo o cotidiano do século XXI (sem exageros), de Leticia
Ponzi. A trilha sonora é de Rick Yates e Renato Alscher. Direção de vídeo de
Rodrigo Turazzi, com assistência de Duda Paiva. Fotos, Guido Argel; Divulgação,
Lu Nabuco. "A OUTRA CASA" é um espetáculo "que deve ser
recomendado para maiores de 18 anos", que possuam "nervos de
aço"! NÃO PERCAM!
Quando a Ida escreve, eu assino embaixo !!!!
ResponderExcluir