Elenco de "Dançando no Escuro", de Lars vo Trier, adaptação teatral de Patrick Ellsworth. Ao centro, Juliane Bodini e Greg Blanzat, o menino, seguidos por componentes do elenco. |
Elenco de "Dançando no Escuro", de Lars von Trier. No Brasil, direção de Dani Barros.
(FOTOS DE ELISA MENDES)
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos
de Teatro o- AICT)
(Especial)
DANÇANDO NO ESCURO
Eis um espetáculo que não é só para a
gente assistir e ficar por isso mesmo! Ele permanece conosco, a aí vamos
assistir o filme, e novamente o teatro, para ter certeza se isso aconteceu
mesmo... Temos a impressão de que é vida real, e bem poderia ter sido. Quantas
injustiças com pena de morte não acontecem naqueles famigerados EUA!
Mas não esqueçamos "Dançando no
Escuro" no teatro, no Brasil, Rio de Janeiro. Foi a primeira direção da
atriz Dani Barros (que teve como mestre, em sua formação, Antonio Abujamra), inspiração
(e incitação) de Juliane Bodini e Luis Antonio Fortes! Foi também a primeira
vez que Lars von Trier liberou o seu texto e argumento para com ele se fazer
teatro. A adaptação consentida foi feita por Patrick Ellsworth. No Brasil, os
direitos foram comprados em 2015, e sua estréia se deu no Rio de Janeiro, em
2017.
Marcelo Alonso Neves dirigiu a parte
musical. Para vocês terem uma idéia, este estranho espetáculo decorre todo em
torno dos ensaios da "A Noviça Rebelde" que é também um pretexto para
as músicas. Pelo que deduzimos, é cantando e interpretado por amadores de uma
cooperativa de teatro organizada pelos operários da metalúrgica na qual Selma
Jezková, uma quase cega, trabalha.
Os absurdos feitos por Jezková para salvar o seu filho da cegueira congênita já começam a contar desde a sua escolha para trabalhar. Uma cega trabalhando em máquinas de corte? É desastre na certa. Tudo bem, trata-se de Lars von Triar, e as
emoções se iniciam com o começo da peça.
Nesta montagem, sonhada por Juliane Bodini e
Luis Antonio Fortes (ele faz, muito e bem, o apaixonado de Selma), há músicas
criadas por Bjork e executadas por Vanderson Pereira (multi tecladista), Johnny
Capler (Baterista), Allan Bass (baixo) e Dilson Nascimento (multi tecladista).
Dois deles são cegos, Vanderson e Johnny. Enfim... no final de algumas sessões
há aulas de libra para inclusão e profissionalização de pessoas carentes. O "teatro
humanitário", como deveriam ser todos os teatros.
Outro senão interessante é que os atores
se reportam, discretamente, ao momento atual em que vive o Brasil, terminando
com "A Última Canção", da sofrida Selma. Jeff, seu namorado, como ator Luis Antonio Fortes replica,
desde o palco: "Não será a última canção "eles" não nos conhecem..."
(referindo-se à possibilidade de o momento político atual tentar calar a boca
dos artistas de teatro (e de outras artes). Para os atores de "Dançando no
Escuro", isso não vai ser fácil. E não será, mesmo, para todos os artistas!
Tradução fiel ao contexto, de Elidia
Novaes. O que podemos chamar de "O Calvario de Selma" começa no Segundo
Ato. Sim, o belo Teatro "SESC- Ginástico" nos leva ao "Segundo Ato"...
e vamos, em um crescendo, em direção à iniquidade do ser humano, à sua
falsidade, à sua maldade - e Selma Jezková, atônita, percebe, finalmente, essa
maldade.
A primeira vez que assistimos à peça,
pensamos que Selma queria morrer, pois as tolices que fazia, em direção a um final trágico eram óbvias ( faziam parte do texto de Trier, ele não confia na
Humanidade, e muito menos nos Estados Unidos). Depois de confrontar filme e
peça chegamos à conclusão de que Selma era uma pessoa boa (os perigos da
bondade), e foi cruelmente colhida por suas qualidades. Juliane Bodini também é
boa, e diz, ao citar a importância de montar "Dançando no Escuro": "É
preciso enxergar o outro".
A escolha do elenco é feita a dedo: temos
o menino, interpretado por Greg Blanzat, um ótimo ator-mirim que leva o público
às lágrimas. Há também Cyrua Coentro interpretando a amiga Carmen Baker, outra
aquisição para o nosso teatro (não a conhecia), ou Julia Gorman interpretando a
fútil Linda Houston, a causadora da tragédia. Há Suzana Nascimento no papel da
guarda Brenda Young, um ser humano que leva um pouco de humanidade (boa) para a
prisão. (Há situações-limite, porque esta peça é um musical trágico,
finalmente! Aliás, há uma velada crítica aos musicais que nos rondam (tudo Hollywood),
cujos cantos "nascem do nada"...).
O elenco de "Dançando..." é bom, e não deixa nada a dever. Há Lucas Gouvêa, que desencadeia a tragédia interpretando
o personagem de Bill Houston, o policial, marido da fútil Linda. E os professores e encarregados
do serviço na fábrica: Andreas Gatto (Samuel), Marino Rocha (Norman).
Direção de Produção de Jéssica Santiago. Toda
esta produção, bem cuidada, é apoiada pela iluminação belíssima de Felicio Mofra; cenário
de Mina Quental, reproduzindo, de forma pós-moderna, o interior de uma fábrica.
E o figurino, marrom, sóbrio, de Carol Lobato. Direção de Movimento e
Coreografia (ponto para Denise Stutz). Sapateado: Clara Equi, que
também colabora com a Coreografia. Preparação Corporal, Camila Caputi. A parte
da preparação musical e das danças está muito bem assessorada. Aliás, a direção
de Dani Barros também é brilhante. A Versão das canções é de Marcelo Frankel e
Juliane Bodini. (A atriz já foi indicada ao Prêmio Bibi Ferreira por
sua participação como coadjuvante em "Cassia Eller - O musical"). Bodini
é uma ótima surpresa, e possui uma voz privilegiada.
NÃO SABEMOS SE O
ESPETÁCULO VOLTA AO CARTAZ. ULTIMAMENTE,
DEVIDO AO POUCO ESPAÇO DEDICADO AOS ESPETÁCULOS QUE ESTREIAM, EM GERAL ELES
AMPLIAM A SUA PRESENÇA NA CIDADE INDO PARA OUTROS TEATROS. NESTE CASO, DESEJAMOS
VIDA LONGA PARA "DANÇANDO NO ESCURO".
Desejando junto...fiquei doida pra ver!
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