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sexta-feira, 27 de abril de 2018

"DOSTOIÉVSKI TRIP"




Elenco de Dostoiévski Trip



IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)

DOSTOIÉVSKI TRIP

     Umberto Eco diz que o texto é uma máquina preguiçosa cheia de buracos que o leitor vai 
preenchendo com a sua imaginação. E o texto de teatro, então! Ele é ainda mais cheio de "buracos", e "Dostoiévski Trip", do autor russo Vladimir Sorókin é muito mais! O autor, novidade russa, é encenado pela primeira vez no Brasil, com direção de Cibele Forjaz. Vale uma chegada ao teatro. 

    A plateia do Teatro I do CCBB (Centro Cultural do Banco do Brasil), no Rio de Janeiro, expande-se para conter tanta energia. São 8 atores, de duas companhias teatrais, "Mundana Companhia" e CIA.LIVRE, para nos contar a historia do NOVO TEATRO, o novo teatro russo (sempre na vanguarda!). Forjaz já esteve conosco no belíssimo "O Idiota - Uma novela teatral" - que durou 7 horas e estreou no teatro experimental do Jardim Botânico. Dessa vez o espetáculo não é tão surpreendente, mas é um desafio e um deleite. Só a segunda parte, que desenvolve alguns pensamento de Dostô em "Humilhados e Ofendidos", não se realiza com tanta precisão. A primeira parte é surpreendente e sinaliza o gênio no ser humano: viciados em literatura esperam o traficante que irá vender a eles uma nova droga. Dessa vez é Dostoiévski. (O autor mais sem brilho, na visão do "adicts", é William Faulkner!). 

     Essa primeira parte da peça é muito boa, com destaque, além da descrição das emoções que cada autor desperta, a música e a dança. Às vezes o espetáculo se expande e se transforma em um espetáculo total, no quadro coreográfico que desenvolvem. Uma achado, teatro total! Entre tantos autores citados: Simone, Tolstoi, Thomas Mann e tantos outros, acabamos ficando com Dostoiévski, e relembramos, por momentos fugazes, o doce Príncipe ingênuo, Myschkin (interpretado por Aury Porto) e sua amada Nastacia Filipovna, a prostituta (interpretada por Luah Guimarães). 

     Vladimir Sorókin se detém em Dostoiévski, para ele o maior escritor de todos os tempos, e aí podemos conviver com o mujique (Sergio Siviero), com o epilético (Marcos Damigo) com a mulher apavorada (Lucia Romano), com Vanderlei Bernardino e Edgar Castro. São tantos talentos, destacados pela música e atuação de Guilherme Calzavara, o "vapor" das drogas e o músico! e essa força da literatura que é Dostoiévski se apresenta vivo, graças e Sorókin e a Forjaz, no palco de um teatro! Nem Antonio Abujamra teria imaginado a cabeça destes dois! (Será que não?!)

      Infelizmente a segunda parte - penso que seria uma lembrança de "Humilhados e Ofendidos" - não se realiza plenamente, sobrevoando os perigos de um teatro panfletario!

       Enfim, quem consegue transportar o público da maneira que o consegue, na primeira parte dessa "recuperação século XXI" de Dostoiévski, tem o direito de errar! Quem sabe em um espaço cênico diferente?

     Não podemos deixar de nos referir às intervenções da luz, magnificamente criadas por Alessandra Domingues e adaptadas por Laiza Menegassi, sob coordenação de Renato Banti. 

        A tradução do texto é de Arlete Cavalieri.         

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