IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
Elenco de "Incômodos", direção Kel Gogliatti. Atrizes: Ângela Valerio, Andessa Guerra Bia Quadros, Gabriela Inoujain, Helena Bielinski, Luisa Olinto, e outras. (Foto Produção):
INCÔMODOS
Antes de tudo, trata-se de uma Celebração. Um ritual de acolhimento saudado por "Salve Regina", entoado por vozes ocultas para a plateia que, ao entrar, está de olhos escondidos por detrás de vendas negras... Estaremos quebrando algum misterio do espetáculo? Alguma surpresa?
O fato é que INCÔMODOS (pois é dele que se trata) acolhe um bom público de adolescentes - garotas e garotos - e homens e mulheres! - interessados nesta nova tentativa de compreensão do feminino. A "celebração" inicia-se com a entrega do sangue e da carne (femininos), em verdadeira transposição dos rituais masculinos. E onde está a mulher? "Tomai e bebei" ... dizem as novas bacantes - este vinho é o meu sangue. Esta hóstia é a minha carne". trata-se da "desconstrução" do proibido. Mulher só tem sangue quando menstrua: e à mulher não é permitido o gozo da carne... da sexualidade! E Vêm estas atrizes, estas meninas! - dizer o que devemos (elas devem) fazer?!
São 18 jovens em cena - 18 mulheres no esplendor de sua beleza e juventude! E se pensamos que a historia da mulher já está muito bem contada, nos enganamos. Ouvimos, na saída do espetáculo, rapazes comentando, como se tivessem percebido as obrigações sociais da mulher naquele momento, e uma dessas obrigações é ser bonita... (Quando pensamos que todos sabem tudo, eis a surpresa...). Também no espetáculo é contestada a tão famosa vocação materna da mulher. Uma invenção da nossa sociedade! Há muitas mulheres que não têm essa vocação... elas são consideradas desnumanas!
Mas voltemos à celebração... sem medo de romper com o misterio! Conhecemos, nos primeiros passos das bacantes (se as pudermos assim chamar) - jovens vestidas com véus cor de carne, que deixam expostas as suas caracteristicas femininas. As mulheres apresentadas como heroínas, em outros séculos, enfrentaram o mundo cultural (dos homens) e se destacaram. A Curadoria de Kel Cogliatti - e suas companheiras - fazem citações sem visão política: somente constatações da atuação destas mulheres. O espetáculo não é uma manifestação política mas, insistimos, uma "Celebração" ao feminino. Estaremos erradas?
... E assim Rosa Luxemburgo é citada, como também Nísia Floresta, e tantas outras que cultivaram idéias, colocando-se acima da submissão estabelecida. Não há perdão para a inação de nossas contemporâneas. As mulheres citadas atuaram, apesar da repressão contra elas, em todos os tempos!
A reação do público ao espetáculo é respeitosa. Parece até mais tranquila e conhecedora dos rumos do que é ser mulher (no Brasil e no Mundo)!!! A temporada na Casa Rio terminou, mas prestem atenção! pois a aventura do feminino deve continuar em outros locais. VAMOS TORCER PARA QUE TAL ACONTEÇA!
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