(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)
(Especial)
Pedro Osorio, em "A Peste", de Albert Camus, dirigido por Vera Holtz e Guilherme Leme Garcia. (Foto Renato Mangolin) |
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)
(Especial)
Chega ao palco, de maneira ainda
experimental (vede telefone auxiliar que atrapalha a concentração de quem assiste
“A Peste”, do Prêmio Nobel de Literatura
Albert Camus). Dirigida e adaptada por Guilherme Leme Garcia e também adaptada pelo
ator Pedro Osório, a peça conta com a co-direção de Vera Holtz.
O que temos a declarar sobre o texto de
Camus? Sua justificativa para ser levada ao palco é justamente o momento que o
Brasil vive: uma situação absurda. Camus costuma retratar situações
absurdas. Mas o que absorvemos do espetáculo – apesar do “ruído” da fala microfonada do ator –
é a sensação de perder o impacto da encenação
graças também a uma falha na ênfase de quem “provoca” o movimento: Toni
Rodrigues. O assim chamado “provocador do movimento” deixa passar momentos
mortos, e isto é fatal para o espetáculo. O ator torna-se agente passivo do texto
(enfatizo: talvez essa passividade seja provocada pelo microfone...).
A palavra “provocação” é muitas vezes colocada no programa da peça. Vejamos se nos sentimos tão provocados assim:
diz o programa que o espetáculo “apresenta a metáfora da peste para discutir as
relações humanas da sociedade contemporânea” - queiram os atores desculpar-me - mas o que assistimos é rebarbativo, os movimentos do ator para debelar a situação de pânico se resumem ao vai e vem
do transporte (de ossos?).
Infelizmente não há amparo para tanta provocação.
Talvez o melhor momento da peça seja quando o ator retira a máscara contra gás que o encobre
no início da representação, e a expõe ao público como se fossem ratos! Há a necessidade,
em espetáculo dessa natureza, algo mais do que a fala ininterrupta do ator: há a
necessidade do gesto enfático!
Certamente, fazer a reprodução do
trabalho de Albert Camus tem os seus méritos, ressentimos apenas eles não terem
atingido a proposta do autor argelino. O Flagelo tem que chegar às suas últimas consequências!
Esperamos, na continuação da temporada, que o
excelente ator Pedro Osório consiga o equilíbrio necessário entre o gesto e a fala!
Vale à pena conferir.
Será que eu me deixei provocar?
Iluminação sensível de Adriana Ortiz. Figurino: um simples terno “cidadão”, de Ana Roque).
Iluminação sensível de Adriana Ortiz. Figurino: um simples terno “cidadão”, de Ana Roque).