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terça-feira, 18 de setembro de 2018

" P R O C O P I O"




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"Procópio", texto de Carla Faour, direção Dani Barros. Em cena Kadu Garcia e Paulo Giannini. (Foto Divulgação)

IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)
(Especial)

Gostamos desta coisa meio Beckett que fala em “Decreto”, sem a gente saber direito do que se trata! Referimo-nos à última peça da dramaturga Carla Faour, “Procópio”, em cartaz no Sesc Copacabana. Há maneiras e maneiras de testar um acontecimento teatral. Podemos dizer que o acontecimento em questão se estabelece quando os dois moradores de rua se encontram, lutando pelo mesmo espaço... um velho prédio onde anteriormente funcionava o Teatro Procópio! Ideia ótima, essa, de trazer para o nosso palco um assunto tão vibrante e atual – a decadência da nossa cultura!

      Interpretados com galhardia por Kadu Garcia e Paulo Giannini, os dois personagens, radicalmente opostos, acabam entrando em sintonia. Os acontecimentos que se desenrolam naquele prédio em ruínas mexem com a alma da gente.  A direção é de Dani Barros, a nossa revelação de diretora. Não poderíamos estar melhor servidos.

     No texto, o problema que se estabelece de maneira subjetiva, e a partir das diferenças individuais (dos personagens), nos leva a um fascinante jogo de cena. A princípio pensamos que se trata de uma disputa por espaço, mas há algo, em um dos “contendores”, um componente humano que o diferencia de seu rival. São as famosas diferenças individuais que os dois talentosos atores jogam em cena. O lúdico é transformado em um processo envolvente de duas naturezas opostas. Emocionante. E não há, na plateia, quem não seja atingido pela mensagem final, quando o Artista (interpretado por Kadu), manifesta a sua natureza! Desde o momento em que a luz o ilumina, destacando a sua particularidade (que se manifesta, brincalhona e feliz desde o início - natureza típica da criança que levamos em nós!), conscientizamos estar na presença de um grande texto, e de um grande espetáculo. O final nos leva às lágrimas, pela sua delicadeza poética... e pela sugestão do que nos espera, se não tivermos sorte como País!

     Sim... nós sabemos que o teatro nunca vai acabar, sabemos que a sua magia permanecerá, ainda que os poderosos se manifestem contra o seu encanto. O tal “Decreto” visa calar a boca dos artistas. Mas, no final há um pronunciamento do personagem de Kadu, no qual ele cita os grandes nomes de nosso teatro e também os mais jovens e mais recentes, não esquecendo que o nome “Procópio” é uma homenagem a Procópio Ferreira... Muitos outros são homenageados! Há, também, na peça, uma referência atual sobre o abandono da nossa cultura. Nada mais perfeito. Salve Carla Faour!
     Trata-se de um espetáculo para ser prestigiado e conhecido por todos. Os que amam a Arte e o Artista, e os que virão a amá-los, pois, conforme diz o personagem de Kadu, nas palavras de Johann Wolfgang von Göethe, “A Arte Salvará o Mundo”!

     Ficha técnica muitíssimo bem escolhida: Cenário decadente de um futuro imaginado: Fernando Mello da Costa; Figurinos igualmente decadentes de Bruno Perletto! Iluminação do mestre Renato Machado. A música, cantada pelos dois atores é “Rosa”, de Pixinguinha, em homenagem ao nome, recuperado na lembrança, da esposa do personagem de Paulo. Não percam estes momentos lindos e poéticos de grandes artistas. Bravo!

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