"Procópio", texto de Carla Faour, direção Dani Barros. Em cena Kadu Garcia e Paulo Giannini. (Foto Divulgação)
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos
de Teatro – AICT)
(Especial)
Gostamos
desta coisa meio Beckett que fala em “Decreto”, sem a gente saber direito do
que se trata! Referimo-nos à última peça da dramaturga Carla Faour, “Procópio”,
em cartaz no Sesc Copacabana. Há maneiras e maneiras de testar um acontecimento
teatral. Podemos dizer que o acontecimento em questão se estabelece quando os
dois moradores de rua se encontram, lutando pelo mesmo espaço... um velho prédio
onde anteriormente funcionava o Teatro Procópio! Ideia ótima, essa, de trazer
para o nosso palco um assunto tão vibrante e atual – a decadência da nossa
cultura!
Interpretados com galhardia por Kadu Garcia e
Paulo Giannini, os dois personagens, radicalmente opostos, acabam entrando em
sintonia. Os acontecimentos que se desenrolam naquele prédio em ruínas mexem
com a alma da gente. A direção é de Dani
Barros, a nossa revelação de diretora. Não poderíamos estar melhor servidos.
No texto, o problema que se estabelece de
maneira subjetiva, e a partir das diferenças individuais (dos personagens), nos
leva a um fascinante jogo de cena. A princípio pensamos que se trata de uma
disputa por espaço, mas há algo, em um dos “contendores”, um componente humano
que o diferencia de seu rival. São as famosas diferenças individuais que os
dois talentosos atores jogam em cena. O lúdico é transformado em um processo
envolvente de duas naturezas opostas. Emocionante. E não há, na plateia, quem
não seja atingido pela mensagem final, quando o Artista (interpretado por Kadu),
manifesta a sua natureza! Desde o momento em que a luz o ilumina, destacando a sua
particularidade (que se manifesta, brincalhona e feliz desde o início - natureza
típica da criança que levamos em nós!), conscientizamos estar na presença de um
grande texto, e de um grande espetáculo. O final nos leva às lágrimas, pela sua
delicadeza poética... e pela sugestão do que nos espera, se não tivermos sorte
como País!
Sim... nós sabemos que o teatro nunca vai acabar,
sabemos que a sua magia permanecerá, ainda que os poderosos se manifestem
contra o seu encanto. O tal “Decreto” visa calar a boca dos artistas. Mas, no
final há um pronunciamento do personagem de Kadu, no qual ele cita os grandes
nomes de nosso teatro e também os mais jovens e mais recentes, não esquecendo
que o nome “Procópio” é uma homenagem a Procópio Ferreira... Muitos outros são
homenageados! Há, também, na peça, uma referência atual sobre o abandono da
nossa cultura. Nada mais perfeito. Salve Carla Faour!
Trata-se de um espetáculo para ser prestigiado
e conhecido por todos. Os que amam a Arte e o Artista, e os que virão a amá-los,
pois, conforme diz o personagem de Kadu, nas palavras de Johann Wolfgang von Göethe,
“A Arte Salvará o Mundo”!
Ficha técnica muitíssimo bem escolhida:
Cenário decadente de um futuro imaginado: Fernando Mello da Costa; Figurinos igualmente
decadentes de Bruno Perletto! Iluminação do mestre Renato Machado. A música,
cantada pelos dois atores é “Rosa”, de Pixinguinha, em homenagem ao nome,
recuperado na lembrança, da esposa do personagem de Paulo. Não percam estes
momentos lindos e poéticos de grandes artistas. Bravo!
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terça-feira, 18 de setembro de 2018
" P R O C O P I O"
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