"Nossas Mulheres" - direção de André Paes Leme. Em cena Isio Ghelman, Marcio Vito e Edwin Luisi. (Foto Claudia Ribeiro) |
"Nossas Mulheres" Foto divulgação dos quatro atores que compõe o elenco: Edmilson Barros (substituto de Marcio Vito), Isio Ghelman, Marcio Vito e Edwin Luisi. (Foto Nana Moraes)
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos
de Teatro – AICT)
(Especial)
Eis que recomeçamos o nosso métier de críticos de teatro depois da
hecatombe do “produtor” Luque Daltrozo. Jamais esquecerei este nome, não tem
capacidade para administrar o grande Teatro Adolpho Bloch... Teatro é amor, especialmente
distribuído pela produção entre as pessoas que se abalam de casa, nestes tempos
difíceis de noites imprevisíveis, para assistir teatro! Aliás, no dia seguinte estaríamos
enfrentando uma cirurgia, saímos de casa pelo fato de estarmos comprometidos
com o presidente do Conselho de Cultura do Amazonas, que manifestou curiosidade
em relação ao ótimo espetáculo Molière. Apesar de termos assistido da última
fila, e de nossos problemas com os olhos, não nos retiramos indignados (e com
razão), na hora da recusa do produtor, pois teatro é amor... Chegamos cedo para
pegar bons lugares, mas fomos os últimos a sermos atendidos. Isto é Brasil!
Dependemos das idiossincrasias de terceiros... Meu consolo é que este fiasco do
“Sr” Daltrozo (que nome!), percorrerá o mundo. Sou lida na Europa e Estados
Unidos (também...), graças à AICT.
Mas passemos a “Nossas Mulheres”, produzido
por Maria Siman, com seu conhecido e ótimo trabalho. Está de parabéns também o
produtor do Teatro Ipanema, José Carlos Vedova. Faço minhas as palavras de um
frequentador: “Um experiência única, pessoas agradáveis e gerencia de primeira
linha”.
“Nossas
Mulheres” está em cartaz no Teatro Ipanema até o dia 24 de setembro. Não Percam! Trata-se do encontro de três
amigos, Isio Ghelman (Paulo), Edwin Luisi (Max) e, no dia em que assistimos,
Edmilson Barros (Simão) substituindo Marcio Vito. Trata-se de um jogo
arriscado, pois os três atores oferecem uma situação cotidiana. O brilhante
fica por conta de suas atuações. Aliás, o texto de Éric Assous, uma comedia do dia
a dia tão ao gosto do paladar francês transforma-se, nas mãos de André Paes Leme
(ótimo diretor), em um show em que o rei está nu, uma nudez que tenta se fazer entender. Não que os personagens sejam impenetráveis, eles são inacreditáveis!
Explico: no decorrer do espetáculo
percebemos as lacunas que nos levarão ao final já esperado. Mas não nos
precipitemos, no meio tempo entre o início da peça e seu final, muita coisa
boa acontece, principalmente devido à boa interpretação dos três atores. (Dá
vontade de assistir novamente, para ver Marcio Vito em cena, ator que muito prezo).
Volto aos comentários: faz sentido, nestes
tempos que correm, ouvir a palavra destes seres desconhecidos (para as mulheres)
que são os maridos! Na peça de Assous há todo tipo de homem, menos o recém-casado
amoroso, pois trata-se do encontro de amigos que estão casados há muitos anos, e o amor se
transformou em rotina. Mas não desanimemos, a maneira com que os três amigos
(principalmente Luisi e Ghelman) enfrentam a situação nos dá o prazer de assistir
a um teatro que, não sendo cerebral, é essencial: os personagens estão vivos, e
vivos estão os sentimentos que os três colocam em seu (re)conhecimento homem/mulher.
A destacar, em termos de comedia (pois
esta é a proposta) a dança rap de Edwin Luisi (que ator!); o “momento indignação”
de Ghelman (outro ator excelente) quando constata que seu papel de pai pode ter
consequências inimagináveis... e o dead end a que chega Simão (Edmilson
Barros), ao nos fazer perceber do que somos capazes quando
pressionados pelo infortúnio! E mais não posso dizer, pois esta peça não se
resume aos bons momentos passados na companhia destes três atores, mas também
age sobre a nossa consciência. Vale à pena assisti-la. Aliás, comedias
inteligentes sempre são boas de assistir.
A ideia foi da produtora Maria Siman em uma
viagem a Paris, quando teve ocasião de conhecer o trabalho de Éric Assous, a
atual coqueluche dos franceses, que adoram tratar assuntos-limite com a nonchalance de quem já enfrentou muitas
ações desesperadas em suas vidas... tão desesperadas, que viram comédia!
O cenário é o de uma sala de visitas de
apartamento de solteiro (Max vive afastado de Magali, sua mulher). Ah, antes
que nos esqueçamos, as mulheres só aparecem nos pesadelos destes meninos
mimados... mas, o recado que deixam é da maior importância.
Pois bem, o cenário é de Miguel Pinto
Guimarães; Figurinos do dia a dia, de Bruno Perlatto; Iluminação de Renato
Machado e Trilha Sonora de Ricco Viana. Muito bom. A tradução (fluida e
competente) é de Beatriz Ittah. Há duas
participações afetivas: a de Bianca Byinton na voz de Magali (mulher de Paulo)
e a de Guilherme Siman, interpretando a voz do policial. Se vocês querem saber
o porquê do policial, deem um pulo lá no Teatro Ipanema. Eis o renascer da comedia à la Neil Simon. Não
percam!
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