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terça-feira, 6 de agosto de 2019

MARACANÃ

Resultado de imagem para FOTOS TEATRO MARACANÃ - MOACIR CHAVES
MARACANÃ - Texto e Direção de Moacir Chaves. Intérprete Ricardo Kosoviski (Foto Giselle Falbo).

IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)
(Especial)

MARACANÃ

“Habemus scripta!” Ele inicia, ou melhor, o ator Ricardo Kosovski
inicia o espetáculo chamando, conclamando o público, com seriedade 
e urgência, para este encontro com o humano! 

Na verdade, Ricardo Kosovski vai interpretar o texto de Moacir
Chaves, “Maracanã”, uma contemporânea junção de textos,
clássicos e modernos, sobre as desordens do nosso dia a dia.
Trata-se da nova escrita, que não deixa para trás os antigos valores
 e incita o público a prestar atenção no que vai se passar no palco.
Trata-se de uma aula sobre o humano. Pelo menos é o que nos parece,
que vamos assistir a narrativas bem-humoradas sobre o lado escuro
da natureza humana. Sim, está em destaque, no texto de Moacir Chaves,
o Mal - encoberto com grande senso de humor e ironia. Sim,
muitas vezes o humor e a ironia são recursos mais eficazes para narrar,
em teatro, a tragedia e a melancolia das quais o ser humano é capaz,
em seu dia a dia.
Não estamos com isso libertando “Maracanã”, o texto de Moacir Chaves,
da tragedia e da melancolia. As bruxas de Macbeth podem ser o temor
do homem contemporâneo, o temor ao retratar as mulheres, estas
bruxas desconhecidas. E não podemos deixar de perceber,
nesta passagem “irresponsável”, como os homens entendem, de maneira
bem-humorada  (no sentido de assimilar a proposta...), a estas modernas
mulheres-bruxas!
Há, no texto, a compreensão do lado perverso do humano (Macbeth é um
bom exemplo),  que se revela também no oportunismo dos diretores dos
grandes espaços modernos, que  abrigam milhares de seres humanos,
em conglomerados, como o do Maracanã, “o maior estádio do mundo”,
e a tudo transformam em caos, em nome do lucro. O espetáculo
concentra-se na verdadeira alma do humano, a sua maldade.
Porém há atenuantes, e é quando o narrador/ator nos incita a
complementar o que está revelando, em sua narrativa inesgotável,
até compreendermos o que lhe vai n’alma!  Em sua argumentação
há passagens de Tchecov (“O Jardim das Cerejeiras”, muito oportuno,
sobre os servos, e a conservação da natureza), Padre Antonio Vieira e
Manuel Bandeira também fazem presença. Sim, há os que compreendem
o humano, e se debruçam sobre ele, como estes três últimos citados!
Como Shakespeare, claro! Esperamos que este encontro continue,
depois de sua estada no Teatro Sérgio Porto!    
Nesta historia toda saímos muito interessados ao constatarmos ter,
no Brasil, dramaturgos que se preocupam com a escrita e com o
recado que querem transmitir a quem os assiste. Pessoas que criam o seu
texto. Seres sensíveis.
Demos, como público, mais um passo em direção à compreensão do
trabalho de Moacir Chaves.
Gostaríamos de ouvi-lo mais.
Quanto a Ricardo Kosovski, que transmite com precisão o pensamento
do autor, louvamos a capacidade de comunicação com o público,
a empatia que revela e nos surpreende. Sempre foi assim, quando
está em cena. Temos a celebrar o isolamento deste alguém que pensa.
O espaço criado pelo nosso querido Fernando Mello da Costa,
um poeta do olhar, que conseguiu limitar o isolamento e abrir caminho
para o ator se libertar de pensamentos que o acompanham, insistentemente.
Como já formulamos, estes pensamentos vão sendo absorvidos por quem o
 vê e ouve – o espectador do milagre teatral. A iluminação, que participa
deste encontro, é de Aurélio de Simoni, nosso grande Mestre. Figurino
do cotidiano de Lídia Kosovski. Temos, com estes seis fatores: autor, direção,
atuação, espaço cênico, iluminação e figurino, um grande e verdadeiro
encontro com o Teatro!                   

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