Marina Salomon e Antonio Negreiros em Romola & Nijinsky,
direção de Regina Miranda (Foto: Luis Cancel) .
Castelinho - Centro Municipal de Cultura Oduvaldo Vianna Filho, local do espetáculo Romola & Nijinsky, de Regina Miranda com os Atores Bailarinos. |
Romola de Pulszky |
Regina Miranda, a coreografa/bailarina e diretora que nos deu este belo Romola & Nijinsky. Regina pesquisou nas obras de Romola e no Diario de Nijinsky para fazer a dramaturgia do espetáculo. |
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
ROMOLA & NIJINSKY
Regina Miranda, nossa grande coreógrafa, retorna em plena forma a seus Atores Bailarinos. E lá no Castelinho do Flamengo que se dá este encontro. Regina transformou aquele local na mágica morada de Nijinsky e Romola de Pulszky, o casal inesperado do mundo da dança. Desde que Regina nos ofereceu, no final do segundo milênio, a sua Divina Comedia - uma narrativa extraordinária em imaginação e poder - trazendo para nós um Dante Alighieri do alto da imponência do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, não tivemos mais a oportunidade de assistir, não em plena inspiração artística, ao encontro deste grupo de Regina Miranda: os Atores Bailarinos! São quatro artistas, eu diria, interpretando estes dois amantes da arte! Na vida real temos Marina Salomon e Antonio Negreiros nos trazendo de volta o tempo de Nijinhsky e Romola!
Seis, eu diria! Não podemos esquecer a bela Clarice Gonzallez que representa Lili Kraus, a pianista amiga do casal, e que nos encanta com as interpretações de Ravel, Stravinsky, Schumann, Satie... musa essa que não nos deixa esquecer que também domina o dom da comunicação da atriz. Bem explorado é o momento em que Nijinsky pede à amiga que toque uma música, talvez Eric Satie! ... ou Schumann? A diretora/coreógrafa Regina Miranda é artista permanente, a que cuida dos acontecimentos inesquecíveis!
A coreógrafa transformou o moldável
Castelinho em um local sofisticado, em um espaço transpirando o bem cuidado
século XIX, onde todos falavam francês,
inclusive os russos... e os aristocratas
e artistas se sentiam em casa, em um ambiente acolhedor e culto. E Regina pode
trabalhar, assim, com seus parceiros de sonho: Marina Salomon e Antonio
Negreiros, que nos levam ao tempo mágico em que a arte era tratada de maneira vital.
É interessante notar a adequação dos artistas aos personagens que interpretam.
Antonio Negreiros, um gigante em todos os sentidos, foi uma surpresa na noite
da estreia (e em todas as noites), demonstrando
possuir a mesma delicadeza de Nijinsky, com seus traços delicados, seu perfil
semelhante e a mesma emoção ao revelar seus sentimentos. (Quem escreve neste
momento foi pesquisar o que ficou das atuações de Nijinsky, flashes filmados na
época). A emoção de Negreiros vai em um crescendo até o final de Nijinsky como
bailarino, momento no qual ele admite ser “um louco com bom senso e os nervos
treinados”. Nijinsky viveu os altos e baixos da esquizofrenia até sua morte, no
início dos anos 50.
E o que dizer da interpretação de Marina
Salomon? Na verdade, a posteridade declara que Nijinsky a amou. Sim, pela
dedicação do bailarino percebe-se que ele a amou. Nijinsky chegou a faltar a um
espetáculo porque Romola estava doente! É o que dizem os registros, e essa
preocupação se chama amor (talvez, um pouco coroada com irresponsabilidade, mas
os gênios fazem isso. Talvez ele nem conseguisse dançar, tão preocupado estava?
Talvez sua filha Kyra estivesse nascendo?). Marina Salomon, a atriz/bailarina,
se entrega totalmente a esta mulher que ama, se apaixona, Romola, e vive o
tormento que lhe foi dado para viver. Alguns dizem ainda que tanta loucura que
tomou conta dos dois foi em consequência da chegada à Bahia e ao Rio de
Janeiro. Eles ficaram enlouquecidos com tanta beleza e sensualidade! Romola já
estava apaixonada por Nijinsky (assim
ela conta para sua amiga Lili Kraus, a pianista). Porém Romola era uma mulher
forte, e sabia o que iria enfrentar. Pelo menos essa é a impressão que o
espetáculo de Regina Miranda deixa encravada em nosso peito: a responsabilidade
de Romola de Pulszky, em relação a Nijinsky!
Marina está inteira, verdadeira, em todos
os momentos em que se entrega ao personagem. Ela vive a emoção da conquista, o reconhecimento do
amor compartilhado. Entretanto, há no contexto do espetáculo um Nijinsky amargo que a assusta, com tanto desespero. Ela diz
não ter medo (a foto de Luis R. Cancel monstra um momento de conflito do casal),
mas Romola tenta sempre ajudar Nijinsky. Ela o ama.
As situações de conflito são muito bem
resolvidas pelos dois artistas. Como o são também as situações generosas, de
gestos afetivos e palavras doces. Há, em certos momentos, o que podemos chamar
de “um turbilhão de emoções” entre os dois, às vezes agressivas, outras
apaixonadas, e quem sai ganhando é o público!
Quanto à transformação mágica do “Castelinho
do Flamengo”, podemos constatar, caminhando em suas salas, subindo aos inúmeros
cômodos, o cuidado com que o espetáculo foi levantado. Há móveis de época na “sala
da música”: uma preciosa poltrona estilo Império, salvo engano, com uma harpa desenhada.
O piano de cauda, o biombo oriental..! No térreo temos as projeções de cenas de
Nijinsky e móveis estilo francês, com seus espelhos e poltroninhas que os
acompanham. Grande delicadeza. Coisas de Regina... pois é sua, também, entre outras
coisas já citadas, a concepção do cenário!
Direção de Arte de Raquel Guerreiro, e imagens
de vídeo com a série Nijinsky: variações, de Amador Perez.
Videografismo (dando vida ao espetáculo) de Inez Torres. Iluminação, a alma que
acompanha a cena, é de Paulo Brakarz. Figurino
e alfaiataria são criações de Anna Vic e Luiza Marcier (figurinos). E Macedo
Leal assina a alfaiataria. Assistente de Direção Camila Simion. DIREÇÃO: Regina
Miranda. O espetáculo estreou dia 8 de agosto de 2019. Vai até 1º de setembro
do mesmo ano. NÃO PERCAM!
É
IMPRESSIONANTE A BELEZA DO ENCONTRO DESTES ARTISTAS!
Para coroar a sua iniciativa Regina decorou o cenário
com moveis de época, tapetes de coleção, um piano de cauda com o som mais puro,
envolvido em uma iluminação inspiradora. Como podemos constatar, vários fatores
se juntaram para proporcionar ao público este caminho em direção ao destino do revolucionário
da arte que foi Nijinsky. Regina debruçou-se em uma rigorosa pesquisa no Diário
de Nijinsky, nos livros que Romola escreveu a seu respeito, e pode contar esta
história do entre-guerras trágico. Sempre, de uma maneira ou de outra, a guerra,
longínqua ou presente, atrapalha a Arte, fazendo os artistas sofrerem.
Nijinsky e Romola em um castelo semelhante ao nosso! |
"L' après midi d'un faune", de Debussy, primeira coreografia de Nijinsky. |
Nijinsky e Serguei Pavlovich Diaghilev, o empresário que destruiu Nijinsky. (Fotos Divulgação). |
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