"O Anjo do Apocalipse" - Cena Final: Partimos para outro futuro? Ao centro o Anjo Marcello Escorel, As vítimas são Eliakim, o judeu (Daniel Dalcin), e Zahra, a mulher palestina (Juliane Araujo). Texto de Clovis Levi, direção Marcus Alvisi (Foto Pablo Henriques) |
A Despedida do Público: Daniel Dalcin, Marcello Escorel e Juliane Araujo. Asas do Anjo: atriz e aderecista Maria Adelia (Foto Pablo Henriques) |
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos
de Teatro – AICT)
(Especial)
O ANJO DO APOCALIPSE
O
Professor Clovis Levi, a quem podemos chamar de o Dramaturgo Clovis Levi, acaba
de nos apresentar uma obra prima sobre o início dos tempos, sobre os caminhos
da Bíblia, desde o Antigo Testamento até os nossos dias! O texto chama-se “O
Anjo do Apocalipse” e mostra como as religiões, que vieram para “religar” os
humanos, podem se constituir em um engenho de destruição! Conheçam “O Anjo do
Apocalipse” e reconheçam a força da palavra como o nascedouro de todas as
desgraças! Para o autor – estremeçam! – tudo começou no Oriente Médio, e tudo
vai acabar no Oriente Médio! Mas tudo não é tão simples assim. Este Anjo vai
nos dar a conhecer a força do “Deus dos homens”.
E Deus existe, afinal?
Vamos retroceder aos templos bíblicos (e
saímos deles?), e tentar entender tudo o que acontece no Teatro Ipanema quando alguém, com visão, resolve contar a
verdadeira saga do Oriente Médio, ONDE TUDO COMEÇOU, E ONDE TUDO VAI ACABAR!
E vamos falar das três religiões que
continuam a comandar o mundo: vamos falar como aconteceu o Judaísmo, o Cristianismo
e a Revolução Muçulmana. Que lugar complicado, esse tal de Oriente Médio! Como
foi que tudo aconteceu mesmo?
“O Anjo do Apocalipse”, texto de Clovis
Lei, é um estudo aprofundado (e poético) que tem por finalidade nos relatar os
caminhos da religião também nos tempos atuais e ocidentais (sim, porque não
podemos negar que o Ocidente está metido até o pescoço neste embrulho cósmico!),
mas, o que para o Ocidente talvez fosse um estudo sobre as religiões, transformou-se,
para Levi, em Teatro, Dramaturgia, Drama!
Diz o autor que o texto surgiu em 2008, e sua intensão era escrever um
livro, mas tal não aconteceu, e, o que vemos agora é um texto incisivo,
irônico, que se debruça sobre a saga humana, onde a religião é o fator
determinante. O que pode acontecer agora é você ir até o Teatro Ipanema (sempre
ele, com historias pontuais, como nos tempos de Rubens Correa!), e pensar um
pouco sobre o desvario dos homens neste
Planeta Terra, e como tudo isso acabará.
Tentemos entender agora um pouco do que
aconteceu no lendário Teatro Ipanema, nesta estreia de 2019!
O texto se desloca, e atinge os últimos
acontecimentos, os do Século XXI. EUA, RUSSIA, e os povos do Oriente Médio continuam,
agora, tão envolvidos como o foram os povos antigos, em milênios passados! O
estudo começa com o início dos tempos religiosos (sobre a saga dos Orientais,
bem entendido) e mostra-nos como o DEUS, exuberante e bíblico, comanda seus
protegidos DESDE SEMPRE: ou seja, desde tempos imemoriais até os nossos dias!
Aprendam como se conta essa historia, com Clovis Levi no texto ... e Marcus
Alvisi na direção!
Tempos imemoriais. Tempos do Anjo Guerreiro,
o Mensageiro, com sua Espada de Fogo. Ele é o Querubim, o que comanda todas as
milícias (interpretado com “carisma e humor” por Marcello Escorel). Como diz
seu criador, na peça, Clovis Levi, o ator que vai desenvolver este personagem tem
que ser carismático, e o papel foi entregue a Marcello Escorel. O Anjo
Guerreiro se apresenta: “...sou o Querubim
mais prestigiado das milícias celestiais, cargo que ocupo há três
milhões e meio de anos...”
Ficamos imaginando, no decorrer da
narração de toda essa Historia Celestial, como era poderosa a imaginação dos
homens antigos... e como ela permanece poderosa, cada vez mais poderosa! Senão
vejamos: O Anjo avisa Abraão, a mando de Deus (e uma voz poderosa se faz ouvir,
a voz de Deus, comandando Abrão): “Sai-te da tua terra para a terra que te
mostrarei. E far-te-ei uma grande Nação”. (O Querubim observa, com júbilo, as
“ênclises” e “mesóclises” com que Deus fala, e acrescenta para o público):
“Essa Terra Prometida vocês não tem noção da ma-ra-vi-lha que vai ser”. E Deus
continua, com seu vozeirão: “Esta terra, Canaã, onde jorrará leite e mel, mais
tarde chamar-se-á Palestina”.... E aí começa o rolo todo que vocês conhecem,
que culmina com 1948 e a criação do Estado de Israel, e por aí vai! Só vendo,
para crer! NÃO PERCAM!
Além da prestigiada interpretação do Anjo,
de Marcello Escorel, o “Anjo Guerreiro”, temos mais dois atores, que
interpretam a mulher palestina Zahra e o judeu Eliakim, em diversos momentos da
historia humana daquela região (que reflete a nossa Historia, é claro!), e vai
tocar na nossa insensatez eterna! Bravos Zahra (Juliane Araújo) e Eliakim
(Daniel Dalcin)! Um elenco tão verdadeiro e competente consegue concretizar o
que é lido no (agora) texto teatral de Clovis Levi. Alguém poderia imaginar que
este professor tranquilo e acolhedor carregasse dentro de si o Aristóphanes dos
tempos modernos?! E que seus personagens, que tudo possuem, matassem e
morressem, como diz Zahra, com o ódio que nem ela entende? “Essa é a minha terra, diz Zahra, e é por ela
que eu mato, é por ela que morro.”
Para resumir a situação, temos um
dramaturgo entre nós! Ele possui a bela e terrível compreensão do que está
acontecendo, e do que sempre aconteceu, neste mundo que nos cerca. E, no Teatro
Ipanema, graças à conjunção de vários fatores, entre eles o acerto do convite a
este diretor maravilhoso que é Marcus Alvisi (imaginamos que, sem ele, talvez essa
historia não seria contada com tanta precisão), temos profissionais de primeira
qualidade transformando o que “pensávamos ser impossível levar à cena”, em um
espetáculo simples e fluente, como é a narrativa inacreditável dos primeiros
tempos da humanidade. O que vemos no palco se transforma, a todo momento, nas
mãos dos magos que são Clovis Levi, Marcus Alvisi, João Dias (e nos
perguntávamos como seria colocar a Palestina no Palco!), e Aurélio de Simoni (essa luz que Deus lhe deu, e que ele
considera “bobagem”!)
Temos ainda a trilha sonora criada por
Alvisi e Joel Tavares, assistente de direção. Temos as asas do anjo da atriz e
aderecista Maria Adelia e vemos, no final, um sóbrio Querubim Marcello Escorel.
Ficamos nos interrogando o porquê de tanta sobriedade, e o Anjo do Apocalipse
rememora: “Quando escrevi o Apocalipse, milênios atrás, o que eu via era o número
sete. No Oriente Médio sete países acabaram de entrar em guerra. O que se vê,
agora, em toda a Terra, é a Cólera de Deus, muito choro e um interminável
ranger de dentes”.
Porém, o Anjo Apocalíptico tem esperança,
e conclui:
“Em algum tempo ainda muito distante, descerá
dos céus uma Cidade Nova – uma santificada Jerusalém. Mas, até lá, a voz de
harpistas, a voz de violinos, a voz de tocadores de flautas e de clarins,
jamais, jamais em ti se ouvirá.” (...)
Neste texto de Clovis Levi o que ocorre é
a constatação da loucura humana, e também a facilidade de fabulação que o ser humano
possui. E o autor conclui que, nesta Historia da Santidade, o Vaticano também
entra na dança..., e nos leva a pensar, novamente, naqueles tempos de Luxo, Riqueza,
Corrupção, INQUISIÇÃO! Tudo igual, em termos de destruição!
Eis uma peça que nos leva ao raciocínio e
à compreensão do desatino que está sendo a nossa passagem por este nosso tão
amável Planeta Terra! NÃO PERCAM CLOVIS
LEVI. Ele possui várias peças escritas e encenadas, mas o verdadeiro
dramaturgo está aqui, com todas as letras, assinando a este nosso
“O Anjo do Apocalipse”!
O Trio de Atores. O Anjo, o Judeu e a Mulher Palestina! Maravilha! (Foto Pablo Henriques)
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