IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro –
AICT)
(Especial)
LEOPOLDINA – Independência E Morte
Em cartaz até o dia 23 de fevereiro, no Teatro I do CCBB, Rio de Janeiro, o espetáculo que tanto sucesso fez em São Paulo e Minas Gerais. Dirigido pelo paulista Marcos Damigo, diretor que escreveu vibrante texto sobre a nossa Imperatriz Leopoldina, que, entre outras façanhas, nos deu o querido Pedro II, filho que herdou o temperamento de sua mãe, e o mesmo gosto para a cultura e o saber.
Imperatiz Leopoldina - Atriz Sara Antunes.
Atriz Sara Antunes e Ator Plínio Soares.
Ministro José Bonifácio - Ator Plínio Soares
(fotos de Maira B, Victor Iemini e Lorena Zschaber).
(fotos de Maira B, Victor Iemini e Lorena Zschaber).
Em cartaz até o dia 23 de fevereiro, no Teatro I do CCBB, Rio de Janeiro, o espetáculo que tanto sucesso fez em São Paulo e Minas Gerais. Dirigido pelo paulista Marcos Damigo, diretor que escreveu vibrante texto sobre a nossa Imperatriz Leopoldina, que, entre outras façanhas, nos deu o querido Pedro II, filho que herdou o temperamento de sua mãe, e o mesmo gosto para a cultura e o saber.
Feitas as homenagens aos dois principais
representantes da monarquia (!) brasileira, podemos acrescentar que nossa
Leopoldina pensou em dar um cunho Constitucionalista à sua Casa, conservando-a,
talvez, até nossos dias. Não seria má ideia conservar, nos trópicos, o feito
dos ingleses. Parece incrível, mas aquela Monarquia, para o bem ou para o mal
dura até hoje, com o estímulo dos ingleses e é uma das responsáveis por
sua imagem extravagante! ( Claro que
sabemos que existem outras monarquias extravagantes na extravagante Europa, mas
o assunto que nos toma hoje não é este).
Um dos méritos do texto de Marcos Damigo é
trazer para os nossos dias alguns momentos de uma Imperatriz Leopoldina bem-humorada.
O autor indica de maneira sutil o possível
encanto da Imperatriz (embora alguns
autores digam que ela não era encantadora na vida real). Uma das maneiras que o
autor mostra este encanto é através dos ditos populares que ela utiliza, no
diálogo com o ministro José Bonifácio. O Segundo Fragmento (são três) mostra a
austríaca “quase brasileira” em que se transformou: “estou metida na política
até o pescoço”; ou comentando com ironia a proposta de Bonifácio a respeito de
ela se tornar uma “verdadeira Imperatriz do Brasil, sábia e magnânima”: Diz
Leopoldina: “e assim o senhor mata dois coelhos com uma cajadada só” ... para
ele se livrar do exílio e morte! (Só assistindo a peça para dominar este
contexto!). O ator que interpreta José Bonifácio - Plínio Soares - o faz com
elegância e contenção.
... e
há muito mais! A descrição de Leopoldina a respeito dos festejos no Rio de
Janeiro para comemorar a sua chegada: uma verdadeira festa oriental, que nos
faz lembrar os faustos dos tempos da Monarquia de Espanha e Portugal,
descendentes que são do mágico Oriente.
Há tanta coisa! Tanta delicadeza na
direção! Tanto “clima” de época no cenário de Renato Bolelli Rebouças, com suas
modificações abruptas dando espaço para os vídeos de Lucas Brandão e Marcos Damigo transmitindo
para o público a necessária cronologia histórica. E, junto com a vida levada
pela Imperatriz, vamos constatando os momentos em que colônias espanholas “estouram
feito pipocas”, no linguajar moderno e brasileiro de nossa Leopoldina, se transformando em repúblicas. Por que não o
Brasil? - ela se pergunta. E, através
dos vídeos, são narrados acontecimentos históricos nem sempre registrados em
livros. Ironia das ironias, nosso presente histórico quer nos fazer colônia
novamente!
Na peça, o exílio da Imperatriz, a sorte
que lhe tocou longe de sua Áustria querida é narrado no Primeiro Fragmento,
quando a atriz Sara Antunes e a musicista Ana Eliza Colomar, com seu cello e
flauta, nos fazem uma delicada troca de emoções entre a música refinada de
Beethoven (e outros), e os pensamentos de Leopoldina. No Terceiro Fragmento, o
final da peça, Ana Eliza toca em seu cello o Hino à Independência composto por
D. Pedro I, deixando-nos a impressão que a verdadeira vocação do “Primeiro” era
ser músico, com seu violino e a beleza de seu Hino, que nos faz perdoar todos
os desacertos do Imperador!
No
texto de Marcos Damigo há vários momentos deliciosos, como o encontro da
linguagem portuguesa feita por Leopoldina no Primeiro Fragmento: “Adoro a
sensação do “lh” dentro de minha boca... o “ão” de aumentativos... E os
diminutivos... boquinha, chazinho, carinho... Ah, o jeitinho brasileiro!” Que
atriz cheia de recursos é Sara Antunes, a nossa Leopoldina. Ela pode
transformar, da maneira mais singela, a dor em alegria, e o delírio que vai
narrando a Historia, em verdade. Aliás, chegamos a pensar que Damigo teve pudor
em relatar a verdadeira condição da quase menina Leopoldina que aos 29 anos foi
levada à velhice e à morte. Dizem que
com os maus tratos de D. Pedro a envelheceram precocemente. Morreu aos 29
anos... Podemos dizer que a versão de Damigo foi mais delicada do que a
verdade, embora a morte de Leopoldina permaneça um mistério. Pensamos que,
recentemente (estamos em 2020) nada de
muito esclarecedor nos foi apresentado durante as pesquisas realizadas na
estrutura óssea da Primeira Imperatriz do Brasil.
A direção de Marcos Damigo é primorosa, e
seu texto (volto novamente a ele), nos remete às limitações de um Brasil que gostaríamos
livre. Quando nos referimos à História, é inevitável a comparação e identificação
com o presente. Muitas passagens da peça nos remetem ao Brasil
atual, mas nunca é demais lembrar os bons momentos de paixão da Imperatriz, quando Leopoldina
declara: “meu amor por Pedro chega a me enlouquecer, acho-o tão belo quanto
Adônis”. É Leopoldina apaixonada desde o primeiro instante em que viu seu
marido... “achei-o extraordinariamente belo (...) dois fascinantes olhos
negros, um nariz nobremente aquilino e sorridentes lábios grossos”. Os
comentários da Imperatriz em sua chegada ao Brasil se estendem ao cortejo e à
magnificência oriental do mesmo... E temos notícia do povo brasileiro, o carioca,
festejando alegremente! Mais amada a Imperatriz não poderia se sentir...
Mas ficamos por aqui. Ótimos os figurinos de época de Cássio Brasil, e a trilha
sonora recolhida por Ana Eliza Colomar e Nivaldo Godoy Junior, nos trazendo um
tempo de delicadeza. O desenho de luz de Aline Santini. Neste quesito (e nos demais)
o Brasil pode competir, em teatro, com qualquer país avançado. O consultor
histórico do projeto, Paulo Rezzutti, que o diga! Fotos divulgação Victor
Iemini e Lorena Zschaber. Produção Local Gabriel Bortolini. Assessoria de
Imprensa: JSPontes Comunicação. Trata-se
de uma primorosa produção, patrocinada pelo Banco do Brasil.
É BOM VER BOM TEATRO!
Não se poderia esperar nada que não fosse excelente, do amor de Marcos Damigo pelo teatro. Parabéns, filho. Seus esforços recompensados. Beijos do seu pai que tanto se orgulha de vc.
ResponderExcluirEu assistir o monólogo sobre a imperatriz em São Paulo em novembro de 2017 no museu no Ipiranga. Eu guardo esse momento em meu peito, em saber que uma mulher que atravessou o mar escolheu o Brasil para ser a sua terra (e seu descanso). Salve a imperatriz Leopoldina do Brasil.
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