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segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

LEOPOLDINA - INDEPENDÊNCIA E MORTE


IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)
(Especial)
LEOPOLDINA – Independência E Morte


 Imperatiz Leopoldina - Atriz Sara Antunes.  
Atriz Sara Antunes e Ator Plínio Soares.

Ministro José Bonifácio - Ator Plínio Soares 
(fotos de Maira B, Victor Iemini e Lorena Zschaber).

     Em cartaz até o dia 23 de fevereiro, no Teatro I do CCBB, Rio de Janeiro, o espetáculo que tanto sucesso fez em São Paulo e Minas Gerais. Dirigido pelo paulista Marcos Damigo, diretor que escreveu vibrante texto sobre a nossa Imperatriz Leopoldina, que, entre outras façanhas, nos deu o querido Pedro II, filho que herdou o temperamento de sua mãe, e o mesmo gosto para a cultura e o saber.

     Feitas as homenagens aos dois principais representantes da monarquia (!) brasileira, podemos acrescentar que nossa Leopoldina pensou em dar um cunho Constitucionalista à sua Casa, conservando-a, talvez, até nossos dias. Não seria má ideia conservar, nos trópicos, o feito dos ingleses. Parece incrível, mas aquela Monarquia, para o bem ou para o mal dura até hoje, com o estímulo dos ingleses e é uma das responsáveis por sua  imagem extravagante! ( Claro que sabemos que existem outras monarquias extravagantes na extravagante Europa, mas o assunto que nos toma hoje não é este).

     Um dos méritos do texto de Marcos Damigo é trazer para os nossos dias alguns momentos de uma Imperatriz Leopoldina bem-humorada. O autor  indica de maneira sutil o possível encanto da  Imperatriz (embora alguns autores digam que ela não era encantadora na vida real). Uma das maneiras que o autor mostra este encanto é através dos ditos populares que ela utiliza, no diálogo com o ministro José Bonifácio. O Segundo Fragmento (são três) mostra a austríaca “quase brasileira” em que se transformou: “estou metida na política até o pescoço”; ou comentando com ironia a proposta de Bonifácio a respeito de ela se tornar uma “verdadeira Imperatriz do Brasil, sábia e magnânima”: Diz Leopoldina: “e assim o senhor mata dois coelhos com uma cajadada só” ... para ele se livrar do exílio e morte! (Só assistindo a peça para dominar este contexto!). O ator que interpreta José Bonifácio - Plínio Soares - o faz com elegância e contenção.  
   
    ... e há muito mais! A descrição de Leopoldina a respeito dos festejos no Rio de Janeiro para comemorar a sua chegada: uma verdadeira festa oriental, que nos faz lembrar os faustos dos tempos da Monarquia de Espanha e Portugal, descendentes que são do mágico Oriente.

     Há tanta coisa! Tanta delicadeza na direção! Tanto “clima” de época no cenário de Renato Bolelli Rebouças, com suas modificações abruptas dando espaço para os vídeos de Lucas Brandão e Marcos Damigo transmitindo para o público a necessária cronologia histórica. E, junto com a vida levada pela Imperatriz, vamos constatando os momentos em que colônias espanholas “estouram feito pipocas”, no linguajar moderno e brasileiro de nossa Leopoldina,  se transformando em repúblicas. Por que não o Brasil?  - ela se pergunta. E, através dos vídeos, são narrados acontecimentos históricos nem sempre registrados em livros. Ironia das ironias, nosso presente histórico quer nos fazer colônia novamente!

     Na peça, o exílio da Imperatriz, a sorte que lhe tocou longe de sua Áustria querida é narrado no Primeiro Fragmento, quando a atriz Sara Antunes e a musicista Ana Eliza Colomar, com seu cello e flauta, nos fazem uma delicada troca de emoções entre a música refinada de Beethoven (e outros), e os pensamentos de Leopoldina. No Terceiro Fragmento, o final da peça, Ana Eliza toca em seu cello o Hino à Independência composto por D. Pedro I, deixando-nos a impressão que a verdadeira vocação do “Primeiro” era ser músico, com seu violino e a beleza de seu Hino, que nos faz perdoar todos os desacertos do Imperador! 
   
     No texto de Marcos Damigo há vários momentos deliciosos, como o encontro da linguagem portuguesa feita por Leopoldina no Primeiro Fragmento: “Adoro a sensação do “lh” dentro de minha boca... o “ão” de aumentativos... E os diminutivos... boquinha, chazinho, carinho... Ah, o jeitinho brasileiro!” Que atriz cheia de recursos é Sara Antunes, a nossa Leopoldina. Ela pode transformar, da maneira mais singela, a dor em alegria, e o delírio que vai narrando a Historia, em verdade. Aliás, chegamos a pensar que Damigo teve pudor em relatar a verdadeira condição da quase menina Leopoldina que aos 29 anos foi levada à velhice  e à morte. Dizem que com os maus tratos de D. Pedro a envelheceram precocemente. Morreu aos 29 anos... Podemos dizer que a versão de Damigo foi mais delicada do que a verdade, embora a morte de Leopoldina permaneça um mistério. Pensamos que, recentemente (estamos em 2020)  nada de muito esclarecedor nos foi apresentado durante as pesquisas realizadas na estrutura óssea da Primeira Imperatriz do Brasil.   

     A direção de Marcos Damigo é primorosa, e seu texto (volto novamente a ele), nos remete às limitações de um Brasil que gostaríamos livre. Quando nos referimos à História, é inevitável a comparação e identificação com o presente. Muitas passagens da peça nos remetem ao Brasil atual, mas nunca é demais lembrar os bons momentos de paixão da Imperatriz, quando Leopoldina declara: “meu amor por Pedro chega a me enlouquecer, acho-o tão belo quanto Adônis”. É Leopoldina apaixonada desde o primeiro instante em que viu seu marido... “achei-o extraordinariamente belo (...) dois fascinantes olhos negros, um nariz nobremente aquilino e sorridentes lábios grossos”. Os comentários da Imperatriz em sua chegada ao Brasil se estendem ao cortejo e à magnificência oriental do mesmo... E temos notícia do povo brasileiro, o carioca, festejando alegremente! Mais amada a Imperatriz não poderia se sentir...

    Mas ficamos por aqui. Ótimos os figurinos de época de Cássio Brasil, e a trilha sonora recolhida por Ana Eliza Colomar e Nivaldo Godoy Junior, nos trazendo um tempo de delicadeza. O desenho de luz de Aline Santini. Neste quesito (e nos demais) o Brasil pode competir, em teatro, com qualquer país avançado. O consultor histórico do projeto, Paulo Rezzutti, que o diga! Fotos divulgação Victor Iemini e Lorena Zschaber. Produção Local Gabriel Bortolini. Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação. Trata-se de uma primorosa produção, patrocinada pelo Banco do Brasil.
É BOM VER BOM TEATRO!



2 comentários:

  1. Não se poderia esperar nada que não fosse excelente, do amor de Marcos Damigo pelo teatro. Parabéns, filho. Seus esforços recompensados. Beijos do seu pai que tanto se orgulha de vc.

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  2. Eu assistir o monólogo sobre a imperatriz em São Paulo em novembro de 2017 no museu no Ipiranga. Eu guardo esse momento em meu peito, em saber que uma mulher que atravessou o mar escolheu o Brasil para ser a sua terra (e seu descanso). Salve a imperatriz Leopoldina do Brasil.

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