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terça-feira, 5 de abril de 2022

O A L I E N I S T A

       

 C R I T I C A  D E  T E A T R O


I D A   V I C E N Z I A

(da Associação  Internacional de  Críticos de Teatro – AICT)

(Especial)

O  A L I E N I S T A

 

Simão Bacamarte e o cérebro de um paciente.

O diretor-autor  Gustavo Paso  escolhe muito bem as suas inspirações. Primeiro virou a nossa cabeça com Harold Pinter e sua Festa de Aniversário!... e agora nos vem com esta surreal  montagem de Machado de Assis.

A Arte se alimenta de Metáforas... E com genialidade. ... como a que os autores Gustavo Paso e seu “companheiro de meninice”, Celso Taddei utilizam, para construir essa “figura de linguagem” que é  adaptação do magnífico O Alienista, de Machado de Assis!   

Vamos  a  O Alienista!

Com uma lista de 14 atores (no dia em que assistimos eram 15, pois Gustavo Paso resolveu participar da brincadeira, entrando em cena!), e um cenário espetacular, musica idem, iluminação “dançante”, ele nos carrega, através de 1 hora e 30 minutos (mais ou menos), a um brilhante trabalho de analise critica, ironia, selvageria, indignação, falsidade e loucura, para nos advertir que o mundo não muda, por mais que Bertold Brecht e tantos artistas lúcidos tentem mudá-lo. Isso acontece desde sempre, porém agora, confrontando o século XIX com o século XXI, pensamos que ela, a mudança, está sempre e cada vez mais distante, para nossa tristeza!

Mudará, algum dia?

Gustavo Paso credita na Patafísica (uma crítica à lógica racional, segundo o diretor do espetáculo) para nos mostrar o mundo de Itaguai (uma pequena vila onde transcorre a historia), e o estreito caminho entre o mundo do conto de Machado, e a nossa vivência, nos faz crer que estamos, mesmo, dentro de uma lógica irracional. Mas nem tudo está perdido: ocorre, na plateia, o sonho de todo artista! Ela está lotada! De professores, alunos... e amantes de teatro!

Pelo polêmico tema em questão vemos, com alivio, que não atraímos, e esperamos não atrair: os raivosos! (E quando dizemos “raivosos”, esperamos que nos entendam).

Quanto ao elenco, temos só surpresas. (tirando Samir Murad, meu conhecido de outros teatros, os outros são novidade, para mim). Mas podemos reconhecer que Simão Bacamarte apresenta o ator Romulo Estrela, muito empenhado em sua atuação, embora sua dicção ainda tenha momentos de irregularidade. Sua companheira, D. Evarista, interpretada por Luciana Fávero (minha conhecida de outras peças) continua, e cada vez mais, com seu poder de “transformação de um corpo em outro corpo” como o quer a Cia Epigenia em ação.

Aliás, a Direção de Arte, Cenário e Visagismo são de Gustavo Paso. Ele queria algo Expressionista, que lembrasse O Gabinete do Dr. Galigari... e o conseguiu! A iluminação “dançante” é do mestre Paulo Cesar Medeiros.

Em tempo: a Cia Epigenia foi criada por Luciana Fávero e Gustavo Paso, e completa hoje, ano 2022, 22 anos de sua criação! Orgulho nosso, da gente de teatro, ter uma Companhia que consegue estabilidade. Torcemos por ela!     

No elenco Glaucio Gomes, Tatiana Sobral, Renato Peres, Laura Canabrava são nomes que nos soam conhecidos, mas é tão difícil localizá-los na historia do nosso teatro! Longa e meritosa vida a eles! (É estranho para uma crítica não poder se alongar sobre todos os atores... mas o elenco me ultrapassa, confesso!), a maneira com que se apresentam em palco, sua energia e talento já nos preenche a alma! Claro, há também Tecca Maria, Anna Hannickel, Dodi Cardoso, Renato Ribonee, Erik Villa, Eduardo Zayit ... e Vitor Thiré (da família teatral tão nossa conhecida?). Ele faz o pastor, enquanto Dodi Cardoso é o representante da Igreja Católica.

Neste espetáculo todas as classes têm seu momento de cena, principalmente a dos políticos, com suas votações segundo os seus interesses... A semelhança com os nossos dias trouxe o pensamento dos anos 70, e  a preocupação: “Mas como deixaram subir ao palco uma crítica tão clara dos governos e da sociedade atual?”

Eis aí mais um exemplo da independência desta Companhia.    

E todos os detalhes do espetáculo são acertados. Trata-se de uma linguagem moderna. Expressões acentuadas por máscaras pintadas, os figurinos (de Graziela Bastos), dão grande poder estético para a cena... as coreografias são de Edio Nunes (excelente bailarino e ator), e o cenário, surpreendente, é de Gustavo Paso... Há também vozes cantadas, e a música de André Poyart, nosso conhecido de Festa de Aniversario. Neste espetáculo, Festa... (texto de Harold Pinter), Poyart executava seu Beethoven escondido nas alturas da cena! Em O Alienista ele executa sua música nos bastidores da cena... Entendemos este mistério, e o perseguimos!

Durante o espetáculo ouvimos a voz de Machado envolvida com a de Gustavo Paso e Celso Taddei. Seus DOIS projetos de crítica ao estado eterno, de nossas decepções, é impressionante! E funciona como advertência para o que pode vir.  

Vida Longa a O Anarquista!

É BOM VER BOM TEATRO!      

Eles ficam no Teatro das Artes até domingo, dia 10 de abril, depois saem em excursão e participação em festivais.

Produção Executiva: Junior Godim

Assessoria de Imprensa: Alessandra Costa     

 

 

     


                              

Um comentário:

  1. Sylvia Regina Marin5 de abril de 2022 às 09:43

    Ida, minha amada, vi esse espetáculo no último domingo. Você foi nesse dia? Amei. Amei também sua maravilhosa crítica.

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