C R I T I C A D E T E A T R O
I D A V I C E N Z I A
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)
(Especial)
O A L I E N I S T A
O diretor-autor Gustavo Paso escolhe muito bem as suas inspirações.
Primeiro virou a nossa cabeça com Harold Pinter e sua Festa de Aniversário!...
e agora nos vem com esta surreal
montagem de Machado de Assis.
A Arte se alimenta de Metáforas... E com genialidade. ... como a que os autores Gustavo Paso e seu “companheiro de meninice”, Celso Taddei utilizam, para construir essa “figura de linguagem” que é adaptação do magnífico O Alienista, de Machado de Assis!
Vamos a O
Alienista!
Com uma lista de 14
atores (no dia em que assistimos eram 15, pois Gustavo Paso resolveu participar
da brincadeira, entrando em cena!), e um cenário espetacular, musica idem,
iluminação “dançante”, ele nos carrega, através de 1 hora e 30 minutos (mais ou
menos), a um brilhante trabalho de analise critica, ironia, selvageria,
indignação, falsidade e loucura, para nos advertir que o mundo não muda, por
mais que Bertold Brecht e tantos artistas lúcidos tentem mudá-lo. Isso acontece
desde sempre, porém agora, confrontando o século XIX com o século XXI, pensamos
que ela, a mudança, está sempre e cada vez mais distante, para nossa tristeza!
Mudará, algum dia?
Gustavo Paso credita na
Patafísica (uma crítica à lógica racional, segundo o diretor do espetáculo) para
nos mostrar o mundo de Itaguai (uma pequena vila onde transcorre a historia), e
o estreito caminho entre o mundo do conto de Machado, e a nossa vivência, nos
faz crer que estamos, mesmo, dentro de uma lógica irracional. Mas nem tudo está
perdido: ocorre, na plateia, o sonho de todo artista! Ela está lotada! De
professores, alunos... e amantes de teatro!
Pelo polêmico tema em
questão vemos, com alivio, que não atraímos, e esperamos não atrair: os
raivosos! (E quando dizemos “raivosos”, esperamos que nos entendam).
Quanto ao elenco, temos
só surpresas. (tirando Samir Murad, meu conhecido de outros teatros, os outros são
novidade, para mim). Mas podemos reconhecer que Simão Bacamarte apresenta o
ator Romulo Estrela, muito empenhado em sua atuação, embora sua dicção ainda
tenha momentos de irregularidade. Sua companheira, D. Evarista, interpretada
por Luciana Fávero (minha conhecida de outras peças) continua, e cada vez mais,
com seu poder de “transformação de um corpo em outro corpo” como o quer a Cia
Epigenia em ação.
Aliás, a Direção de Arte,
Cenário e Visagismo são de Gustavo Paso. Ele queria algo Expressionista, que
lembrasse O Gabinete do Dr. Galigari... e o conseguiu! A iluminação “dançante” é
do mestre Paulo Cesar Medeiros.
Em tempo: a Cia Epigenia
foi criada por Luciana Fávero e Gustavo Paso, e completa hoje, ano 2022, 22
anos de sua criação! Orgulho nosso, da gente de teatro, ter uma Companhia que
consegue estabilidade. Torcemos por ela!
No elenco Glaucio Gomes,
Tatiana Sobral, Renato Peres, Laura Canabrava são nomes que nos soam
conhecidos, mas é tão difícil localizá-los na historia do nosso teatro! Longa e
meritosa vida a eles! (É estranho para uma crítica não poder se alongar sobre
todos os atores... mas o elenco me ultrapassa, confesso!), a maneira com que se
apresentam em palco, sua energia e talento já nos preenche a alma! Claro, há
também Tecca Maria, Anna Hannickel, Dodi Cardoso, Renato Ribonee, Erik Villa,
Eduardo Zayit ... e Vitor Thiré (da família teatral tão nossa conhecida?). Ele
faz o pastor, enquanto Dodi Cardoso é o representante da Igreja Católica.
Neste espetáculo todas as
classes têm seu momento de cena, principalmente a dos políticos, com suas
votações segundo os seus interesses... A semelhança com os nossos dias trouxe o
pensamento dos anos 70, e a preocupação:
“Mas como deixaram subir ao palco uma crítica tão clara dos governos e da
sociedade atual?”
Eis aí mais um exemplo da
independência desta Companhia.
E todos os detalhes do
espetáculo são acertados. Trata-se de uma linguagem moderna. Expressões
acentuadas por máscaras pintadas, os figurinos (de Graziela Bastos), dão grande
poder estético para a cena... as coreografias são de Edio Nunes (excelente
bailarino e ator), e o cenário, surpreendente, é de Gustavo Paso... Há também vozes
cantadas, e a música de André Poyart, nosso conhecido de Festa de Aniversario.
Neste espetáculo, Festa... (texto de Harold Pinter), Poyart executava seu
Beethoven escondido nas alturas da cena! Em O Alienista ele executa sua música
nos bastidores da cena... Entendemos este mistério, e o perseguimos!
Durante o espetáculo
ouvimos a voz de Machado envolvida com a de Gustavo Paso e Celso Taddei. Seus
DOIS projetos de crítica ao estado eterno, de nossas decepções, é
impressionante! E funciona como advertência para o que pode vir.
Vida Longa a O Anarquista!
É BOM VER BOM TEATRO!
Eles ficam no Teatro das Artes
até domingo, dia 10 de abril, depois saem em excursão e participação em festivais.
Produção Executiva: Junior Godim
Assessoria de Imprensa: Alessandra Costa
Ida, minha amada, vi esse espetáculo no último domingo. Você foi nesse dia? Amei. Amei também sua maravilhosa crítica.
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