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sexta-feira, 2 de novembro de 2012

"É CULPA DA VIDA QUE SONHEI E DOS SONHOS QUE VIVI"

Elenco da peça "É culpa da vida que Sonhei e dos sonhos que VIVI", de Iuri Kruschewsky
(foto Black Ninja)





CRITICA TEATRAL
IDA VICENZIA FLORES
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)


Quando a peça começa, pensamos que se trata de uma espécie de "Pelo Amor de Deus, Não Fala assim Comigo!", de Maria Carmem Barbosa. O assunto é o mesmo, um escritor que define a ação da peça conforme a vai escrevendo. A peça dentro da peça?  Há outras que já experimentaram esse caminho. É um percurso difícil e há de ser bem definido. O de "É culpa da vida que Sonhei ou dos sonhos que Vivi" parece ser a comunicação com a  plateia. Por que? Porque, além de ser essa a intenção inicial do autor, a participação com a plateia irá dar alguma identidade ao espetáculo: moderno? pós-moderno? psicológico? Veremos.
     Até que a ideia é simpática, porém ainda não amadureceu, não é esse o momento de entregá-la à plateia, à crítica.  O andamento ainda é o de uma ação inacabada. Muito ensaio, muitos cortes virão. Muita calma, ainda, para considerá-la pronta. Essa "É culpa da vida que Sonhei ou dos sonhos que Vivi", escrita e dirigida por Iuri Kruschewsky (com esse nome eu pensaria duas vezes antes de apresentar algo que se quer revolucionário!), está no Glaucio Gil, com sabor de incerteza. No início, surpreende-nos aquele ator que quer nos levar para Buenos Aires (daí a participação com a plateia), depois percebemos que ele quer nos colocar no espetáculo, nos fazer participar da história dele - no melhor estilo dos anos 70, teatro participativo - contudo, uma participação  equivocada. Porque malandra? Porque habitante do inconsciente do autor? Não. Até aí tudo bem, nada contra o inconsciente.  
    Ficamos sabendo, também, que tudo o que acontece em cena é dedilhado na imaginação do "outro". Algo começa a se delinear, mas por que não aprofundar o desejo? Não deixá-lo na superfície. Há ambiguidades, sim. Mas por que será que elas, ao invés de dinamizarem a ação, a enfraquecem? Dou a resposta: porque elas não fixam os acontecimentos. Como não há timming teatral, não há envolvimento, não há profundidade. Está em jogo algum sentimento? Não parece.    
     Perdão, mas o fato é que assistimos indiferentes a algo que se inscreve, na cabeça do autor, e se propõe a viver, na cabeça dos atores. Ficamos em dúvida se aquilo não é apenas a preparação para algo, alguma coisa que vai acontecer, depois. Se ao menos houvesse uma razão oculta para viver, em dois planos, uma situação tão corriqueira! Sugiro, para "esquentar a história", que a incansável mulher de vermelho seja a irmã dele, do autor, a que lhe aparece em sonhos! Seria mais rodriguiano...ao menos.
      Esperamos uma nova incursão de Iuri na dramaturgia. É prematuro, ainda, qualquer julgamento, só fizemos algumas observações. Atores: Bruno Quaresma, Kelly Iranzo, Manoel Madeira, Marianna Pastori. Iluminação: João Gioia; Figurino: Ticiana Passos; Cenário (um bom espaço cênico), de Carlos Augusto Campos. Coreografia: Luiza Azeredo; Sonoplastia: Pedro Poema; Produção: Gustavo Rodrigo Herdt.

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