Elenco da peça "É culpa da vida que Sonhei e dos sonhos que VIVI", de Iuri Kruschewsky (foto Black Ninja) |
CRITICA TEATRAL
IDA VICENZIA FLORES
(da Associação Internacional
de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
Quando a peça começa, pensamos que se
trata de uma espécie de "Pelo Amor de Deus, Não Fala assim Comigo!", de
Maria Carmem Barbosa. O assunto é o mesmo, um escritor que define a ação da
peça conforme a vai escrevendo. A peça dentro da peça? Há outras que já experimentaram esse caminho.
É um percurso difícil e há de ser bem definido. O de "É culpa da vida que
Sonhei ou dos sonhos que Vivi" parece ser a comunicação com a plateia. Por que? Porque, além de ser essa a
intenção inicial do autor, a participação com a plateia irá dar alguma
identidade ao espetáculo: moderno? pós-moderno? psicológico? Veremos.
Até que a ideia é simpática, porém ainda não amadureceu, não é esse o
momento de entregá-la à plateia, à crítica. O andamento ainda é o de uma ação inacabada.
Muito ensaio, muitos cortes virão. Muita calma, ainda, para considerá-la
pronta. Essa "É culpa da vida que Sonhei ou dos sonhos que Vivi", escrita
e dirigida por Iuri Kruschewsky (com esse nome eu pensaria duas vezes antes de
apresentar algo que se quer revolucionário!), está no Glaucio Gil, com sabor de
incerteza. No início, surpreende-nos aquele ator que quer nos levar para Buenos
Aires (daí a participação com a plateia), depois percebemos que ele quer nos
colocar no espetáculo, nos fazer participar da história dele - no melhor estilo
dos anos 70, teatro participativo - contudo, uma participação equivocada. Porque malandra? Porque habitante
do inconsciente do autor? Não. Até aí tudo bem, nada contra o inconsciente.
Ficamos sabendo, também, que tudo o que acontece em cena é dedilhado na
imaginação do "outro". Algo começa a se delinear, mas por que não
aprofundar o desejo? Não deixá-lo na superfície. Há ambiguidades, sim. Mas por
que será que elas, ao invés de dinamizarem a ação, a enfraquecem? Dou a
resposta: porque elas não fixam os acontecimentos. Como não há timming teatral,
não há envolvimento, não há profundidade. Está em jogo algum sentimento? Não
parece.
Perdão, mas o fato é que assistimos indiferentes a algo que se inscreve,
na cabeça do autor, e se propõe a viver, na cabeça dos atores. Ficamos em
dúvida se aquilo não é apenas a preparação para algo, alguma coisa que vai acontecer,
depois. Se ao menos houvesse uma razão oculta para viver, em dois planos, uma situação
tão corriqueira! Sugiro, para "esquentar a história", que a
incansável mulher de vermelho seja a irmã dele, do autor, a que lhe aparece em
sonhos! Seria mais rodriguiano...ao menos.
Esperamos uma nova incursão de
Iuri na dramaturgia. É prematuro, ainda, qualquer julgamento, só fizemos
algumas observações. Atores: Bruno Quaresma, Kelly Iranzo, Manoel Madeira,
Marianna Pastori. Iluminação: João Gioia; Figurino: Ticiana Passos; Cenário (um
bom espaço cênico), de Carlos Augusto Campos. Coreografia: Luiza Azeredo;
Sonoplastia: Pedro Poema; Produção: Gustavo Rodrigo Herdt.
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