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sábado, 22 de dezembro de 2012

"ROCK IN RIO - O MUSICAL"

Entrada da "Cidade da Música", com com a sua rampa e os seus pilotis. Um "marco de paisagem", segundo seu criador, o arquiteto Christian de Potzamparc.
 (Foto Divulgação) 

CRITICA TEATRAL
IDA VICENZIA FLORES
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)
(Especial)


Próximo ao Carrefour e ao Barra Shopping, passando pelo mergulhão da Av. Ayrton Senna, entre (ainda) canteiros de obra – eis que chegamos à "Cidade das Artes" (Avenida das Américas, 5300), projeto de Christian de Potzamparc, Prêmio Pritzker de Arquitetura, Berlim, 1994 (considerado o “Nobel” da arquitetura). Christian trabalha com dois tipos de fundamentos básicos, em teoria por ele criada: o “marco de paisagem” e a “clareira”. Podemos constatar que no prédio (concluído) da Cidade das Artes há uma característica de “marco de paisagem” – pela grandiosidade da construção, localizada em uma bifurcação de estradas. Porém, em se tratando da Barra da Tijuca, pode ser também uma “clareira”, ou seja, um espaço ocupado - com seus limites definidos – em um matagal de edifícios! É sobre esse espaço que vamos falar. Calma! Falaremos, a seguir, de "Rock in Rio - o musical". 
     Ao entrar no terreno de Potzamparc somos subjugados pelas rampas de acesso ao "monumento". Há duas rampas que o circundam e, pelo que nos foi possível constatar, elas se ligam a um plateau, construído em dois pavimentos. A vista total que temos da obra, ainda na estrada, é a de um “marco de paisagem”, pois sua estrutura de concreto se destaca na paisagem. Ela, a estrutura, é sustentada por um vão, no qual se equilibram pilotis, dando leveza ao conjunto. Há também algo semelhante a asas, no "movimento" do plateau, acima da construção. É um movimento sutil, e podemos observá-lo olhando a Cidade das Artes ao longe.
     Porém, ao entrar na “Cidade” é que nos deparamos com, talvez, a marca registrada do arquiteto: o espaço de luz e sombra. No teto, a um canto do primeiro pavimento, vemos clarabóias minúsculas filtrando a luz (a visita foi feita durante o dia, desconheço o efeito noturno), causando grande efeito. As formas arredondadas das paredes, com alguns contornos, humanizam o concreto. Podemos dizer que a sensação de vôo cobre também o interior do prédio, causando vertigem com suas transparências fixadas no solo. Para quem começou sua carreira inspirado na “ Torre de Babel”(!) (primeiro trabalho de Potzamparc), a “Cidade das Artes” é uma representante fiel de sua obra.


Ensaio do elenco de "Rock in Rio - o musical".
(Foto de Cristiane Cardoso)
      Estivemos na "Cidade das Artes" para assistir ao lançamento, para a Imprensa, de trechos do espetáculo “Rock in Rio – o musical”, primeiro a ocupar a “grande sala” (não visitamos a parte superior do prédio, onde provavelmente está instalada a “grande sala”). Ela, a sala grande, se amplia em 1.229 lugares e, pela grandiosidade dos números do musical (são mais de 20 cenários, 125 peças de figurinos, 25 atores cantando cerca de 50 músicas, banda com 9 músicos em cena e alternância entre repertório estrangeiro e nacional) nos faz prever o “mega-espetáculo”. Assistimos, neste dia (18/12), a apresentação de três cenas, em um espaço próprio para esse tipo de evento, ou seja, um espaço para ensaios. Inicia-se o mesmo – a ordem foi escolhida pelo diretor, João Fonseca -  com “Pro dia nascer feliz”, de Cazuza. O espetáculo alterna MPB e repertório internacional (citamos, sem continuidade): “Ins’t Lovely” com “Além do Horizonte”, ou Highway to Hell com “Você não soube me Amar” (não nessa ordem). Há uma história a ser narrada, a dos jovens Sofia (Yasmin Gomlevsky) e Alef (Hugo Bonemer) e seus desentendimentos (adolescentes que são), com os pais (Lucinha Lins e Guilherme Leme). Os dois jovens, através das musicas e do texto, vão contando seu relacionamento com os pais, com amigos e com o amor, e a recuperação de traumas infantis. O desempenho do elenco, principalmente os atores/cantores jovens, é espetacular, podendo-se constatar, mais uma vez, que atingiram a excelência na interpretação de musicais – estrangeiros ou não.
     No currículo da equipe principal temos uma “mélange” de estilos e experiências. O diretor João Fonseca (premiado) paulista vindo de Antunes Filho e passando por Abujamra, já nos deu várias oportunidades para constatar seu amor ao teatro e sua maneira muito especial de atuar e dirigir atores. Neste “Rock in Rio – o musical”, dramaturgia de Rodrigo Nogueira, um texto que nos parece bastante visceral, impressão essa coroada pela interpretação de Lucinha Lins, como a mãe em conflito de amor com o seu adolescente Alef. Guilherme Leme, o também conhecido ator e diretor é, neste Rock in Rio, um produtor de musicais, pai de Sofia (voz magnífica a de Yasmin Gomlevsky), que detesta música. Há também um conflito entre eles.
     É impressionante como os jovens correspondem com maturidade ao que lhes é solicitado. No elenco, encabeçado por Yasmin e Hugo Bonemer, temos com destaque Caike Luna como Geraldo (vem do Paraná e tem longa experiência carioca); Daniele Falcone (Denise), praticamente em início de carreira, mas já apresentando maturidade, posto que sua experiência anterior é como garçonette-cantora do restaurante “Eclético”, o mesmo que apresenta, nas noites de 5ª e sábados, às 22h, o “show dos garçons cantores”. Quem sabe de lá não saem outros atores/cantores? 
     No elenco temos não só adolescentes: Juliane Bodini (24 anos) é Bianca; Sheila Matos está no papel de Alice, e Marcelo Nogueira, o grande intérprete de Chopin, em “Chopin e Sand”, é o ensemble de Guilherme Leme. Também canta e atua. Todos os componentes do elenco têm personagens e falas, assim o quis o autor Rodrigo. Não se está trabalhando com coro, mas com personagens. Impossível citar a todos, mas essa é uma maneira bem norte-americana (democrática) de fazer musicais. É uma boa ideia, e dá para apreciar o talento dos atores. Sinto muito não poder citar a todos. 
     O espetáculo é dividido em duas partes, e a apresentação dos cenários se desenvolverá, certamente, com os recursos apresentados pelo multiespaço da “grande sala”. Na primeira parte haverá a representação da universidade, da casa dos jovens e de uma loja de discos, com ações e música. Haverá, certamente, a grande troca de cenários quando, no segundo ato, a cena transformar-se-á em uma edição do “Rock in Rio”, (somente os gramados e os camarins). Nello Marrese e Natália Lana são os responsáveis pelos cenários. Figurinos multicoloridos de Thanara Schönardie. Paulo César Medeiros faz a luz (imagino a apoteose desse espetáculo!) e Alex Neoral assina as coreografias. Pela amostra que tivemos no último dia 18, “o canto dessa cidade é meu” é pouco para relatar o que vem por aí. Haverá uma opening night, um “soft opening” para testar (a abertura oficial da casa será em março) no próximo dia 3 de janeiro, avisa o presidente da Fundação Cidade das Artes, Emilio Kalil. Essa é uma iniciativa da “Aventura Entretenimento”, a partir de um sonho do criador do “Rock in Rio”, Roberto Medina, que desejou ver o seu festival em um teatro musicado. Os “aventureiros” (no bom sentido) dessa empreitada, os empresários Luiz Calainho, Anieta Jordan e Fernando Campos tornaram o sonho possível. Pelo acerto da empreitada, o sonho não irá transformar-se – nunca! – em um pesadelo. Tenham todos um bom espetáculo!                

2 comentários:

  1. Ida, que coisa fantástica! Vi o Hugo Bonemer em Hair (ligeiramente ofuscado pela exuberância do Igor Rickli), mas, mesmo assim, já dava para "sacar" seu potencial. Deve ser um espetáculo arrebatador. Você vai à soft opening?

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