Lena Brito, Bel Kutner e Saulo Rodrigues, em "Oportunidade Rara" (Foto Guga Melgar) |
CRÍTICA TEATRAL
IDA VICENZIA FLORES
(da Associação Internacional dos Críticos de Teatro – AICT)
(Especial)
Quando me mudei para o Rio, nos idos do
século XX, “Trate-me Leão” estava se despedindo da cena. Do Asdrubal Trouxe o
Trombone, infelizmente, não assisti nada. Fica a imaginação do que poderia ter
sido. Podemos dizer que, volta e meia, Hamilton Vaz
Pereira nos deixa entrever alguma coisa do que aconteceu. Como nesta "Oportunidade Rara”, talvez um dos espetáculos mais representativos da época
de ouro do Asdrubal. Dessa vez, Hamilton juntou seu pensamento em vários
“flashes” da vida cotidiana - e também de suas fantasias. Se a crítica
especializada, anteriormente – leia-se Magaldi, Michalski e outros -, se
queixava de uma certa alienação do grupo, hoje em dia não podemos deixar de
reconhecer, nas encenações de Hamilton, um excesso de informações, alguns nada
alienados, sobre assuntos da atualidade. Nem todos são relevantes, às vezes até
mesmo se tornam cansativos.
Um exemplo bem sucedido é a Cena 1: “Humanidade
Suicida”, que apresenta um casal que sabe o que é o amor e pretende defender
seu oásis das investidas de “estrangeiros de origem nebulosa”, como a
“suspeita” Nora. Essa cena lembra o Oriente Próximo, Marrocos, e faz citações
de figurinos, nas quais a burka tem presença intrigante. Em cena Bel Kutner , Saulo
Rodrigues e Lena Brito. Ao todo são 5 Cenas, todas bastante febris, elétricas.
Assim levado, várias se tornam as possibilidades, neste espetáculo, de o autor
apresentar seu pensamento.
Em
destaque, a banda que acompanha a história, composta de adolescentes – um deles
é o filho de Hamilton e Lena (seu nome é Iuri) – criando climas necessários
para a narrativa. As “cinco pequenas peças teatrais”, como o autor as chama,
têm um prólogo cantado por Hamilton, que assume seu lado cantor. Bela voz, embora
muitas vezes a gente não entenda nada do que ele articula. Faz parte. Seu
espetáculo apresenta erros e acertos, desafiando a perfeição e o “politicamente
correto”.
Na 1ª Cena temos Bel Kutner
interpretando a mãe e esposa (nada convencionais, diga-se de passagem); o pai –
também uma criatura “informal”, interpretado por Saulo Rodrigues, e a
“estrangeira de origem nebulosa”, Lena Brito. Essa atriz, que dispensa
apresentação, demonstra impressionante gama de recursos para interpretar desde
a socialite no tiroteio da favela, na Cena 2: “Malditos Filhos de Adão”, até a
nordestina matreira se virando em Paris (Cena 5: “Volta Depressa”). Lena
aumenta e diminui de tamanho, muda a voz, a expressão (cuidado com as caras e
bocas da massagista Valentina, que, às vezes, se assemelham às da socialite
Lupe). Os três atores (aliás, quatro, pois também contamos com a excelente
Luana Martau e seu doce canto...), se desdobram em vários papéis, com
exuberância admirável. A Cena 3: “Business e Saúde Corporal” nada acrescenta,
além da truculenta Valentina (Lena Brito), Soraya, a cliente boazuda (Bel
Kutner), e uma situação financeira e emocional não muito definida entre as duas
e Mário (Saulo Rodrigues). A Cena 4: “Bonito”, algo tolinha, é passada em uma
suposta Grécia, onde há pavões e ruínas mitológicas (apesar da beleza da
projeção das ruínas, realização de Laís Rodrigues).
Mas tudo é relativo. O que é fraquinho
para a crítica, pode ser maravilhoso para o “pai do besteirol” que é Hamilton
Vaz Pereira. Apesar dos altos e baixos, assistimos com prazer às suas peças. Principalmente
essa “Oportunidade Rara”.
Ficha técnica:
Texto, Música e
Direção:
Hamilton Vaz
Pereira
Elenco (ordem
alfabética):
Bel Kutner
Lena Brito
Luana Martau
Saulo Rodrigues
Banda – Arranjos
e Trilha Sonora:
Iuri Brito
Thomás Jagoda
Guilherme Lírio
Pedro Fonte
Cenário:
Hélio
Eichenbauer
Luz:
Jorginho de
Carvalho
Vídeo:
Laís Rodrigues
Figurino:
Antonio Medeiros
Projeto Gráfico:
Luiz Stein
Colaboração/Dramaturgia:
Melanie Dimantas
Assessoria de
Imprensa:
JS Pontes
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