Cenas da peça "Memória Inventada no sonho de alguém", texto e direção de Iuri Kruschewsky. |
CRÍTICA TEATRAL
IDA VICENZIA FLORES
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
Eis a criação de um autor muito sensível, que escreve bonitas histórias. O nome dele é Iuri Kruschewsky, e dessa vez ele escreveu uma dos mais belos tratados sobre o sonho que já me foi dado conhecer. Ele os chama de teses, estas incursões ao mundo de Freud, e talvez o sejam. Se não me engano, trata-se de uma trilogia, e a segunda parte, a que me refiro com arrebatamento, se chama "Memória inventada no sonho de alguém".
Público nosso de cada dia, atenção: temos um poeta entre nós. E um poeta dramaturgo que vai desenvolvendo a sua poesia com absoluto domínio das artes cênicas. E, para sublinhar a história, um piano que a tudo desenha, nas mãos do pianista João Medeiros, responsável também pela trilha original que mescla Liszt (ou será Brahmas? a melodia me pareceu familiar), com acordes de sua autoria, dando vida a um trabalho corporal encantador realizado por Eléonore Guisnet, que também externa uma visão de mundo do autor, ou seja, a vida como uma expressão da dança!
Mais perfeito impossível. Há ainda os divertidos figurinos do sonho, cuja leveza é um trabalho que muito bem se encaixa na proposta (nada de camisolões brancos), interpretados pelo figurinista Tiago Ribeiro. E, ainda nos perguntamos, por alguns momentos, como irá o autor comandar, no final, o insight poético dos sonhos, e a solução não se faz esperar, a vida real, finalmente, toma conta da cena. Essa virada é comandada com muita cautela pelo diretor, para não de acabar com o sonho do público. Aliás, um público jovem, sensível como o autor, e que, imaginamos, tem a mesma experiência de vida.
Não quero dizer com isso que Iuri se dirija unicamente aos jovens, mas, com certeza, que os jovens se dirigem a ele, e à sua poesia, o que torna o espetáculo marcante.
Mas, afinal, o que faz deste texto teatral uma poesia? Certamente a singeleza profunda como é tratado, gerando a complicada ternura que nos move: o amor. E não somente o amor entre os humanos, mas também o que é dedicado ao melhor amigo do homem... Na cena, com muito envolvimento, os atores mimetizam o seu melhor amigo, o cão. Há, no elenco, um equilíbrio de interpretações, nada está fora do tom. Bruno Quaresma, Marianna Pastori, Pedro Emmanuel e Rosa Iranzo se desdobram, entregando-se: ora dando vida ao melhor amigo do homem, ora sendo o personagem principal do amor humano. E tudo é realizado com muito charme e beleza. A iluminação de João Gioia enfatiza a sensação de sonho, enquanto o cenário de Carlos Augusto Campos dá a mobilidade necessária ao envolvimento da ação, com sua cena quase vazia, enfatizada por quadrados e retângulos que se adequam ao movimento dos atores. Finalizamos aproveitando esse olhar sobre o sonho para dar os parabéns à Cia Sala Escura de Teatro, aconselhando a todos os amantes de teatro a fazerem uma visita ao Maria Clara Machado, ex- Planetário, para assistir essa imperdível nova linguagem!
É bom ver bom teatro. (Somente um senão: Ah! A nova geração não sabe francês!)
Ida, que falta eu estava sentindo de vir até aqui ler suas maravilhosas crônicas. Um dia ainda hei de conseguir assistir aos espetáculos que você tão sensivelmente descreve e analisa. Por enquanto, me delicio com seu texto. Beijos.
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