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terça-feira, 6 de agosto de 2013

"MEMÓRIA INVENTADA NO SONHO DE ALGUÉM"


Cenas da peça "Memória Inventada no sonho de alguém", texto e direção de Iuri Kruschewsky.



CRÍTICA TEATRAL
IDA VICENZIA FLORES
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)

Eis a criação de um autor muito sensível, que escreve bonitas histórias. O nome dele é Iuri Kruschewsky, e dessa vez ele escreveu uma dos mais belos tratados sobre o sonho que já me foi dado conhecer. Ele os chama de teses, estas incursões ao mundo de Freud, e talvez o sejam. Se não me engano, trata-se de uma trilogia, e a segunda parte, a que me refiro com arrebatamento, se chama "Memória inventada no sonho de alguém".

     Público nosso de cada dia, atenção: temos um poeta entre nós. E um poeta dramaturgo que vai desenvolvendo a sua poesia com absoluto domínio das artes cênicas. E, para sublinhar a história, um piano que a tudo desenha, nas mãos do pianista João Medeiros, responsável também pela trilha original que mescla Liszt (ou será Brahmas? a melodia me pareceu familiar), com acordes de sua autoria, dando vida a um trabalho corporal encantador realizado por Eléonore Guisnet, que também externa uma visão de mundo do autor, ou seja, a vida como uma expressão da dança!

     Mais perfeito impossível. Há ainda os divertidos figurinos do sonho, cuja leveza é um trabalho que muito bem se encaixa na proposta (nada de camisolões brancos), interpretados pelo figurinista Tiago Ribeiro. E, ainda nos perguntamos, por alguns momentos, como irá o autor comandar, no final, o insight poético dos sonhos, e a solução não se faz esperar, a vida real, finalmente, toma conta da cena. Essa virada é comandada com muita cautela pelo diretor, para não de acabar com o sonho do público. Aliás, um público jovem, sensível como o autor, e que, imaginamos, tem a mesma experiência de vida.

     Não quero dizer com isso que Iuri se dirija unicamente aos jovens, mas, com certeza, que os jovens se dirigem a ele, e à sua poesia, o que torna o espetáculo marcante.

     Mas, afinal, o que faz deste texto teatral uma poesia? Certamente a singeleza profunda como é tratado, gerando a complicada ternura que nos move: o amor. E não somente o amor entre os humanos, mas também o que é dedicado ao melhor amigo do homem... Na cena, com muito envolvimento, os atores mimetizam o seu melhor amigo, o cão. Há, no elenco, um equilíbrio de interpretações, nada está fora do tom. Bruno Quaresma, Marianna Pastori, Pedro Emmanuel e Rosa Iranzo se desdobram, entregando-se: ora dando vida ao melhor amigo do homem, ora sendo o personagem principal do amor humano. E tudo é realizado com muito charme e beleza. A iluminação de João Gioia enfatiza a sensação de sonho, enquanto o cenário de Carlos Augusto Campos dá a mobilidade necessária ao envolvimento da ação, com sua cena quase vazia, enfatizada por quadrados e retângulos que se adequam ao movimento dos atores. Finalizamos aproveitando esse olhar sobre o sonho para dar os parabéns à Cia Sala Escura de Teatro, aconselhando a todos os amantes de teatro a fazerem uma visita ao Maria Clara Machado, ex- Planetário, para assistir essa imperdível nova linguagem!
É bom ver bom teatro. (Somente um senão: Ah! A nova geração não sabe francês!)


Um comentário:

  1. Ida, que falta eu estava sentindo de vir até aqui ler suas maravilhosas crônicas. Um dia ainda hei de conseguir assistir aos espetáculos que você tão sensivelmente descreve e analisa. Por enquanto, me delicio com seu texto. Beijos.

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