Fotos Daniel Barbosa, de espetáculo "Salinas, a última vértebra", direção de Ana Teixeira e Stéphane Brodt - AMOK Teatro. |
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro -
AICT)
(Especial)
Eis que o AMOK Teatro volta a se
apresentar, no Rio de Janeiro. É sempre uma festa e uma demonstração de
respeito ao público o que eles nos apresentam. Desta vez, no Serviço Social do Comércio -
SESC - de Copacabana. O espetáculo tem direção de Ana Teixeira e Stéphane Brodt.
Eis que surge agora Salinas, a Última Vértebra,
do texto de Laurent Gaudé. Antes de começarmos, é preciso apresentar Guadé. Trata-se
de uma espécie rara, entre nossos autores, alguém que acredita que teatro
abrange o mundo, e que podemos sair por aí, nós, o público e os atores, em
mudança para um deserto encantado.
Guadé acredita no poder da
imprevisibilidade do teatro. E cita "Claudel", o autor que nos
lançava ao mar como se fizéssemos parte daquele elemento. Assim sentimo-nos no
deserto encantado de Guadé, cheio de
sons e gestos, que nos fazem viver intensamente aquela linguagem de espanto. E
assim, o autor nos chama a atenção para o teatro de Claudel, e nós ficamos
eletrizados, lembrando as aventuras de Doña Prouhèze (Le Soulier de Satin), e na
mesma voltagem assistimos Salinas... a
que foi retirada do deserto. Mas o que
fazemos agora são simplesmente as preliminares para prosseguir viagem.
A música nos traz a linguagem fantástica
do mito, uma "fuga" de encontros e desencontros. O nascimento do ódio
e a linguagem do amor. E nós nos envolvemos com aquelas almas divinizadas. Há o sopro de Sissoko Djimba, o patriarca e sua
alma, que tem o poder de mexer no tempo (interpretado por Sergio Ricardo
Loureiro. Aliás, o elenco é parte do espanto que nos traz o espetáculo). Percebe-se
uma pesquisa cuidadosa dos diretores, e
uma adesão total do elenco. São dez atores entregando-se ao poder que têm os
espetáculos do AMOK Teatro.
Enfatizamos a luta entre irmãos - entre os
filhos que Salinas trouxe ao mundo - passageiros do ódio que se transforma em
amor, interpretados por Kwane MKrumba (Reinaldo Junior) e Mumuyé Djimba (André
Lemos). As lutas, o exercício dos corpos e as expressões são exatas.
Salinas é interpretada por Ariane Hime, e
Kano Djimba é Thiago Catarino (na foto). Os dois apresentam uma cena do
encontro amoroso de sua juventude apaixonada, que é absolutamente original e
emocionante. Seus gestos, danças e olhares são um encontro teatral sem
precedentes.
Os figurinos de Ana e Stéphane dão beleza
às cenas da juventude, e refletem, em seu tempo, a solidão da velhice. (Aqui abrimos
um parêntesis para falar sobre a máscara facial da velhice desenhada nos
atores, dando-lhes uma impressionante mudança através dos anos, em especial Mama
Lita (Luciana Lopes), Khaya Djimba (Tatiana Tiburcio, a arrogante mãe carrasca,
as duas quase irreconhecíves ), e Salinas (Ariane Hime). O cenário, também de
concepção de Ana Teixeira e Stéphane Brodt, resolve-se com objetos de cena. A
iluminação de Renato Machado faz parte da magia do espetáculo. Coreografia de
Tatiana Tiburcio; confecção dos bonecos de Maria Adélia.
Há o oráculo, representado por Robson Freire
e a mulheres jovens, como Alika, a bondosa (Sol Miranda); e Sowumba (a perversa),
interpretada por Graciana Valladares. A Tradução é de Ana Teixeira. Não há como
deixar de assistir a esta verdadeira saga de um povo, o nascedouro de um mito. PARABÉNS!
Há muito tempo não vejo um espetáculo desse grupo. Fiquei impressionadíssima com ele há alguns anos quando o vi pela primeira vez. Beleza de crítica!
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