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sábado, 13 de junho de 2015

"JOÃO CABRAL"

Raphael Viana e Gaby Haviaras, em "João Cabral", roteiro e direção de Renato Farias. Cena e Interpretação de "Bailarina Andaluza".  (Foto de Carol Beiriz).  



IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)

        Não temos vontade de escrever sobre... mas ficar assistindo... assistindo... assistindo... Como diria Cecília Meireles menina: "Mas isso existe, mesmo?" Pois é: o carisma é um mistério.  Nunca pedimos tanto, mas ele vem: é "a necessidade de criar", como diz o diretor Renato Farias.  E descobrimos, vivo, o poeta João Cabral de Melo Neto.
        Não falo por falar. Eis que estou escrevendo a biografia de Antonio Abujamra e de repente me deparo com os personagens do poeta, com a bailarina andaluza viva na minha frente, aquele personagem que Abujamra tanto comenta, no tempo em que viveu, estudante ainda, na casa do poeta, em Marseille. São quatro atores em cena: eles são muitos mais, na Companhia de Teatro Íntimo, mas desta vez estão em cena: Gaby Haviaras, Caetano O'Maihlan, Rafael Sieg e Raphael Viana. Os atores se revezam, em suas funções extra palco. Thiago Mendonça (que não está em cena) fez os figurinos; a direção de arte é de Gabriela (em cena, a Gaby) Haviaras; e Rafael Sieg faz o desenho de luz. A cenografia é de Melissa Paro. Se não é atriz da Companhia, está ligada a eles profundamente.
        É o que podemos perceber. Não sei se é o espaço cênico (estamos ficando exigentes na questão do espaço cênico, assisti no SESC, sala Multiuso, e agora o espetáculo está na Sede das Companhias, na Lapa, um ótimo espaço), ou se o envolvimento entre público e atores é natural. Todos os gestos, e as palavras dos atores, têm uma resposta do público. E é tudo tão intenso. Começamos com as descobertas do Recife de Melo Neto, e vamos até o local aonde o fogo do amor se revela: Sevilha! E são trechos dançados da "Bailarina Andaluza", com imagens de fogo que fazem eco ao bailado de Haviaras. Raphael Viana, com seu porte sevilhano e sua forte presença acompanha a bailarina-atriz. E a guitarra flamenca, tocada por O'Maihlan, acompanha os atores. E o 'cante a palo seco' (de Diego Zarcón, acompanhado por Rafael  Sieg tocando el cajón).          
          Caramba! É teatro e é poesia. Não há uma só frase que não seja de Cabral: "o amor comeu num instante todos os meus livros de poesia (diz O'Maihlan), comeu os meus livros de prosa, citações em versos..." e, lá no finalzinho do poema, diz Haviaras: "... e o meu medo da morte... "
           Palavras que levam à ação teatral. E há entre os quatro - seus instrumentos musicais, suas vozes, seu gestual - e o público - uma total imantação.
     Temos, na orientação do flamenco, Eliane Carvalho; no 'cante a palo seco', Diego Zarcón. Na consultoria de cajón, Alesandro Alejo; consultoria de guitarra flamenca, Luciano Câmara, e liutaio da guitarra (as variações flamencas), Edu Viola. E nosso coração ibérico se manifesta.
       Destaque para as fotos de Carol Beiriz. Visagismo Ezequiel Blanc. Assessoria de Imprensa, Roberta Rangel.
       Muito prazer em conhecer a Companhia de Teatro Íntimo, justamente na comemoração de seus 10 anos de existência.         

Um comentário:

  1. Que lindas palavras, que sensível! Senti tudo isto assistindo este belo espetáculo!

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