Orlando Caldeira, Luciana Bellina e o Menino Iogue, em "As Aventuras do Menino Iogue" (Foto do Estudio Carol Chediak) |
IDA
VICENZIA FLORES
(da
Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
Espetáculo Infantil: "As Aventuras do
Menino Iogue". Espaço Tom Jobim, Galpão das Artes - Jardim Botânico - Rio
de Janeiro. Na bilheteria, muita confusão e a ameaça de mandar esta crítica
para outro horário (como se fosse possível). Por falta de espaço, diziam.
Propaganda? Lá dentro, espaços vazios e muita calma. Bilheteria zero;
espetáculo 10. Não merece a bilheteria estressada.
Trata-se de um espetáculo homenageando a
Índia e seus iogues. Um belo espetáculo, as crianças curtem, e os pais
compartilham desse ambiente que homenageia os praticantes de ioga.
Fomos
assistir as aventuras de um menino príncipe que foge de seu castelo.
Liberdade e transcendência, eis a essência da peça. Antonio Tigre, autor do
livro no qual é baseado o espetáculo, teve seus momentos de adaptação e
descoberta, segundo ficamos sabendo no programa de Leda Nagle. Muito jovem,
travou uma batalha contra um problema sério de coluna. Venceu-o através da
postura correta da ioga. Aprendeu como
se sentar sobre os "sitting bones" - os ísquios,
"ossinhos de sentar". E muitas coisas mais, que agora ensina a seus
alunos.
Antonio Tigre protagonizou uma historia
de superação. Agora, autor de livro, professor de ioga e também manipulador de
bonecos (nesta experiência teatral com o Menino Iogue), compositor das músicas
do espetáculo e, em um momento também ator, ele confessa que sempre imaginou
seu livro como um espetáculo teatral. E deu certo. Tudo isso foi conseguido com
a colaboração e direção de Juliana Terra (que também faz a direção de
movimento) e Arlindo Lopes. Junto com Carol Chediak, assistente de direção, os
dois diretores adaptaram o texto para palco. A preparação vocal é da ótima
Soraya Ravenle.
As crianças, na platéia, se empolgam e
orientam, com suas indicações, para onde deve ir o jovem príncipe, em suas andanças. E de quem
ele deve se precaver... para ser bem sucedido. No início, temeroso, lá vai o
príncipe em busca de seu coração. Sim, a peça nos diz que todos os tesouros do
mundo os levamos dentro de nós, no nosso coração: principalmente a felicidade.
Pode-se observar, pela alegria que a peça
transmite, um elenco feliz. Há músicos interpretando os mantras e os ritmos
orientais indianos. E há, no ar, uma imensa satisfação de estar ali. Uma
alegria colorida. Sim. Muita cor.
A ficha técnica é um luxo só. Além dos já
citados, temos o desenho de luz de Paulo Cesar Medeiros. Com a sua competência
habitual, ele transforma ambientes. Os figurinos coloridos - a cada cor uma interpretação do
mundo iogue - são de Beth Passi de Moraes, Joana Passi e Rebeca Dallmaier. Direção musical de Gui Cavalcanti. A criação do espetáculo é exigente, em seus
mínimos detalhes. Às vezes temos a impressão de que eles são em demasia, os
detalhes, mas o mundo oriental é mesmo assim, excessivo em suas manifestações
culturais, religiosas, e em seu feitiço...
Há também o cenário Gabi Windmüller e
Alberta Barros, com seus telões de montanhas (o Himalaia) e nichos de flores
para os músicos. Estes são Luciana Bolina (que também é atriz), no instrumento
de corda, (o Tat Wadya) ; Antonio
Arvindo toca o Ghan Wadya. Temos Guilherme Alves no Susahir Wadya. E
Wilson Jequitiba, Gui Cavalcanti e Grasiela Müller dedilhando e
percutindo instrumentos mais conhecidos do repertório ocidental: tais como o violão, dedilhado por Cavalcanti,
ou a percussão, ativada por Jequitibá;
ou ainda o acordeon de Grasiela Müller.
São tantos os preparativos para este espetáculo
exuberante, que é quase impossível citá-los todos. Há um simpático ratinho (os
bonecos são de confecção de Fernando Gomes): Ananta e Vahana. As indicações de
manejo foram dadas por Alexandre Guimarães, inclusive a do manejo do Menino
Ioge, executado por Alexandre Tigre. Na confecção dos bonecos "Alê" é
acompanhado por Letícia Medella. Viram
só? É um não acabar de preparativos para o grande acontecimento. O pessoal da
ioga está de parabéns.
Há ainda a confecção das máscaras! São
macaquinhos cantando e dançando, fazendo acrobacias e posições de ioga. Uma
demonstração. As máscaras são de Maria Arribasplata. E as perucas de Marcia Elias. O visagismo é
de Gabriel Ramos. A divulgação é feita
pelos de nossos queridos Carlos Gilberto e Fábio Amaral, do Minas de Ideias.
No elenco, composto por (em ordem
alfabética) Antonio Arvind, Antonio Tigre, Grasiela Müller, Gui Cavalcanti,
Guilherme Alves, Luciana Bollina, Orlando Caldeira e Wilson Jequitibá, na sua
maioria, toca também os instrumentos e participa interpretando os bonecos
mascarados.
Destacamos a atriz, e também bailarina,
Luciana Bollina e seu número sobre a "temível serpente venenosa" a
Naja dos indianos, que se manifesta de maneira juvenil e divertida. Também destaque
para o "pássaro azul", de Grasiela Müller. E, claro Alexandre Tigre,
com a sua alegria e bondade aparente.
O caminho do "menino iogue" o
leva para os píncaros do Himalaia, onde medita, procurando o "seu"
pássaro azul. Em cena, na transformação, temos a presença de Antonio Tigre
representando o apogeu do menino iogue, quando ele se transforma em um
rapaz, meditando, transformando-se em um
sabedor da cultura indú: "Ommm..." Parabéns elenco e equipe!
OBS: Raramente esta crítica se dirige ao teatro infantil. Gostaria de
fazê-lo mais, porém o adulto é a prioridade desta coluna.