Maria Adélia em "A Visita da Velha Senhora", de Friedrich Dürrenmatt, direção Silvia Monte. |
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
Em cartaz até o final de julho, "A
Visita da Velha Senhora", de Dürrenmatt, direção Silvia Monte, tradução
Mario da Silva, no Centro Cultural do Poder Judiciario (CCPJ-Rio). Volto ao
assunto para observar como podem os grandes textos ter interpretações as mais
variadas. No caso, e esta é a segunda vez que assisto ao espetáculo, foram para
mim duas diferentes leituras. Na primeira, registro o poder do dinheiro enquanto
corruptor. Nesta segunda, procuro entender a mulher ferida em seu
amor.
Dessa vez, a historia contada por
Dürrenmatt emerge do ponto de vista da jovem Clara. Abandonada por seu primeiro
amor, ela se transforma na vingativa Sra. Zahanassian, viúva de um milionario
que a ensinou a ver o mundo com outros olhos, os da vingança. Magnificamente
interpretada por Maria Adelia (sua atuação é digna de prêmio), a mulher
vingativa deixa transparecer, no derradeiro encontro com o amado Schill que a
recusou quando jovem (o também excelente Marcos Ácher), o seu grande e
frustrado amor. É a cena final entre os dois, e sua carga dramática é
sustentada por recordações que esclarecem e confrontam os dois pontos de vista.
O Sr. Schill sente-se culpado e a Sra. Zahanassian ironiza, com força sutil, o
seu grande e juvenil amor. Podemos nos emocionar, mas também podemos sorrir de
tanto desencanto. E, a seguir, o "extremamente errado" acontece.
Através da motivação da jovem Clara
podemos ver esta peça com outros olhos. Antes, o que nos parecia um
"exagero de maldade" agora se torna compreensível, ainda que não
recomendável... Afinal, podemos dizer que a técnica do autor suíço é a de uma
historia policial, pois os pontos escuros da jovem Clara vão sendo colocados, e
a vingança, esclarecida no final, torna-se suportável.
Dürrenmatt, fiel ao seu ponto de vista
sobre a vida, registra: "um historia não está terminada até que algo tenha
dado extremamente errado", ou algo assim. No caso, o algo
"extremamente errado" pode ter sido o início da historia de Clara -
que resulta no terrível fim do espetáculo. A vingança da jovem Claire é
exemplar. Traduzindo: esta segunda leitura nos faz entender melhor a diabólica
Sra. Claire Zahanassian e seus 10 maridos, sua imensa fortuna, etc, etc, etc.
Sua amargura acaba sendo megalomaniacamente divertida! Dürrenmatt, como podemos
perceber, zomba da sociedade e a despe de toda a caridade hipócrita que ela
ostenta, fazendo-a jogar o jogo da verdade.
O elenco é formado por grandes atores,
além dos acima citados. Registramos o desempenho magnífico de Eduardo Rieche,
como o Professor indignado; Yashar Zambuzzi, o Prefeito e sua ironia; o Páraco
de Paulo Japiassú, e sua hipocrisia. Anita Terrana, uma Sra. Schill que se
modifica, conforme o desenvolvimento de seu poder financeiro. Excelente. Os
filhos interesseiros, interpretados belamente por Laura Nielsen e Antonio
Alves. André Franzi, Pedro Messina e Pedro Lamin têm presenças marcantes. O
elenco é de primeira grandeza, assim como a sua ficha técnica: Cenário de José
Dias e figurinos de Pedro Sayad. Iluminação de Elisa Tandeta e Projeções de JP
Andrade. O espetáculo é um acerto só.
NÃO PERCAM ESTA GRANDE OPORTUNIDADE DE ASSISTIR A UM DE
NOSSOS MAIORES DRAMATURGOS: FRIEDRICH DÜRRENMATT.
Nenhum comentário:
Postar um comentário