Elenco de "Politicamente Incorretos - a Revista do Ano": Cristiano Gualda, Wladimir Pinheiro, Cristiana Pompeo, Ana Velloso, Édio Nunes e Hugo Kerth. Direção Sergio Módena. (Foto Débora Garcia). |
IDA VICENZIA
(da Associação
Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
"POLITICAMENTE INCORRETOS" - A REVISTA DO ANO.
As "Revistas do Ano" de Artur
Azevedo se iniciavam com uma explicação. Por exemplo, em "A Gruta Sombria",
de 1877, o apresentador se dirige ao público: "Nesta gruta sombria é que
se costumam reunir, no dia 31 de dezembro, as calamidades brasileiras", e
as enumera, aparecendo em cena, uma a uma, a Política, a Febre Amarela, o
Beriberi, O Cortiço, a Seca, a Inundação, e por aí vai. Em novembro de 2012, em
boa hora, tivemos uma retomada das revistas do ano (embora o Grupo Tapa já as
tenha apresentado, no passado, e outros grupos também, porém elas apenas rememoravam
Artur Azevedo).
Retomada mesmo tivemos em novembro de 2012,
com "A Revista do Ano - O Olimpo Carioca", idéia e texto de Tânia
Brandão. Passaram-se três anos, e agora vemos o renascer dessa irreverente (e
bem vinda) forma teatral. A idéia desse renascimento foi de Ana Velloso (colaboração
no texto de Vera Novello e Cristiano Gualda, supervisão Tânia Brandão). A
revista começa com a abertura da Copa do Mundo de 2014, e o calamitoso 7X1 que a
seleção brasileira levou da Alemanha. E aí começam todas as desditas brasileiras
e, como uma boa Revista do Ano, não se salva ninguém.
Quem não gosta nem um pouco de linguagem
chula e de verdades cruas atiradas à plateia, sem nenhum pudor, que se mantenha
bem longe do SESC Copacabana, onde tal espetáculo acontece. Mas se você gosta de
ver a nossa historia recente contada de maneira hilária e irreverente, não
perca esta Revista do Ano - onde o "Politicamente Incorreto",
dirigido por Sérgio Módena (o mesmo diretor de "O Olimpo Carioca", com
a mesma linguagem competente), e codireção de Gustavo Wabner; direção musical de
Wladimir Pinheiro. Os figurinos e adereços tão apropriados ao espetáculo são de
Antonio Medeiros (bravo!) e Tatiana Rodrigues. Ambientação cênica de Bia
Godomar, Sergio Módena e Gustavo Wabner. A iluminação, que faz seu jogo
narrativo com perfeição, é de Tiago e Fernanda Mantovani.
Para vocês terem uma idéia, a crítica aos "brasis"
já começa na cena inicial da Revista, com a reclamação dos atores pela
precariedade do espetáculo, e a reprodução da "pífia" abertura da
Copa de Mundo de 2014, no Maracanã. E aí não paramos mais de rir com as
loucuras que o elenco, direção, figurino, músicas, cenografia, iluminação, texto,
apresentam. Os atores se queixam (em cena) que não há verba para reunirem
dezenas deles para subirem ao palco com o "Politicamente Incorreto".
E precisa? Coisa de ator. Eles finalmente "caíram na real" e
perceberam que o negocio é fazer, pois o talento exige, empurra, e a morte é
certa! (Aliás, essa revista não se ocupa com a morte... como a anterior). Os
quadros vão se sucedendo, com sugestões dos
que querem levar "a Revista" adiante, como a cena ingênua inventada
pela personagem de Cristiana Pompeo, que sugere coisas como personagens do
Olimpo chegando ao Rio de Janeiro... (crítica divertida à revista anterior?). Pompeo
é uma atriz tão completa, "canta e encanta" (que coisa óbvia de se
dizer! mas é verdade). A sua cena falando ao celular e oferecendo amendoim e
jujuba à platéia é um espanto... e uma lição!
O espetáculo tem início com o debate
eleitoral de 2014, o "tal" que conhecemos tão bem, de conseqüências tão
desastrosas. E as sequências se desenvolvem com rapidez, graças ao saber fazer
do elenco (e do diretor...). A idéia de Vera Novello, as músicas escolhidas (há
paródias de Ivan Lins, Caymmi, marchinhas de carnaval, e uma em especial para a
Fifa!) Ah, essa gente das Revistas do
Ano!
Não é possível reviver todos os lances. No
debate eleitoral os atores já mostram a que vieram. E eles são excelentes, em
sua paródia aos candidatos. Lembramo-nos de Hugo Kerth fazendo o
"anjinho" do SPDC (ou algo que o valha, as siglas não enganam as
referências). Há grandes momentos para todos, em uma democrática performance
teatral. O que envolve o público é a vivacidade com que as coisas acontecem. Ana
Velloso está leve e solta, em todas as cenas. Ela se deu muito bem fazendo a nordestina
na cena da revista de 2012, e voltou em 2015, interpretando inúmeros personagens,
mas principalmente o seu próprio, de produtora do espetáculo. Ana mostra, nesta
revista, a versatilidade de seu talento. Édio Nunes muitas vezes arrasa em suas
cenas tão espontâneas, como a do sacipererê "psoldiano", muito bom. E
Velloso com o sotaque e a voz de Marina Morena? Só não gostamos da sugestão de
que a candidata "Mamãe Noel" parece que bebe...
Cristiano Gualda consegue colocar seu
talento ultrapassando a sua presença
cênica (o que não deve ser fácil). Escolhido como o rebolativo representante do
carnaval, ou o Super-X, uma hilária crítica ao nosso "Mr. X", o maior
empresário do Brasil. Também a cena da análise da "viciada em manifestações",
tendo Cristiano e Ana em mobilidade constante. Nesta cena surge, "do nada",
o travesti de Gualda. Um acerto só. Como "do nada" surge a madama da platéia,
interpretada por Pompeo. Wladimir Pinheiro tem seus tempos de "ceguinho"
da Escola de Samba, ou ainda o candidato à presidência, repulsivo, que vai
acabar no esgoto, na cloaca; ou o pai revoltado, na cena em que se critica essa
mania da "alimentação politicamente correta". Há também uma cena
muito divertida sobre os viciados em celular - e outros vícios mais!
SE VOCÊS AMAM TEATRO,
NÃO PERCAM A ESTA DEMONSTRAÇÃO DE TALENTO CRÍTICO!
Deve ser uma delícia! Beijos, Ida.
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