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sexta-feira, 17 de julho de 2015

"POLITICAMENTE INCORRETOS" - A REVISTA DO ANO

Elenco de "Politicamente Incorretos - a Revista do Ano": Cristiano Gualda, Wladimir Pinheiro, Cristiana Pompeo, Ana Velloso, Édio Nunes e Hugo Kerth. Direção Sergio Módena. (Foto Débora Garcia).   
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)

"POLITICAMENTE  INCORRETOS" -  A REVISTA DO ANO.

     As "Revistas do Ano" de Artur Azevedo se iniciavam com uma explicação. Por exemplo, em "A Gruta Sombria", de 1877, o apresentador se dirige ao público: "Nesta gruta sombria é que se costumam reunir, no dia 31 de dezembro, as calamidades brasileiras", e as enumera, aparecendo em cena, uma a uma, a Política, a Febre Amarela, o Beriberi, O Cortiço, a Seca, a Inundação, e por aí vai. Em novembro de 2012, em boa hora, tivemos uma retomada das revistas do ano (embora o Grupo Tapa já as tenha apresentado, no passado, e outros grupos também, porém elas apenas rememoravam Artur Azevedo).

     Retomada mesmo tivemos em novembro de 2012, com "A Revista do Ano - O Olimpo Carioca", idéia e texto de Tânia Brandão. Passaram-se três anos, e agora vemos o renascer dessa irreverente (e bem vinda) forma teatral. A idéia desse renascimento foi de Ana Velloso (colaboração no texto de Vera Novello e Cristiano Gualda, supervisão Tânia Brandão). A revista começa com a abertura da Copa do Mundo de 2014, e o calamitoso 7X1 que a seleção brasileira levou da Alemanha. E aí começam todas as desditas brasileiras e, como uma boa Revista do Ano, não se salva ninguém.

     Quem não gosta nem um pouco de linguagem chula e de verdades cruas atiradas à plateia, sem nenhum pudor, que se mantenha bem longe do SESC Copacabana, onde tal espetáculo acontece. Mas se você gosta de ver a nossa historia recente contada de maneira hilária e irreverente, não perca esta Revista do Ano - onde o "Politicamente Incorreto", dirigido por Sérgio Módena (o mesmo diretor de "O Olimpo Carioca", com a mesma linguagem competente), e codireção de Gustavo Wabner; direção musical de Wladimir Pinheiro. Os figurinos e adereços tão apropriados ao espetáculo são de Antonio Medeiros (bravo!) e Tatiana Rodrigues. Ambientação cênica de Bia Godomar, Sergio Módena e Gustavo Wabner. A iluminação, que faz seu jogo narrativo com perfeição, é de Tiago e Fernanda Mantovani.

     Para vocês terem uma idéia, a crítica aos "brasis" já começa na cena inicial da Revista, com a reclamação dos atores pela precariedade do espetáculo, e a reprodução da "pífia" abertura da Copa de Mundo de 2014, no Maracanã. E aí não paramos mais de rir com as loucuras que o elenco, direção, figurino, músicas, cenografia, iluminação, texto, apresentam. Os atores se queixam (em cena) que não há verba para reunirem dezenas deles para subirem ao palco com o "Politicamente Incorreto". E precisa? Coisa de ator. Eles finalmente "caíram na real" e perceberam que o negocio é fazer, pois o talento exige, empurra, e a morte é certa! (Aliás, essa revista não se ocupa com a morte... como a anterior). Os quadros vão se sucedendo, com  sugestões dos que querem levar "a Revista" adiante, como a cena ingênua inventada pela personagem de Cristiana Pompeo, que sugere coisas como personagens do Olimpo chegando ao Rio de Janeiro... (crítica divertida à revista anterior?). Pompeo é uma atriz tão completa, "canta e encanta" (que coisa óbvia de se dizer! mas é verdade). A sua cena falando ao celular e oferecendo amendoim e jujuba à platéia é um espanto... e uma lição!

     O espetáculo tem início com o debate eleitoral de 2014, o "tal" que conhecemos tão bem, de conseqüências tão desastrosas. E as sequências se desenvolvem com rapidez, graças ao saber fazer do elenco (e do diretor...). A idéia de Vera Novello, as músicas escolhidas (há paródias de Ivan Lins, Caymmi, marchinhas de carnaval, e uma em especial para a Fifa!)  Ah, essa gente das Revistas do Ano!  

     Não é possível reviver todos os lances. No debate eleitoral os atores já mostram a que vieram. E eles são excelentes, em sua paródia aos candidatos. Lembramo-nos de Hugo Kerth fazendo o "anjinho" do SPDC (ou algo que o valha, as siglas não enganam as referências). Há grandes momentos para todos, em uma democrática performance teatral. O que envolve o público é a vivacidade com que as coisas acontecem. Ana Velloso está leve e solta, em todas as cenas. Ela se deu muito bem fazendo a nordestina na cena da revista de 2012, e voltou em 2015, interpretando inúmeros personagens, mas principalmente o seu próprio, de produtora do espetáculo. Ana mostra, nesta revista, a versatilidade de seu talento. Édio Nunes muitas vezes arrasa em suas cenas tão espontâneas, como a do sacipererê "psoldiano", muito bom. E Velloso com o sotaque e a voz de Marina Morena? Só não gostamos da sugestão de que a candidata "Mamãe Noel" parece que bebe...

     Cristiano Gualda consegue colocar seu talento ultrapassando a sua  presença cênica (o que não deve ser fácil). Escolhido como o rebolativo representante do carnaval, ou o Super-X, uma hilária crítica ao nosso "Mr. X", o maior empresário do Brasil. Também a cena da análise da "viciada em manifestações", tendo Cristiano e Ana em mobilidade constante. Nesta cena surge, "do nada", o travesti de Gualda. Um acerto só. Como "do nada" surge a madama da platéia, interpretada por Pompeo. Wladimir Pinheiro tem seus tempos de "ceguinho" da Escola de Samba, ou ainda o candidato à presidência, repulsivo, que vai acabar no esgoto, na cloaca; ou o pai revoltado, na cena em que se critica essa mania da "alimentação politicamente correta". Há também uma cena muito divertida sobre os viciados em celular - e outros vícios mais!

SE VOCÊS AMAM TEATRO, NÃO PERCAM A ESTA DEMONSTRAÇÃO DE TALENTO CRÍTICO!

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