IDA VICENZIA
(da Associação
Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
Neste ano em que se festeja uma data
redonda, os 200 anos do nascimento de Martins Pena, nada mais divertido do que
assistir, em sua homenagem, "O Pena Carioca", dirigida por Daniel
Herz, e encenada pela Companhia Atores de Laura. A boa notícia é que o
espetáculo vai permanecer conosco até novembro! Pelo menos, teremos a garantia dessa
delícia que é Martins Pena, contada por atores que parecem marionetes (estamos
começando a ficar fã dessa "maneira Duda Maia" de dirigir
movimentos), unida com o visagismo de Diego Nardes, a personalidade destes atores em cena é de estranhamento: maquiagens circenses,
máscaras teatrais, e movimentos de bichos
da roça, acompanhados por cantos e ruídos de pássaros, dos quais Ana Paula Secco,
em "A Família e a Festa na Roça", introjeta os movimentos. Mas as novidades não param por aí.
Desde "Desgraças de Uma
Criança", montada por Antonio Pedro nos anos 70, não tínhamos visto um Martins
Pena tão original. Na concepção de Herz há um espaço cênico aberto para a imaginação
da plateia, e é neste espaço aberto para o público, onde tudo acontece: os figurinos
estão ali, vigiando a cena e aguardando o seu momento de ganharem vida. Sim,
porque a impressão que temos, ao observar aqueles vultos parados no
claro-escuro, é a de que são personagens.
E talvez sejam, pois os atores,
revezando-se, vão relembrando os títulos das peças de Martins Pena. Mesmo as não
encenadas, e este é o mistério de Fernando Melo da Costa, transformando, com seus
"achados cênicos", pessoas em "caixilhos de janelas"
utilizados com o próprio corpo (dos atores), para utilização dos
"janeleiros" de província.
São três histórias narradas: a já citada
"A Família e a Festa na Roça", na qual o sotaque lusitano do
fazendeiro Domingos João, interpretado por Anderson Mello, traz em constante "temor"
a sua família. Mas a astúcia, e o descaramento da mulher luso-brasileira, levam
sempre a melhor. Assim temos a Quiteria, filha do fazendeiro, (Gabriela Rosas),
levando o pai com o jeitinho que a brasileira aprendeu com a lusitana, que
aprendeu com a moura... que aprendeu.... Principalmente a mulher carioca! Há o
Pau D'Alho (Marcio Fonseca), que pelo apelido deve ter um cheiro insuportável.
Ele é um dos prometidos da bela Quiteria, que se apavora só ao pensar em casar
com ele e ficar longe do Juca, o Estudante de Medicina (Luiz André Alvim), dono
do seu coração. E por aí vai. Essa passagem, em particular, parece um
"acertar de contas" como em Shakespeare ou Molière, com os seus
"tudo está bem quando acaba bem". Aliás, não há descontentes, nestas
histórias de Martins Pena.
Os atores não lhe ficam atrás. Seria
redundante falar sobre o desempenho de Paulo Hamilton, já nosso conhecido de
"Beatriz", mas a sua interpretação de Dona Angelica, a Curandeira, é
de uma desfaçatez contaminante, conseguindo a adesão do público. Aliás, nestas
três peças há lugar para todos. Grande sabedoria do autor, que não perde uma de
suas personagens, todas tendo o seu grande momento de atuação. O ambicioso
Caixeiro Manuel, de Hamilton, em "O Caixeiro da Taverna", ou a viúva Pereira,
de Ana Paulo Secco, ou ainda o sargento Quintino (Leandro Castilho), que
resfolega qual cão raivoso sempre que os pretendentes de sua irmã Deolinda (Gabriela
Rosas), se aproximam. É tudo muito divertido.
Não sabemos qual das três historias é mais
alegre, mas descarada. O "Judas em Sábado de Aleluia" traz a
namoradeira Maricota (outra boa interpretação de Ana Paulo Secco, mostrando a
sua veia cômica), em conflito com a boa Chiquinha, interpretada com acerto por
Gabriela Rosas. O elenco é tão bom que a crítica não consegue encontrar uma
falha! Momentos assim deviam fazer as pessoas compartilharem o teatro como uma
extensão de suas vidas. O que ocorreu, naquele último dia da apresentação de "O
Pena Carioca" no Teatro Poeira, é uma afirmativa do que se está colocando
em questão: o teatro está mais vivo do que nunca, e aquela platéia lotada de jovens
e não tão jovens, em busca do grande momento teatral - não saíram decepcionados.
Teatro e alegria singela estão de mãos dadas neste espetáculo - mas sem
esquecer a crítica mordaz à natureza falível dos homens - dos humanos - no que
se refere à honestidade e aos padrões estabelecidos pela sociedade. O texto é
uma tentativa de Martins Pena de colocar a nu a verdadeira alma do brasileiro. E
o consegue, melhor ainda do que a "reverente" encenação dos franceses
em relação ao seu "Molière"...
Guedes - ambos muito bem resolvidos. A programação Visual é de Mauricio Grecco e a assistência de direção de Tiago Herz. Assessoria de Imprensa: Miniemeyer. Fotos: Paula Kossatz. EIS UM AUTOR QUE DEVE SEMPRE SER LEMBRADO. NÃO PERCAM
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