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segunda-feira, 26 de outubro de 2015

"O PENA CARIOCA"


Cenas de "O Pena Carioca", de Martins Pena, direção de Daniel Herz
Na foto, Gabriela Rosas como Quiteria, Paulo Hamilton, "Dona Angelica", a Curandeira e Ana Paula Secco, Dona Joana.
(Fotos de Paula Kossatz) 


IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)

     Neste ano em que se festeja uma data redonda, os 200 anos do nascimento de Martins Pena, nada mais divertido do que assistir, em sua homenagem, "O Pena Carioca", dirigida por Daniel Herz, e encenada pela Companhia Atores de Laura. A boa notícia é que o espetáculo vai permanecer conosco até novembro! Pelo menos, teremos a garantia dessa delícia que é Martins Pena, contada por  atores que parecem marionetes (estamos começando a ficar fã dessa "maneira Duda Maia" de dirigir movimentos), unida com o visagismo de Diego Nardes, a personalidade destes atores em cena é de estranhamento: maquiagens circenses, máscaras teatrais,  e movimentos de bichos da roça, acompanhados por cantos e ruídos de pássaros, dos quais Ana Paula Secco, em "A Família e a Festa na Roça", introjeta os movimentos. Mas  as novidades não param por aí.

     Desde "Desgraças de Uma Criança", montada por Antonio Pedro nos anos 70, não tínhamos visto um Martins Pena tão original. Na concepção de Herz há um espaço cênico aberto para a imaginação da plateia, e é neste espaço aberto para o público, onde tudo acontece: os figurinos estão ali, vigiando a cena e aguardando o seu momento de ganharem vida. Sim, porque a impressão que temos, ao observar aqueles vultos parados no claro-escuro, é a de que são personagens.

     E talvez sejam, pois os atores, revezando-se, vão relembrando os títulos das peças de Martins Pena. Mesmo as não encenadas, e este é o mistério de Fernando Melo da Costa, transformando, com seus "achados cênicos", pessoas em "caixilhos de janelas" utilizados com o próprio corpo (dos atores), para utilização dos "janeleiros" de província.

     São três histórias narradas: a já citada "A Família e a Festa na Roça", na qual o sotaque lusitano do fazendeiro Domingos João, interpretado por Anderson Mello, traz em constante "temor" a sua família. Mas a astúcia, e o descaramento da mulher luso-brasileira, levam sempre a melhor. Assim temos a Quiteria, filha do fazendeiro, (Gabriela Rosas), levando o pai com o jeitinho que a brasileira aprendeu com a lusitana, que aprendeu com a moura... que aprendeu.... Principalmente a mulher carioca! Há o Pau D'Alho (Marcio Fonseca), que pelo apelido deve ter um cheiro insuportável. Ele é um dos prometidos da bela Quiteria, que se apavora só ao pensar em casar com ele e ficar longe do Juca, o Estudante de Medicina (Luiz André Alvim), dono do seu coração. E por aí vai. Essa passagem, em particular, parece um "acertar de contas" como em Shakespeare ou Molière, com os seus "tudo está bem quando acaba bem". Aliás, não há descontentes, nestas histórias de Martins Pena.

     Os atores não lhe ficam atrás. Seria redundante falar sobre o desempenho de Paulo Hamilton, já nosso conhecido de "Beatriz", mas a sua interpretação de Dona Angelica, a Curandeira, é de uma desfaçatez contaminante, conseguindo a adesão do público. Aliás, nestas três peças há lugar para todos. Grande sabedoria do autor, que não perde uma de suas personagens, todas tendo o seu grande momento de atuação. O ambicioso Caixeiro Manuel, de Hamilton, em "O Caixeiro da Taverna", ou a viúva Pereira, de Ana Paulo Secco, ou ainda o sargento Quintino (Leandro Castilho), que resfolega qual cão raivoso sempre que os pretendentes de sua irmã Deolinda (Gabriela Rosas), se aproximam. É tudo muito divertido.      
       
     Não sabemos qual das três historias é mais alegre, mas descarada. O "Judas em Sábado de Aleluia" traz a namoradeira Maricota (outra boa interpretação de Ana Paulo Secco, mostrando a sua veia cômica), em conflito com a boa Chiquinha, interpretada com acerto por Gabriela Rosas. O elenco é tão bom que a crítica não consegue encontrar uma falha! Momentos assim deviam fazer as pessoas compartilharem o teatro como uma extensão de suas vidas. O que ocorreu, naquele último dia da apresentação de "O Pena Carioca" no Teatro Poeira, é uma afirmativa do que se está colocando em questão: o teatro está mais vivo do que nunca, e aquela platéia lotada de jovens e não tão jovens, em busca do grande momento teatral - não saíram decepcionados. Teatro e alegria singela estão de mãos dadas neste espetáculo - mas sem esquecer a crítica mordaz à natureza falível dos homens - dos humanos - no que se refere à honestidade e aos padrões estabelecidos pela sociedade. O texto é uma tentativa de Martins Pena de colocar a nu a verdadeira alma do brasileiro. E o consegue, melhor ainda do que a "reverente" encenação dos franceses em relação ao seu "Molière"...

                          Na ficha técnica temos a iluminação de Aurelio de Simoni e os figurinos de Antonio 
                          Guedes - ambos muito bem resolvidos. A programação Visual é de Mauricio Grecco e a                             assistência de direção de Tiago Herz. Assessoria de Imprensa: Miniemeyer. Fotos: Paula                             Kossatz. EIS UM AUTOR QUE DEVE SEMPRE SER LEMBRADO. NÃO  PERCAM

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